XX Domingo do Tempo Comum, Ano B, 18 de Agosto 2024
Leituras: Prov 9,1-6; Salmo 34; Ef 5,15-20; Jo 6,56; Jo 6,51-58
Enquanto, na primeira leitura, o autor do livro dos Provérbios nos fala da Sabedoria oferecendo e convidando-nos a comer o pão e a beber o vinho, “Vinde comer do meu pão e beber do vinho que vos preparei ”, a página do Evangelho é a continuação do discurso de Jesus sobre o pão da vida eterna, onde Jesus afirma: “quem comer deste pão viverá eternamente ”. Este é o pão vivo e vivificante, que comunica a própria vida de Deus. Não se trata de um pão material, que dá apenas o necessário para a vida física, mas de um pão que dá a vida eterna.
Vinde comer do meu pão e beber do vinho que vos preparei
A protagonista do texto do livro dos Provérbios deste Domingo é a Senhora Sabedoria pois, a Sabedoria é personificada: é uma mulher que projeta e atua segundo uma hierarquia de valores e com um objetivo muito claro. É caraterizada por sete verbos: edificar uma casa, erguer ou levantar colunas, abater os animais, preparar o vinho, pôr à mesa, enviar as servas e proclamar. É impressionante a presença do número sete: sete verbos e sete colunas. O número sete é especialmente proeminente e significativo na Bíblia: dos sete dias da Criação aos muitos “sete” do Apocalipse, o número sete conota conceitos como conclusão e perfeição mas também o cumprimento de promessas. As ações da Senhora Sabedoria não só são perfeitas e concluídas como também serão aquelas que simbolizam a realização das promessas messiânicas: comer e beber. De fato Jesus dirá: Este cálice é a nova aliança no meu sangue, que é derramado por vós.
O convite da Senhora Sabedoria consiste em comer e beber: “vinde comer do meu pão e beber do vinho que vos preparei”. Depois de ter preparado uma casa perfeita ela convida para a última ação: comer e beber. A última acção de Deus na criação foi o de descanso e a última acção da Senhora Sabedoria é comer e beber, isto é, alimentar-se, nutrir-se para que se tenha mais vida. E Jesus dá a sua carne para que todos os que a comerem tenham a vida eterna. Portanto o objetivo da Senhora Sabedoria é dar a vida a todos. Ela se preocupa com todos porque manda proclamar “nos pontos mais altos da cidade ” para que todos escutem e se sintam convidados. Ela se preocupa com o caminho e com o destino de todos. O convite da Senhora Sabedoria dirige-se a todos: aos mais insensatos, aos ingénuos e aos inexperientes. O convite se dirige às pessoas que estão longe da arrogância e àquelas que se iludem com o facto de saberem tudo. Estes devem, em primeiro lugar, estar dispostos a deixar a insensatez e a seguir o “caminho da prudência”. Os “simples” são equivalentes aos “pobres” da literatura bíblica: são os pequeninos, os humildes, aqueles que não vivem em moldes de orgulho e autossuficiência e têm sempre um coração aberto a Deus e às suas propostas. “Quem é inexperiente venha por aqui”! Aos ignorantes ela diz: “Vinde comer do meu pão e beber do vinho que vos preparei”. Este é o vinho da Sabedoria, que mostra a maneira correta de viver em união com Deus e de ser bem sucedido na vida.
Podemos dizer que Cristo construiu para si uma casa que é a Igreja com sete colunas que são os sacramentos e um dos sacramentos é a Eucaristia que faz memória a última ceia celebrou a antiga Páscoa com um banquete de carne de cordeiro, misturando vinho, mas depois instituiu uma nova celebração da Páscoa e enviou “as suas servas” para convidar todos os homens: “Vinde, comei o meu pão, bebei o vinho que preparei”. Todos nós somos convidados a comer um pão, que já não é pão, mas o seu Corpo, e a beber um vinho, que já não é vinho, mas o seu Sangue; mas para aceder a este banquete de vida, temos de abandonar a “inexperiência”, que provém do desejo de estar longe de Deus, para nos deixarmos guiar pela sua Sabedoria, que faz a experiência da fidelidade, do amor de Deus: “Deixai a insensatez e vivereis” e seguir o caminho da prudência.
quem comer deste pão viverá eternamente
Na passagem do Evangelho de hoje, Jesus apresenta-se como o pão vivo que desceu do céu e diz: “quem comer deste pão viverá eternamente”. Este é o pão vivo e vivificante, que comunica a própria vida de Deus. Não se trata de um pão material, que dá apenas o necessário para a vida física, mas de um pão que dá a vida eterna. Todos nós desejamos ter a vida eterna, vencer a morte e alcançar a felicidade eterna na união com Deus. Por isso, temos uma necessidade absoluta desse pão vivo e vivificante que é o próprio Jesus. Não se trata apenas de comer a sua carne, mas também de beber o seu sangue: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia. A minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida”. Ao referir-se à sua carne, Jesus quer exprimir o seu ser humano que, ao fazer-se carne, ao fazer-se um de nós, veio dar-nos um exemplo de como viver: ao vê-lo concretamente através dos seus gestos concretos, das suas palavras e da sua maneira concreta e real de viver, somos convidados a tomá-lo como modelo. O seu “sangue”, por outro lado, refere-se à sua paixão e morte e leva-nos a contemplar aquele momento supremo em que ele se entregou, até à última gota de sangue, por amor. A “carne” e o “sangue” resumem uma vida vivida no dom de si, no amor até ao extremo; mostram a realidade da sua incarnação. Ora, é esta realidade que se manifestou em cada passo da vida de Jesus e, de forma radical, na cruz, que ele nos convida a “comer” e a “beber”, isto é, a “interiorizar” a “assimilar” o seu modo de vida. Ele não se apresenta a nós como um espírito sem carne nem ossos, mas como o Verbo de Deus encarnado, que se fez nosso irmão, assumiu a nossa natureza humana, para a transformar num meio de comunicar a vida eterna.
Jesus diz então: “Assim como o Pai, que vive, Me enviou e eu vivo pelo Pai, também aquele que Me come viverá por Mim”. Aqui é nos apresentado o aspecto dinâmico da Eucaristia. Não se trata apenas de uma relação muito profunda com Jesus, mas de uma relação que orienta toda a nossa vida. Toda a vida de Jesus foi orientada para o Pai. Ele viveu verdadeiramente para o Pai. Não procurava a sua própria glória, mas a glória do Pai: não queria fazer a sua própria vontade, mas a vontade do Pai. Do mesmo modo, aquele que recebe a Eucaristia tem uma vida orientada para Jesus. É uma vida que procura fazer a obra de Jesus, procura glorificar Jesus e, através dele, o Pai.
O discípulo missionário, como muito bem disse o Papa Francisco, é aquele que se alimenta do Evangelho e do amor dos irmãos. De facto, “perante o convite de Jesus para nos alimentarmos do seu Corpo e Sangue, podemos sentir a necessidade de discutir e resistir, como fizeram os ouvintes mencionados no Evangelho de hoje. Isto acontece quando nos esforçamos por modelar a nossa existência pela de Jesus, por atuar segundo os seus critérios e não segundo os critérios do mundo. Alimentando-nos deste alimento, podemos entrar em plena sintonia com Cristo, com os seus sentimentos, com o seu comportamento. Isto é tão importante: ir à missa e comungar, porque comungar é receber este Cristo vivo, que nos transforma por dentro e nos prepara para o céu”.