Quão notável é que nós, seres humanos de hoje, que através dos nossos brinquedos e realizações nos habituámos a todas as coisas diferentes do nosso tempo e do mundo, às diferentes culturas, crenças, costumes, teorias e opiniões, ainda mais do que aqueles que têm que nos antecederam, gostaríamos de acrescentar que, apesar de tudo isto, tendemos a querer recorrer a um e ao único, sem lugar para o outro, o diferente. Quase como se a exposição constante aos muitos nos tornasse insensíveis e indiferentes ao diferente. Para que acabemos escolhendo e impondo o único, seja cultura, costume, fé, crença e tudo o mais. Você difere de mim? É melhor você mudar para o que eu penso e como faço, caso contrário, dê uma caminhada, amigo.
Ao nosso redor, em todo o mundo, parece ser para isso que estamos a regredir. Mesmo e especialmente dentro da igreja, uma igreja que desde o início deu lar a todo tipo de gente. Basta olhar para as diferentes ordens religiosas e novos movimentos religiosos, uns completamente diferentes dos outros. E pensar que são todos católicos!
O pobre que é “outro” torna-se a personificação do mal e por isso devemos rejeitá-lo e afastar-nos dele. Aqui só recebemos pessoas que se parecem e falam como nós. Depois vamos à missa com as mãos postas com devoção e pedimos “Senhor, tem piedade” e “mea maxima culpa” e juntamo-nos à oração feita ao Pai para que “sejamos reunidos num só pelo Espírito Santo”.
Igualmente notáveis são as diferentes maneiras pelas quais Jesus chamou seus primeiros discípulos. No domingo passado ouvimos no evangelho de João como ele convidou as pessoas a virem ver onde ele morava, e ficaram com ele o dia todo. Tanta consideração, tantas boas maneiras, uma espécie de vocação gentil que lhes deu a oportunidade de examiná-lo, por assim dizer, antes de tomarem uma decisão. No evangelho de hoje não há tempo para boas maneiras. Ele os viu e os chamou: “siga-me”, finalize. Sem tempo de reflexão, nada. Basta vir! E eles fizeram. Apenas o seguiram imediatamente.
Isso se aplica a todos os felizes, os Doze. Cada um foi chamado de maneira única por Jesus, para fazer parte dele. No nosso contexto, posso acrescentar que talvez tenha sido para mostrar aos seus discípulos, 2.000 anos depois, que Deus se relaciona com cada um de nós de uma forma diferente e única. Ele nos convida com gentileza ou nos chama abruptamente, cada um de forma diferente. O meu é diferente do seu e o caminho único não é melhor só porque são diferentes.
Pense bem: não temos apenas um evangelho, mas quatro diferentes. Cada um nos dá uma imagem diferente de Jesus. Cada um coloca a palavra de Deus de maneira diferente em sua boca. Cada um se lembra de coisas diferentes que Jesus fez. E aceitamos todos os quatro! João termina seu evangelho dizendo que Jesus fez muitas coisas “que não estão escritas neste livro” (João 20, 30), porque se todas essas coisas tivessem que ser escritas “nem o mundo inteiro teria lugar para o livros que seriam escritos” (João 21, 25).
Tanto, então, para aprender, tantas coisas diferentes para conhecer já nestes quatro evangelhos e então isso não seria tudo. Então queremos limitar cada pessoa humana a uma pequena e velha convicção e a um único costume e cultura. Como queremos ser pobres em nossas riquezas!
Mas suspeito que tal conversa seja como uma voz que clama no deserto. Não vai mudar muito. Porque nos sentimos seguros naquilo a que todos estamos habituados. E estamos em boa companhia. O profeta Jonas não tinha espaço em seu coração e em sua fé para pessoas diferentes. Então… Em África não fazemos isto e não faremos aquilo. Somos africanos. Terminar! Então, vocês aí, aí está a porta. Somos uma igreja de portas abertas, não? Ok, não, você pode sentar aí, mas não se mexa. Porque as portas estão abertas.
As palavras de Paulo na segunda leitura de hoje são um forte aviso para nós que desperdiçamos tanto com tais atitudes. Ele escreve: “Irmãos, o nosso tempo está se esgotando… o mundo como o conhecemos está passando” (1 Coríntios 7, 29 e 31).
Quão profundamente chocados não ficaremos quando um dia virmos o Senhor face a face e percebermos que aqueles ao seu redor, “e uma enorme multidão – ninguém poderia contar todas as pessoas! Eles eram de todas as raças, tribos, nações e línguas” (Apocalipse 7, 9), estão todos unidos, sem que suas diferenças os separem. Então perceberemos o quão ricos somos apesar de todas as nossas diferenças.
Que possamos cantar verdadeiramente um cântico novo ao Senhor, como diz a antífona de entrada da missa de hoje do Salmo 95, diferentes como somos uns dos outros, a terra inteira.