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RENASCIDOS DA MISERICÓRDIA DE DEUS PELA RESSURREIÇÃO DE CRISTO

II Domingo da Páscoa

Tema: RENASCIDOS DA MISERICÓRDIA DE DEUS PELA RESSURREIÇÃO DE CRISTO.

Estamos no segundo Domingo da Páscoa, também conhecido por, Domingo da Divina Misericórdia. É, neste domingo onde vamos procurar compreender a relação que há entre a fé do homem e a misericórdia de Deus no projecto de salvação. Porque estas, são duas realidades que podem levantar interrogações, para os que ainda não conseguem compreender que, a fé do homem precisa da intervenção da misericórdia de Deus, para que este possa alcançar a salvação. As interrogações vêm nos seguintes termos: afinal, a salvação do homem não é só fruto da sua fé em Deus? Por que razão, aquele que tem fé , precisa da misericórdia de Deus para ser salvo? E ainda: por que é que Deus “precisa da nossa fé para nos beneficiarmos da Sua misericórdia? Estas interrogações, e, talvez outras, são legítimas e, por isso terão resposta nesta pequena reflexão. Ao longo da nossa reflexão, poderemos ver que, tanto a fé como a misericórdia são indispensáveis para a salvação do homem, porém, importa realçar que, o maior peso, neste processo, recai para a misericórdia de Deus. Vejamos, a princípio, o seguinte:
Primeiro: A iniciativa para a salvação do homem não vem do próprio homem mas de Deus.
Segundo: O homem nada fez de bom para que fosse o motivo para Deus conceber este projecto.
Terceiro: A atitude do homem perante o Filho de Deus, Aquele que o vinha salvar não foi abonatória; pelo contrário, foi tal que, só Deus é que poderia deixar o projecto avançar até ao fim. Se se tratasse de um homem, o projeto seria cancelado imediatamente.
Quarto: A resposta que Deus pede ao homem, como condição para a sua salvação, não tem comparação com a grandiosidade daquilo que Ele fez ao longo da história humana para que este projeto não caísse no esquecimento. A prova disso está em Mt 17,2 onde Jesus diz o seguinte: ” Se tiverem fé do tamanho do grão de mostarda poderão dizer a este monte , vá daqui para lá.”
Quarto: A grandeza e a infinidade de maravilhas que Deus concederá aos que herdarem o Seu reino , não têm paralelismos com o desempenho espiritual do homens perante Ele e O Seu Ungido. A resposta dos homens às propostas de vida apresentadas por Cristo foi muito fraca, porém, Ele aceitou que o homens fossem salvos apesar da insignificância da sua fé.
É, desta forma que, a primeira leitura, tirada de Actos 2,42-42 apresenta-nos uma breve descrição do que foi a primeira comunidade Apostólica. Trata-se, sem dúvidas, da melhor referência da Igreja, em termos de vida comunitária, em toda a sua história; um modelo que todos nós gostaríamos de atingir. Tudo o que aconteceu naquela comunidade, foi possível, porque Deus é misericordioso. Acreditamos que a misericórdia de Deus manifestou-se à eles, ao sabermos que, por intermédio dos Apóstolos Ele operou milagres e prodígios. É sabido que, o poder de operar milagres é uma confirmação, da parte de Deus que, este, através do qual os milagres acontecem, é realmente Seu servo; é uma espécie de cartas credenciais. Mas, se nós passamos em revista àquilo que foi a atitude dos Apóstolos durante a Paixão de Cristo até às Sua ressurreição, chegamos à conclusão que, há aqui, de facto, uma clara manifestação da misericórdia de Deus. E, por quê? Porque Jesus sofreu e morreu, quase abandonado, por aqueles através dos quais, agora, opera milagres. Inclusive Pedro que havia manifestado alguma coragem, não conseguiu resistir em negá-lO. Ora, voltar a depositar confiança naqueles que O haviam deixado só ou acompanhavam-nO de longe, só pode ser uma manifestação de misericórdia. Foi por isso que, Pedro, nesta sua carta, 1Pd 1, 3-9, ao cantar o seu Benedictus diz: “Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo