XX Domingo do Tempo Comum, 20 de Agosto, 2023
Tema: FÉ HUMILDE, MAS GRANDE (Mateus 15,21-28)
P. José Joaquim, mccj (Moçambique)
Num certo dia, Jesus foi aos lados de Tiro e Sidónia, duas cidades que no Antigo Testamento eram tidas como incrédulas e hostis aos profetas. Uma mulher, descendente dos cananeus, um povo que adorava o deus Baal e a deusa Astarote, resolveu ir ter com Jesus para lhe apresentar o caso da sua filha que era frequentemente atormentada por um demônio. Jesus não lhe respondia uma palavra e até os discípulos pediram-lhe que a mandasse embora. Depois, Jesus tomou a palavra e respondeu dizendo que tinha vindo ao mundo exclusivamente para o povo de Israel. A mulher não ficou desencorajada e pôs-se a gritar com insistência: «Ajudai-me, Senhor». Perante a insistência da mulher, Jesus diz-lhe: «Mulher, é grande a tua fé. Faça-se como desejas». E, a partir daquele momento, a filha dela ficou curada, graças à sua grande fé.
O evangelho deste domingo apresenta-nos o exemplo de uma fé humilde, mas grande. Mas como se manifesta a fé da mulher cananeia? O que ela fez para que Jesus acabasse louvando a sua fé?
1. Ela abandona os seus deuses e confia em Jesus
Esta atitude da mulher cananeia merece destaque pois ela em vez de confiar nos seus deuses, confiou no Messias de Israel. Ela abandonou os deuses da sua religião tradicional para colocar a sua esperança em Jesus. Assim corria o risco de ser marginalizada pelos seus familiares e amaldiçoada pelos sacerdotes do deus Baal, mas, não obstante isso, ela toma a decisão de recorrer a Jesus. A grandeza de fé desta mulher residia na capacidade de abandonar os seus deuses, que eram falsos, para começar a confiar no enviado de Deus, Jesus Cristo.
2. Ela se coloca no lugar da sua filha
A mulher diz a Jesus: “tende piedade de mim porque a minha filha está a ser atormentada pelo demônio.” Ela não diz “tende piedade da minha filha,” mas “tende piedade de mim.” Jesus louva esta capacidade de se colocar no lugar do outro pois a mulher não vivia para si, era sensível e deixava-se tocar pela dor e sofrimento da sua filha. De facto, uma fé grande dá força para carregar a cruz do outro, para sofrer as dores, aflições e enfermidades da outra pessoa, assim como diz Paulo aos Romanos: “Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram” (Ver Rom 12, 15).
3. Ela apresenta a Jesus a situação da sua filha, sem vergonha e sem esconder nada
Esta mulher cananeia, movida pela confiança em Jesus, apresenta a situação da sua filha com muita espontaneidade e franqueza, sem esconder nada. A espontaneidade e franqueza diante de Deus são frutos da fé, isto é, da confiança no poder de Deus que pode fazer do impossível possível, naquele Deus que cuida de nós (Ver 1 Pedro 5, 7). Esta ideia foi bem expressa pelo mesmo Jesus quando disse: “não cai um fio de cabelo da vossa cabeça se Deus não permitir” (Ver Lucas 21, 18).
4. Ela não se desanima perante o aparente desinteresse de Jesus
Num primeiro momento, Jesus não responde ao pedido da mulher, fica calado, mas ela não perde a esperança, continua a confiar na bondade do Senhor. Uma fé grande manifesta-se na capacidade de esperar sempre, mesmo quando a resposta de Deus demora em chegar. O Papa Francisco tem insistido muito na confiança em Deus exortando os cristãos a terem olhos maiores que saibam ver além, especialmente além das aparências, para descobrir a presença de Deus que, com amor humilde, está agindo em nós e na história (Ver Papa Francisco, Discurso antes do Ângelus na Praça de São Pedro, a 13 de Junho de 2021).
5. Ela prostra-se em adoração a Jesus
A mulher cananeia manifesta a sua fé em Jesus caindo aos seus pés e adorando-o. Assim ela mostra que uma verdadeira fé comporta a dimensão da adoração humilde e confiante. Não pode existir fé que não leve a adorar o Senhor. Ao prostrar-se diante de Jesus a mulher cananeia abraça a fé no Deus de Israel. A grandeza da fé desta mulher reside também nesse adorar Jesus, o Messias que era considerado pela gente do seu tempo como um simples pregador carismático (Ver Mateus 13, 55)
6. Ela reconhece que não é digna da graça de Deus
Jesus diz que foi enviado exclusivamente ao povo de Israel e que não pode conceder à mulher cananeia as bênçãos que eram reservadas aos israelitas. Perante estas palavras de Jesus, a mulher responde reconhecendo que era indigna de receber tais bênçãos. Vemos assim que uma fé grande suscita no cristão sentimentos de indignidade, inutilidade e pequenez perante a grandeza do amor de Deus. De facto, esta mulher reconhece que a salvação que o Messias trazia podia ser estendida a outros povos, que não podia ser monopólio de uns poucos, pois como diz Paulo a Tito, a graça de Deus se manifestou trazendo a salvação a todo o ser humano, de todos os tempos, lugares e culturas (ver Tito 2, 11). Aprendamos, portanto, da mulher cananeia, a fé e a confiança na bondade de Deus e comprometamo-nos em fazer que todas as pessoas se salvem em Jesus Cristo, seu amado Filho, sendo anunciadores e testemunhas do Evangelho. É só assim que a nossa fé merecerá reconhecimento diante de Deus, quando Jesus Cristo voltar.