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APRENDENDO DOS MAGOS DO ORIENTE

Neste domingo a Igreja celebra a epifania, isto é, a manifestação do Senhor. A passagem do evangelho de Mateus (2,1-12) relata que que alguns magos do Oriente sentiram o desejo profundo de ir visitar o recém-nascido rei dos judeus para adorá-lo. O narrador deste acontecimento parece colocar énfase nalguns verbos que descrevem as acções dos reis magos visando persuadir o leitor a se inspirar nelas. As acções dos magos que merecem a nossa atenção são as seguintes: I) Procurar saber o lugar onde está o menino ( versículo 2); II) Pôr-se a caminho (versículo 9); III) Deixar-se guiar pela estrela (versículo 9); IV) Prostrar-se e adorar o menino (versículo 11) e V) Oferecer presentes (versículo 11). Estas acções são a chave de interpretação e a inspiração para seguirmos o exemplo dos magos na nossa vida cristã. Aliás, é imitando os magos do Oriente que podemos celebrar dignamente o Natal do Senhor.

A primeira acção dos magos é procurar saber onde estava o rei dos judeus que acabava de nascer. Importa notar que no Oriente Antigo os magos eram pessoas que sabiam ler os fenómenos da natureza e interpretar os acontecimentos da história da humanidade. O facto de eles sairem à procura do recém-nascido rei dos judeus revela o seu interesse em testemunhar o novo acontecimento para depois dá-lo a conhecer às suas comunidades. O verbo grego usado para descrever a acção de procurar saber é lego. Este verbo é empregado aqui para indicar que embora os magos fossem sábios, eram humildes, perguntavam, estavam dispostos a aprender dos outros. Portanto, para nós, imitar os magos do Oriente passa por despir-nos do nosso orgulho e abrir o nosso coração e a nossa mente para acolher as capacidades dos outros e para aprender deles.

A segunda acção que vale a pena destacar é o “pôr-se a caminho”: de notar que no Oriente Antigo os sábios não abandonavam tão frequentemente as suas comunidades. Saíam das comunidades só quando tivessem de testemunhar acontecimentos muito importantes para a vida do seu povo. Assim ao sairem das suas aldeias para ir à procura de menino Jesus, os magos do evangelho deste domingo reconhecem a importância do rei dos Judeus para a vida dos seus povos. Daí que ao lermos esta história que nos convida a imitar os reis magos somos ao mesmo tempo chamados a tomar o acontecimento do nascimento de Jesus como algo relevante não apenas para nós como indivíduos, mas também para as nossas familias e comunidades. Perante esta mensagem somos desafiados a apresentar Jesus Cristo como uma pessoa relevante para a sociedade hodierna.

Depois vemos que os magos, num terceiro momemto, se deixam guiar por uma estrela. Vale ter em mente que seguir uma estrela era algo comum para os magos do Oriente. Eles costumavam seguir estrelas com vários propósitos: para reconhecer a localização de uma planta medicinal, para ir ao encontro de um outro mago famoso ou para identifcar lugares onde foi enterrada uma pessoa importante. Do mesmo modo, no nosso texto, os magos se deixam guiar por uma estrela, um elemento quase insignificante, para alcançar um objetivo muito importante, isto é, adorar o rei dos judeus. Portanto, a história dos magos do oriente ensina-nos a prestar atenção àquelas coisas, acontecimentos ou pessoas que embora pareçam insignificantes e desprezíveis, são capazes de nos conduzir a Deus e dar novo rumo à nossa vida. Além disso, é digno de nota o facto de os magos conseguirem chegar ao lugar onde estava o menino graças à sua fidelidade no seguimento da estrela. Isto ensina-nos que se permanecermos firmes no seguimento do Senhor alcançaremos o nosso objetivo de chegar à vida de santidade, perdão, reconciliação, amor e salvação eterna.

Os magos prostram-se e adoram o menino: no Antigo Oriente um mago prostrava-se apenas diante da divindade ou uma pessoa renomada na sociedade. No nosso texto o facto de os magos se prostrarem diante de Jesus denota que reconhecem a sua realeza e divindade. Portanto, o menino recém-nascido não é apenas rei dos judeus mas também o rei e Deus de todos os povos. Nesta ordem de ideias, imitar os magos consiste em abandonar os ídolos para se curvar apenas diante do Messias. Além disso, este gesto dos magos significa também que qualquer povo e nação pode render culto a Deus.

Ofereceram-lhe presentes: mirra, aloé e cassia. Na antiguidade o ato de adoração e apresentação de presentes era feito no templo e outros lugares reservados para o culto e sacrifícios. De facto, o verbo grego usado neste trecho (prosfereo) é o mesmo que a Bíblia usa quando fala dos sacrifícios no templo. Com este gesto dos magos o lugar onde Jesus nasceu torna-se um pequeno templo significando que Deus pode ser adorado em qualquer lugar. Os presentes dos magos representam tudo que temos, daí que cada um de nós pode oferecer a Deus o que tem: a sua vida, o seu coração, problemas, doenças, alegrias, pecados, preocupações, familiares, amigos, etc. A nossa realidade e a do nosso povo são mirra, aloés e cássia, um presente precioso para Deus receber, transformar e santificar.