que, na Sua grande misericórdia nos fez renascer pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos.” Pedro, sabia muito bem o que estava a dizer e por quê é que estava a dizer isto. A sua memória mantinha vivas as suas três negações ao Mestre. Nós, enquanto Igreja também sabemos, à partir da nossa relação com Deus e com o irmão, que Pedro tinha razão. A nossa fé é tão insignificante que só pode ser bem sucedida ou levar-nos à salvação, somente com a intervenção da misericórdia de Deus. E, por que é indispensável que manifestemos alguma atitude de fé para que a misericórdia de Deus possa entrar e actuar na nossa vida? Porque um apagão espiritual total, não abre espaço para Deus agir. Deus faz propostas, Ele não Se impõe. Aliás, o milagre da salvação, à semelhança de todos os demais milagres de Deus, não acontece sem a colaboração do beneficiário. Se assim não fosse, todos estaríamos dispensados de fazer quaisquer esforços. Ora, que a fé seja indispensável, apesar da sua insignificância, é uma realidade que, o próprio Pedro deu a entender quando disse: ” Esta herança está reservada nos céus para vós , que pelo poder de Deus sois guardados, mediante a fé para a salvação que se vai revelar nos últimos tempos.” Portanto, nem que seja uma centelha de fé, por ela Deus salvará quem a manifesta.
Na mesma linha, Paulo, em Ef 2, 8-9, insiste ao dizer: ” Salvação pela fé.” Aliás, ele também estava consciente de que fora fruto da misericórdia de Deus, porque apesar de ser perseguidor, era um homem sincero e zeloso. Paulo a respeito deste assunto não se serve, expressamente, do termo misericórdia, ele usa a palavra graça que significa favor, mercê ou benevolência. Diz assim: ” Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus. Não vem das obras para que ninguém se encha de orgulho.” Está claro, neste trecho que Paulo fala da fé como meio através do qual a graça de Deus actua na pessoa. Vejamos que, Paulo foi mais contundente ao fazer referência ao orgulho. De facto, o nosso desempenho diante de Deus e dos irmãos não é suficiente para merecermos uma glória eterna.
O Evangelho de Jo 20, 19-31, é, mais uma vez, uma clarividência da misericórdia de Deus. Porém, importa não colocar de lado que a manifestação da misericórdia de Deus junto dos homens acontece em simultâneo com a manifestação do Seu amor e Sua compreensão. Mesmo nós, nas nossas relações enquanto pessoas, àqueles a quem amamos, facilmente os compreendemos e, por via disso manifestamos, para com eles, a nossa misericórdia. Foi isto o que Jesus fez para com os Seus Apóstolos depois da sua ressurreição. Ele foi ao encontro dos que estavam reunidos e, ainda, com as portas ainda fechadas. Estar com as portas fechadas significava sentir ainda a inércia do medo que haviam sentido durante a paixão do Mestre. Mas mesmo assim Jesus cumpriu o que acompanhamos na Semana Santa; Amou-os até ao fim. Foi este amor e esta misericórdia que levou Jesus a conceder-lhes a paz e a força do Espírito Santo. E para ir mais longe, Jesus não isolou Tomé que se mostrara incrédulo diante do testemunho dos seus irmaos. E para sermos mais completos sobre esta matéria, poderíamos acrescentar ao grupo destes apóstolos, os discípulos de Emaús cujos dizeres indicavam um desapontamento total com relação ao Messias, mas mesmo assim, trouxe-os de volta. Quanto Amor e compreensão da parte do Mestre

Portanto, a liturgia deste Domingo está repleta de uma imensurável grandeza de misericórdia de Deus.

Perguntas para reflexão:
1-Será que, em mim, haverá alguma janela aonde a misericórdia de Deus poderá usar para entrar e actuar na minha vida?
2- Sinto a presença da Misericórdia de Deus no meu dia a dia?
3- O que tenho feito para que a minha fé não esmoreça, gerando assim, um apagão total na minha relação com Deus e com os irmãos?