Caríssimos irmãos e irmãs!
O advento é um tempo litúrgico particularmente excepcional. Para além de ser breve, nos oferece leituras ricas de conteúdo, simbolismo e imagens fascinantes. A primeira lição que somos convidados a colher do advento é sem dúvidas o simbolismo da sua brevidade. Tal como o Advento que começa e acaba sem nos darmos conta, assim é a nossa vida, que é também um advento. Por isso, não há espaço para perder tempo, porque o tempo é de Deus.
As leituras deste domingo nos apresentam um Deus solícito e fiel, que não abandona o seu povo, como exulta o salmista: «Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor e para sempre proclamarei a sua fidelidade». Desta forma, as leituras nos mergulham no mundo de Deus, onde tudo se torna possível, incluindo aquilo que por natureza é impossível.
A promessa divina, na primeira leitura, e a sua realização no evangelho, constituem o eixo transversal que liga a liturgia da Palavra deste Domingo. O texto do evangelho, tradicionalmente conhecido como a perícope da anunciação, nos apresenta a realização da promessa divina para a salvação da humanidade. A iniciativa é sempre de Deus, mas para a sua realização, é necessária a participação humana. No entanto, nem todos os homens e mulheres de todos os tempos são responsivos às iniciativas de Deus. A história da salvação nos prova que Deus tem especial predileção dos pequenos e humildes (cf. Mt 11,25). De facto, são estes (aqui representados por Maria e Isabel), que mais se dispõem para acolher as propostas de Deus.
Maria é jovem e virgem e Isabel é velha e estéril, dois extremos que paradoxalmente atraem a Deus. No contexto do evangelho deste domingo, a esterilidade pode simbolizar a contingência humana, enquanto que a virgindade pode simbolizar a pequenez. Em todo o caso, o homem é um ser miserável, pequeno e improdutivo, que nada vale enquanto não estiver unido ao seu Criador: «Sem mim nada podeis fazer» (Jo 15,5). Ambas condições constituem um espaço vazio, aberto à potência divina. É neste mesmo espaço vazio onde Deus, no seu tempo, realiza o impossível.
Maria e Isabel tinham compreendido que o tempo era de Deus. Cada uma delas esperou à sua maneira. Maria esperou na sua tenra idade e Isabel até a velhice.
Numa sociedade em que tudo é “Fast”, perdemos o tempo correndo atrás de pirilampos, convencidos que são “luzes” que podem garantir-nos a segurança. Esquecemos que a verdadeira segurança reside em Deus para quem nada é impossível. Que a Luz do Natal nos ajude a reconhecer a nossa contingência e a confiarmos totalmente na sua potência que salva. Como diz Papa Francisco na sua exortação apostólica C’est la Confiance, «É a confiança que nos conduz ao Amor e assim nos liberta do temor; é a confiança que nos ajuda a desviar o olhar de nós mesmos; é a confiança que nos permite colocar nas mãos de Deus aquilo que só Ele pode fazer» (§ 45).