II DOMINGO DE ADVENTO
IL: Bar 5,1-9, II L: Fil 1,4-6.8-11, Ev: Lc 3,1-6
A Liturgia da Palavra, de modo particular o Evangelho, deste Segundo Domingo de Advento convida-nos a preparar o caminho para a Vinda do Senhor, que não é outra coisa se não a preparação do nosso coração.
É experiência comum que o tipo de preparação depende de quem se espera receber e o motivo da visita. Temos visto, no âmbito sócio-político, que quando se espera receber uma alta figura, muita coisa fica retocada. Em algumas partes do mundo as árvores são pintadas até as pedras o são, ruas iluminadas, buracos tapados. Se estivermos no âmbito eclesial, quando se espera receber o Bispo numa paróquia ou comunidade cristã, temos ideia do tipo de preparação. O Conselho paroquial reune-se para acautelar todos os detalhes que esse tipo de visita merece, há ensaios para a liturgia quase todos os dias, até há muito cuidado na escolha dos leitores e a igreja é super-ornamentada. No âmbito familiar, a limpeza e arrumação da casa vão até aos detalhes. Procura-se servir ao hóspede aquilo que ele mais gosta e se havia algum conflito na família visitada é suspenso para poder acolher condignamente a visita.
Quem é o Senhor que vem? É o nosso Salvador, que quer entrar na nossa vida para nos introduzir no seu mundo. É uma visita que vem nos elevar. Que tipo de preparação devemos fazer? É dispor o nosso coração a fim de ele encontrá-lo livre para poder habitar nele, evitando o incidente de Belém, onde não havia lugar para Maria dar à luz ao seu menino, que até veio para nós, e foi terminar no curral, portanto, acolhido pelos animais. E o que é dispor o coração? É tirar dele tudo o que vai contra a natureza de Deus, ou tudo o que é contra o amor ao próximo.
No Evangelho o apelo para a necessidade de preparação é o tema principal, pois João Batista desafia Israel a preparar-se para a iminente intervenção de Deus na história dos homens. Face a isso, o Povo é chamado abandonar caminhos de infidelidade e de autossuficiência e a converter-se a Deus de todo o coração. Este convite dirige-se a nós hoje, pois cenário similar pode ser testemunhado na nossa sociedade, onde temos somente a título de exemplo, a questão de incoerência gritante entre a fé e as obras, a cultura da indiferença perante o sofrimento do próximo e que vê o homem como algo descartável, situações que o Papa Francisco denuncia na Evangelii Gaudium.
Os apelos dos profetas são sempre em beneficio do seu auditório. É assim que os que acolherem esse convite e selarem a sua opção com um mergulho purificador nas águas do rio Jordão, passarão a integrar o novo Israel, a comunidade renovada que espera a chegada do Messias de Deus. O mesmo se diga para nós, quem abrir os ouvidos, e acolher o apelo da palvra de Deus, particularmente neste tempo favorável de Advento, terá a sorte dos que em Israel assim o fizeram.
Na primeira leitura, o profeta Baruc dirige a sua atenção para a cidade de Jerusalém, a cidade deixada em ruínas pelos exércitos de Nabucodonosor, em 586 a.C.; anuncia a sua libertação, a sua restauração definitiva e o regresso do cativeiro dos seus habitantes. Ele anuncia à cidade de Jerusalém, desolada e vestida de viúva, que o tempo da sua tristeza está a terminar: Deus vai reunir os seus filhos, dispersos por terras distantes, e reconduzi-los à sua terra, numa procissão triunfal. Deus, no seu amor infinito, dispõe-se a vir ao encontro do seu Povo, a sarar as suas feridas e a abrir-lhe de novo as portas da esperança.
No dizer de algum biblista, esta página do livro de Baruc é um dos pontos altos da revelação véterotestamentária. Em tempo de advento, convida-nos a deixarmo-nos conduzir pelo Senhor. Ele vem ao nosso encontro para nos levar, através de montanhas e vales aplanados, à cidade onde encontraremos a vida e a paz verdadeiras.
Nós, perante situações de muito sofrimento que nos parecem não terem fim, às vezes somos tentados a cair no desespero e até a pensar que Deus virou-nos as costas, esquecemo-nos que Deus nunca se esquece do seu povo e não o abandona ainda que este às vezes o faça. Nunca retribui à infidelidade do seu povo com infidelidade, como acontece entre os seres humanos. Deus permanece sempre fiel.
Esta primeira leitura, que apresenta a experiência do povo de Israel pode ser de ajuda face aos inúmeros problemas do nosso mundo, a fim de no lugar de sermos fatalistas, alimentar a esperança que o mal não tem a última palavra, algum dia faremos uma experiência diferente, bastando para isso abrir o nosso coração a Deus que vem para nos libertar. E também lembrarmos que muito do sofrimento é causado pelo próprio homem movido pelo seu orgulho desmedido e fechado no seu egoísmo e na sua insensibilidade para com o sofrimento e dificuldades do seu semelhante. Mesmo os desastres naturais, muito deles são também devido ao egoismo do homem, segundo o ensinamento do Papa Francisco na Laudato Si e Laudate Deum. No lugar de nos deixarmos dominar pelos sentimentos pessimistas em relação a Deus, deveriamos pedir que Deus toque o coração de alguns homens para que se convertam e aumente a nossa fé, esperança e amor.
A segunda leitura fala-nos da forma como a comunidade cristã de Filipos espera a vinda do Senhor. Segundo o texto sagrado, os cristãos de Filipos formam uma comunidade entusiasta, generosa, esforçada, empenhada em crescer no amor, disposta a colaborar no anúncio do Evangelho, determinada em dar testemunho de Jesus.
Este espírito da Comunidade de Filipos deve ser inspirador para nós, neste momento de Advento, tempo em que somos convidados a intensificar a preparação do caminho do Senhor, a endireitar as veredas, que não é outra coisa senão o nosso coração, por outras palavra, tempo para sarar as feridas que possamos ter causado no própximo e também para perdoar as eventuais ofensas recebidas.
Dispondo o nosso coração para o Senhor, que está à porta, ele poderá entrar e habitar nele, habitando nele introduzir-nos-á no mundo de Deus, por outras palavras, ele elevar-nos-á ao seu mundo, mundo de amor. Entrando no mundo de Deus, o outro nunca será uma oportunidade para alimentar o meu egoísmo, nem será uma ameaça, mas meu próximo, a quem devo amar como o faço a mim mesmo. Seremos capazes de aumentar os gestos de caridade, a exemplo da comunidade de Filipos, uma comunidade muito generosa que ajudou Paulo na cadeia e Paulo ficou muito reconhecido, porque Deus é amor, ensina S. João e também foi muito enfatizado na Encíclica Deus Caritas est de Bento XVI. No nosso mundo há muita gente a preciasar de uma mão amiga. Gente a sofrer devido a problemas causado pela natureza e outros pelo próprio homem. Só acolhendo condignamente Cristo, no nosso coração, é que poderemos ser capazes de construir um mundo mais fraterno, como apela do Papa Francisco na Fratelli tutti.