No dia festivo da Sagrada Família, a Igreja chama a nossa atenção para um facto que poderia passar despercebido: Jesus, o Filho de Deus que se encarnou, precisou de um “ninho” de protecção, a casa de José e de Maria. Foi ali que Jesus encontrou as condições de crescimento integral, pois, segundo São Lucas, ele “crescia em estatura, sabedoria e graça”, isto é, no corpo, na mente e no espírito.
É admirável a colaboração de Maria e de José para a obra da salvação da humanidade. Deus estando no mundo precisou de uma família. Maria, além de lhe doar o abrigo de seu ventre sagrado, deu a Jesus o sangue e o leite, seu carinho e afecto; mas também ensinou o Menino a andar e rezou com ele. José, o justo, foi para Jesus o modelo de pai, viril, passando-lhe um timbre de voz, o ritmo da fala, o balanço no andar. Mais ainda: leu para Jesus a Escritura Sagrada, ensinou-lhe a profissão, proveu o seu pão de cada dia.
A partir disto, tem de nos ocorrer que a família tem um lugar desigual para formar os seus membros nos valores cristãos, culturais e sociais, solidamente edificados na fé. Os pais são os primeiros catequistas dos filhos, de quem aprendem os primeiros passos da fé. E este papel é dos pais (ambos). A educação é uma tarefa que não pode ser relegada só a um dos progenitores é de todos os membros da família, família percebida nos termos da nossa realidade africana, que abrange outros membros além dos país.
Uma vez que a essência e as funções da família se definem, em última análise, pelo amor, e que à família é confiada a missão de guardar, revelar e comunicar o amor, qual reflexo vivo e participação do amor de Deus pela humanidade e do amor de Cristo pela Igreja sua Esposa, é na Sagrada Família, nesta originária “Igreja doméstica”, que todas as famílias devem espelhar-se. Nela, efectivamente, por um misterioso desígnio divino, viveu escondido durante longos anos o Filho de Deus: ela constitui, portanto, o protótipo e o exemplo de todas as famílias cristãs. Maria modelo de mãe, José modelo de pai e Jesus modelo de filho, sempre obediente aos pais.
Em nossos dias, a família tem sido alvo de poderosos ataques do mal, introduzindo no nosso meio alguns estilos de família que não são da vontade de Deus. Primeiro em África a família não são só os pais, em segundo lugar, os pais têm de ser homem e mulher, nos esquemas daquilo que foi concebido pelo Senhor nas origens. Infelizmente nós cristãos temos colaborado com essas agressões contra a família, especialmente quando permitimos que se façam outros modelos de família. Por outra, agredimos a família quando permitimos que o tempo de oração familiar e partilha da Palavra de Deus seja trocado pelas redes sociais e outras formas de diversão e desperdício de tempo precioso. Lembremos de que, quando se desestrutura a família, desestrutura-se uma sociedade. Então conservemos a sacralidade da família e a sua importância na criação de pessoas íntegras e enraizadas nos valores e nas virtudes.
Neste Domingo interroguemo-nos sobre a nossa vida familiar. Rezemos por aqueles que nos são mais próximos e por todas as famílias do mundo. Em casa trabalhemos com amor: fala-se muito de compromisso, mas antes de ser cristão, fora da sua casa, não seria preciso, antes de mais, ser cristão no seu próprio lar?
Por isso mesmo, é um convite inadiável à conversão de nossas famílias, reorientando para Jesus Cristo nossos projectos de vida. Não apenas a família de Nazaré, mas também a nossa é uma “sagrada família”. E não podemos lançar aos porcos aquilo que é sagrado para Deus…
Orai sem cessar: “Eu e minha casa serviremos ao Senhor!” (Josué 24,15b).