XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM
Estamos nos últimos dez Domingos do Ano Litúrgico e, antes de refletirmos acerca dos novíssimos, a Liturgia nos aponta as atitudes fundamentais e decisivas para fazer parte do Reino de Deus, que Jesus anuncia sobretudo através de parábolas. Depois de mostrar que os caminhos de Deus não são os nossos, no Domingo passado, agora se nos mostra que precisamos de imitar o Filho, que dá alguns passos decisivos e exemplares:-
- Aniquilou-se a si próprio: para Cristo, é em relação a sua condição divina. Para nós, é em relação aos nossos pensamentos, sentimentos, interesses, planos, sonhos, pontos de vista, costumes/hábitos, juízos, preferências, etc… tudo o que pode fechar-nos no nosso ego, não deixando a porta aberta para o Espírito, não nos deixando ver, ouvir e perceber o grito do próximo e nem sequer a voz de Deus. O despojamento nos deve levar a deixar de ser “eu” e ser um com Deus, como era o Filho (“Eu e o Pai somos um só” Jo 10,30).
- Assumiu a condição de servo: uma imagem simbólica desta realidade do Filho é quando ele lava os pés dos discípulos (Jo 13,1-15), embora o serviço de Jesus se desenrola desde a sua infância, até a sua morte e ressurreição. Para nós, se trata de perceber que crescer, avançar na vida, não nos leva a dominar sobre os outros, mas a servi-los, sermos realmente membros de uma igreja ministerial, ou seja, em que todos estamos ao serviço uns dos outros, em comunhão de fraterna caridade (menos títulos e mais amor).
- Humilhou-se ainda mais obedecendo até a morte: humilhar-se… obedecer… não precisamos de comentários, precisamos apenas de tornar vivos em nós estes dois verbos. Aceitar ser como a terra, pisada, cultivada, produzindo abundantes frutos, não para si, mas para os outros. Estar prontos a fazer uma outra vontade, que não a nossa, considerando os outros superiores a nós (Fil 2)…
Entrementes, para seguir estes passos, é necessária uma mudança “original”, quase um segundo baptismo, mas mais profundo. Na verdade, todos nós somos como aquele segundo filho que diz sim à primeira e depois não vai. Demos o nosso sim, no baptismo e nos restantes sacramentos, mas não vivemos o que prometemos. Os Santos continuam a ser uma rara excepção e não a realidade normal da Igreja. Pelo contrário, a humildade, a obediência, o serviço, o despojamento… são espécies raras e em vias de extinção, muitas vezes chegam a ser mesmo espécies desconhecidas, exóticas… que só se encontram no museu da história da Igreja. Por isso, se expande a moda de comungar sem se confessar; não sabemos o que são indulgencias; e se alarga o famoso “mundanismo” de que fala o Papa Francisco.
Graças sejam dadas a Deus que nos dá a graça em Cristo, de podermos rever a nossa atitude e ser então como o primeiro filho, que após o não inicial arrependeu-se e foi.
Deus nos dê a graça do verdadeiro arrependimento, para percebermos o quão estamos nos perdendo, para então voltarmos ao bom caminho e edificarmos uma verdadeira Igreja de Deus. Mas isso exige uma conversão de base, profunda e séria, que só é completa quando damos o primeiro passo do Filho: aniquilar-se/despojar-se… para estarmos então vazios de nós mesmos e cheios de Deus, buscando unicamente e sempre a sua glória.
Bendito seja o Senhor para sempre.
Amen.