Joy of the Gospel

AFINAL, A FÉ VEM TAMBÉM PELO CONTEMPLAR!

Comentário ao evangelho do dia 9 de Abril, Domingo da ressurreição do Senhor

O Evengelho deste dia fala-nos da ressurreição de Cristo da qual Maria Madalena, o discípulo amado e Simão Pedro são testemunhas. Era domingo de madrugada e Maria Madalena foi ao sepulcro e notou que a pedra da entrada tinha sido removida (em Grego: BLEPEI TON LITON ERMÉNON) (ver versículo 1). O discípulo amado, por sua vez, reparou que as ligaduras permaneciam ali (em Grego: BLEPEI KEIMENA TÀ OTHÓNIA) (ver versículo 5). Também Simão Pedro foi e viu as ligaduras espalhadas (em Grego: THEOREI TÀ OTHÓNIA) (ver versículo 6); por fim, diz o texto, o discípulo amado foi quem contemplou e acreditou (em Grego: EIDEN KAI EPISTEUSEN) (ver versículo 8).

Se prestarmos atenção ao que se diz do discípulo amado, notaremos que ele primeiro reparou nas ligaduras (no versículo 5) e depois contemplou e acreditou (no versículo 8). Fica claro que a fé do discípulo amado é fruto do contemplar. Ele contemplou o acontecimento da ressurreição como um todo, não se deteve nos pormenores (ligaduras espalhadas, pedra removida, tomba vazia). Conseguiu, em poucos instantes, fitar no acontecimento, captar o seu significado para si e para a humanidade. Contemplação vem do termo Grego THEORIA que designa a capacidade de fitar Deus e suas obras no mundo. Perante a grandeza do acontecimento da ressurreição o discípulo amado foi capaz de fitar o ressuscitado com o coração. Eis, portanto, o desafio do cristão na Páscoa: contemplar o acontecimento da ressurreição do Senhor para alimentar a fé, consolidá-la e podá-la para que ela possa dar frutos abundantes na Igreja e na sociedade. Infelizmente, hoje em dia há muitos cristãos cuja fé é estéril, superficial e ancorada no passado, que não consegue interpretar os acontecimentos do tempo presente nem é capaz de transformar a própria vida. A capacidade de contemplar os mistérios do sofrimento, morte e ressurreição de Cristo é condição para ter uma fé sólida e transformadora.

Um cristão que não sabe contemplar, tarde ou cedo, perde a pouca fé que possui. O cristão que não tem tempo para contemplar torna-se superficial nas suas relações com os outros, insensível perante a dor e o sofrimento dos outros e hipócrita no seu comportamento. O cristão que não contempla não consegue permanecer firme na tentação e torna-se presa fácil do demônio. Há muitos sinais da ressurreição de Cristo que deveriam ser contemplados por nós: tais sinais são visíveis nos mártires, naqueles que derramam o seu sangue por Cristo, nos missionários que deixam os seus países para levar o evangelho a outras terras; naqueles que incansavelmente servem a Igreja do Senhor, naqueles que lutam para que o mundo abrace os valores cristãos, visando combater o secularismo e egoísmo e nos enfermos terminais que com fé entregam o seu espírito ao Criador.

Importa notar que Maria Madalena viu a pedra removida, mas não acreditou na ressurreição de Cristo. Também Simão Pedro viu as ligaduras espalhadas no chão, mas não acreditou. A falta de fé de Maria Madalena e de Simão Pedro deveu-se ao fato de que eles apenas viram os sinais da ressurreição, não os contemplaram. Esta é a tentação de muitos cristãos, hoje, a saber, a de ver muitos sinais de Deus sem contemplá-los, ver as obras de Deus, mas sem compreender o seu significado, ver muitos acontecimentos sem deixar-se interpelar por eles. Perante isso, exorta o Papa Francisco, “urge recuperar o carácter de luz que é próprio da fé, pois, quando a sua chama se apaga, todas as outras luzes acabam também por perder o seu vigor” (Papa Francisco, Carta encíclica Lumen Fidei, 4). A luz da fé dissipa as dúvidas, alimenta a esperança, capacita o crente para vencer o Maligno e o leva a iluminar as trevas da humanidade através do anúncio e testemunho da Palavra de Deus. Feliz Páscoa da ressurreição!