Estamos a passos largos para a celebração da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, momento da sua glorificação. A liturgia da Palavra, de modo particular o Evangelho, deste domingo preparam-nos para esse grande evento de fé. Pois perante o desejo manifestado pelos gregos de querer ver Jesus, este fala da sua hora, a hora da sua glorificação na cruz.
A paixão e crucificação de Jesus são a prova suprema da sua entrega por amor à humanidade. Diziam os antigos sine sanguine nulla redemptio. Alguns povos dizem o bem exige sacrifício. Aquilo que se consegue com suor é de grande valor.
A primeira leitura apresenta-nos a profecia de Jeremias acerca da nova aliança, aliança na qual vivemos hoje, e o espírito de Cristo provê-nos força para dar as nossas vidas como ele deu. O Senhor afirma que vai colocar e escrever no coração do povo a sua lei e será o seu Deus e eles serão o seu povo. A lei a que ele se refere, não é outra lei senão a lei do amor, porque como diz S. João, Deus é amor. Quem não ama não conhece Deus. O seu amor é misericordioso. Ele mesmo afirma que perdoará as iniquidades do povo e não se recordará mais dos sseus pecados. Sem dúvida que para nós os seres humanos, essa estrada é um grande desafio. Porque é comum ouvir ‘posso te perdoar, mas não vou esquecer’.
A segunda leitura nos oferece o exemplo de Jesus, o qual teve uma jornada cheia de dificuldades. Ele foi a frente de nós e conhece as nossas incertezas e medos. Somos convidados a segui-lo, o que implica experimentar o que ele eperimentou. Ele enfrentou dificuldades, mas não vacilou, para não comprometer o projecto de salvação, um projecto de amor. Se ele nos deu um exemplo, é um convite a seguirmos, a enverder pelo caminho de amor.
O evangelho vê a morte de Jesus na cruz, como momento da sua glorificação, prova suprema do amor de Deus. O ser humano alcança a sua meta e cresce para a maturidade somente quando ele é capaz de amar, quando dá a sua vida para os outros. O que para os olhos do mundo é derrota e vergonha para ele é vitória e glória.
É estranho que quando os Gregos manifestaram o desejo de ver Jesus, em vez de ele apresentar-se e com ‘orgulho’ falou da sua hora. Aparentemente, não há concordância. Certamente conhecia o pensamento dos gregos e que tipo de Jesus eles desejavam ver. Aproveitou a ocasião para lhes esclarecer. Nas bodas de Canaã teria dito que ainda não tinha chegado a sua hora, agora afirma que a hora chegou para o Filho do homem ser glorificado. Trata-se, de acordo com alguns biblistas, do momento prestabelecido para a oblsção voluntária da própria vida. A sua elevação na cruz representaria a sua intronização e exaltação à direita de Deus. Quem crer no Crucificado participará nos frutos da salvação. Do seu aniquilamento brotará a vida, a salvação para todo o mundo. A partir do trono real da cruz ele atrairia todos a si. É um esclarecimento aos gregos sobre a sua ideia acerca de Jesus.
A partir da morte voluntária do Filho do homem brota a vida para inteira humanidade. De acordo, ainda com os biblistas, a fecundidade salvífica de Jesus deriva da aceitação do designio divino que colocou a sua glorificação dependente da paixão e morte.
Quem ama a sua vida, a perderá, e quem odeia a sua vida, neste mundo, conserva-la-á para a vida eterna. É um convite a nós, seus discípulos ao caminho das dificuldades, também à renúncia à vida terrena para alcançar aquela eterna. É igualmente um convite para perseverança e firmeza nos compromissos, em todas as circunstâncias. Aliás a grandeza de um ser humano avalia-se como encara e enfrenta as dificuldades, os problemas e perigos. Se ele enfrenta essas inconfortáveis situações com coragem ou vacila.
Jesus é profundamente perturbado no seu espírito, todavia ele se submete plenamente à vontade do Pai para realizar o seu desígnio salvífico, que previa a sua morte na cruz. A sequela de Jesus pressupõe até a renúncia da vida terrena a exemplo do Crucificado.
Com esta reflexão não se pretende enaltecer o sofrimento, mas somente reafirmar a necessidade de o discíplo de Jesus segui-lo fielmente no caminho do amor, porque Deus é amor, o que inclui enfrentar dificuldades até, se necessário, sacrificar a própria vida, como Jesus o fez. Porque no amor não há demais.
No que concerme ao conceito de Deus é amor, o Papa Bento XVI dedicou uma Encíclica a qual intitulou Deus caritas est (Deus é amor) onde ele expõe, e com muita profunidade, o conceito. Convida-se à sua leitura ou releitura e meditação.