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“Deus exaltou a Cristo Jesus, dando-lhe o nome de Senhor” (Fil 2,11)

I Leitura: Is 50,4-7
O trecho que constitui a I leitura deste Domingo é o terceiro dos quatro “Cânticos do Servo de Deus”, presentes na segunda parte do Livro de Isaías, também conhecida como Deutero-Isaías (Is 42,1-8; 49,1-6; 50,4-9; 52,13-53,12). Estes quatro cânticos diferenciam-se da temática que domina o resto do longo Livro de Isaías, sublinhando o prosaico sofrimento do Servo que paradoxalmente, mantém-se fiel e obediente a Deus. No caso concreto do III cântico que lemos hoje, o sofrimento vem descrito com acções como: “ser batido/ser arrancado a barba/ser insultado e cuspido”, ao que se contrapõem atitudes positivas tais como: ter os ouvidos abertos para escutar a palavra para dar alento aos que andam abatidos. A começar do Livro dos Act (8,26-34), a tradição cristã viu na figura do servo de Deus o próprio Cristo.

No contexto litúrgico em que se situa a primeira leitura de hoje, podemos dizer, com clereza que se trata de uma lição sobre o discipulado: discípulo como aquele que abre os ouvidos e escuta a palavra, para testemunhá-la, mesmo em contextos mais adversos, pois a fidelidade de Deus nunca “desilude”(Is 50,4-7).

II leitura: Fil 2,6-11
A II leitura é o excerto da Fil mais conhecida. Ele é um hino antigo que Paulo usa para fins catequéticos a que se propõe. Paulo tinha recebido dos filipenses uma certa quantia em dinheiro, através de Epafrodito, como referido na própria Fil (4,10-20), estando ele na prisão. Neste escrito, além de agradecer a generosidade dos filipenses, convida-lhes a ter os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus (v.5), isto é, que da renúncia às suas honras divinas, fez-se homem, aceitou ser vilipendiado para salvar a humanidade, daí que Deus o exaltou e lhe deu o nome de “Senhor” (vv.10-11). Fica claro, portanto que a verdadeira Exaltação é aquela recebida de Deus pois quem se exalta por conta própria será humilhado e quem se humilha, será exaltado (cfr. Mt 23,12).

Evangelho: Mc 14,1-15,47
A narração da Paixão e Morte de Jesus aparece como uma concretização dramática daquilo que já vem na I e II leituras. O leitor desta derradeira passagem do Evangelho é convidado a contemplar mas também a caminhar com Jesus, desde a Betânia onde uma mulher o unge com perfume de alto preço, dando lugar a um breve debate no qual alguns alegavam que o perfume devia ser vendido para ajudar os pobres, donde Jesus sentencia com a famosa frase “Na verdade, sempre tereis os pobres convosco e, quando quiserdes, podereis fazer-lhes bem” (Mc 14,7), sendo a única passagem bíblica expressa nestes termos. Da Betânia, passa pelo Cenáculo (local da ùltima Ceia), Getsémani (local onde Jesus rezando foi preso pelos soldados), Palácio do Sumo Sacerdote Caifás (onde Jesus foi julgado e condenado pelo Sinédrio), Pretório, passando pelas ruas de Jerusálem até ao Golgota (local da crucifixão), dalí ao túmulo novo, onde foi depositado o corpo de Jesus. Em todo este percurso, Jesus sofre indzíveis ultrajes, incluindo o abandono dos discípulos mais chegados (Mc 14,66-72), o que sublinha mais uma vez a necessidade de estar com Ele e identificar-se com Ele também neste “tempo forte e favorável”.

Fica claro então que o “Servo de Deus”, prefigurado na primeira leitura, é o próprio Cristo que como consequência da sua obediência ao Pai aceita sofrer os piores ultrajes (Is 50,6 e Mc 14,65), para a nossa salvação.