Introdução
A toxicodependência pelos jovens é hoje um fenómeno visível e generalizado. Muitos jovens estão a morrer devido às drogas. O Papa Francisco descreve a toxicodependência como uma nova forma de escravatura e que as drogas são “uma ferida na nossa sociedade” (Audiência Geral, Praça de São Pedro, 13 de abril de 2016). É um holocausto emergente. Então? Qual é a resposta da Igreja?
Foco desta apresentação
O foco desta apresentação é o abuso de drogas pelos jovens e a resposta pastoral e cuidado da Igreja. O foco na juventude é derivado do desejo de mantermos os jovens na Igreja. Tem-se notado um número crescente de jovens que estão a ser vítimas da toxicodependência. Aqueles jovens que estão a consumir drogas perigosas, quer por consolo ou prazer, saem da igreja e juntam-se a comunidades de toxicodependentes e traficantes onde a dignidade da pessoa humana e os valores morais não têm lugar na vida.
O abuso de drogas como holocausto emergente
O termo emergente refere aqui a algo que está surgindo. Trata-se de uma situação que exige uma ação imediata para proteger os jovens das mortes causadas pela toxicodependência. Neste contexto, a toxicodependência dos jovens está a tornar-se uma espécie de holocausto. O significado comum de holocausto (HaShoah em hebraico) refere-se ao “assassinato sistemático de mais de seis milhões de judeus orquestrado por Adolf Hitler e pelo Partido Nacional Socialista Nazista na Europa durante a Segunda Guerra Mundial. ” (Ala do Holocausto (jewishvirtuallibrary.org) 28 de março de 2023). O abuso de drogas hoje é, por assim dizer, “os campos de concentração” da Alemanha nazi. Os jovens que abusam das drogas são submetidos à prisão por dependência e, em última instância, à morte.
A resposta pastoral e o cuidado da Igreja
A pastoral dos toxicodependentes inspira-se no ensinamento da Igreja. Baseando-se no corpo teológico, a Igreja ensina que o homem foi criado à imagem de Deus (Gn 1, 26-28). O homem participa na vida de Deus e recebe a dignidade humana como dom de Deus (Igreja: Drogas e Toxicodependência, 2001, n.º 216). São Paulo afirma a dignidade do ser humano na sua primeira carta aos Coríntios: «Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no seu corpo. » (1 Cor 6, 19-20). As drogas e o abuso de substâncias destroem a integridade da pessoa humana. A Igreja ensina que, quando Deus olha para o homem, a primeira coisa que vê e ama nele é a sua própria imagem. A imagem de Deus do homem dá-lhe a capacidade de conhecer e amar a Deus, seu Criador (Igreja: Drogas e Toxicodependência, 2001, n.º 218).
As drogas não permitem que uma pessoa faça uma escolha livre baseada em verdadeiros valores humanos. Ao consumir drogas, o homem escapa à realidade da sua existência. São João Paulo II ensina que as drogas escravizam uma pessoa. O Catecismo da Igreja Católica afirma ainda: “O uso de drogas inflige danos muito graves à saúde e à vida humanas. O seu uso, salvo por razões estritamente terapêuticas, constitui uma ofensa grave” (CCC 2291). São João Paulo II reitera ainda: «A toxicodependência e o alcoolismo são contra a vida. Não podemos falar da «liberdade de consumir drogas» ou de «lutar contra as drogas», pois o homem não tem o direito de se prejudicar a si próprio e não pode nem deve abdicar da dignidade pessoal que lhe vem de Deus» (João Paulo II, «Aos participantes na Conferência Internacional sobre a Droga e o Álcool, 23 de novembro de 1991, n. 4).
Por conseguinte, o homem está proibido de se ferir e de se matar e deve, ao mesmo tempo, proteger a vida dos outros. A Igreja exorta todos os homens a compreenderem que as drogas não têm nada a contribuir para o bem-estar da pessoa humana. Nunca darão verdadeira felicidade à pessoa humana criada à imagem de Deus. A verdadeira felicidade encontra-se em Deus.
Uma resposta pastoral sinodal
A Igreja, na sua resposta pastoral e no seu cuidado, deve adotar a abordagem sinodal de não deixar ninguém de fora de ser educado e aconselhado. O evangelho contra o abuso de drogas e álcool deve ser proclamado a todas as pessoas, tanto toxicodependentes como não toxicodependentes. Assim, pessoas de todas as idades, idosos e jovens, homens e mulheres, pessoas de todas as religiões e culturas e todos os povos. A resposta pastoral e o cuidado da Igreja são personalizados. O racional aqui é que o abuso de drogas como outras pandemias como Covid 19 afeta a todos, direta ou indiretamente.
A Igreja age como o Bom Samaritano
A igreja tem que focar especialmente naqueles que já são viciados em drogas e alcoolismo. Podemos compará-los à vítima de ladrões na história do Bom Samaritano (Lucas 10:25-37). Os toxicodependentes são vítimas indefesas. Precisam de terapia e reabilitação. Devem ser acompanhados no caminho para reparar o seu passado e recuperar a sua dignidade de filhos de Deus. Como o Bom Samaritano, a Igreja age com compaixão sem culpar a vítima. Os toxicodependentes representam o corpo desfigurado de Cristo. Precisam de ser transfigurados à imagem de Cristo.
A Igreja age como o Pai Misericordioso
Os toxicodependentes sofrem de estigmaque a sociedade tende a exclur e a evitar. São definidos pelo seu passado. Muitos perderam a carreira e alguns teêm relações familiares rompidas. A Igreja, como o Pai Misericordioso, deve olhar para eles como a ovelha perdida e como o filho pródigo que volta à casa de seu pai (Lucas 15:11-32).
Uma voz de consciência aos barões da droga e traficantes
Barões do tráfico de drogas e traficantes são filhos de Deus que precisam ser convertidos. Como na história de Caim e Abel, precisam de saber que são responsáveis pela perda da vida de seus irmãos e irmãs a quem vendem drogas. Eles são os guardiões de seus irmãos e irmãs. Deus exige: ”Onde está o teu irmão?’ (Gn 4, 9-16). Como Zaqueu no Evangelho, eles devem aprender a viver dentro de suas possibilidades (Lucas 19;1-10).
Uma formação contínua abrangente de todas as idades
A Igreja precisa de conceber formação contínua para todas as idades que abranje extensivamente temas sobre a dignidade humana e o abuso de drogas. As crianças de tenra idade e os jovens devem ser ensinados a importância de respeitar o seu corpo e o dos outros. Esta formação deve ser dada tanto a cristãos e não cristãos.
Inclusão curricular do abuso de drogas e álcool
O currículo escolar do secundário até à Universidade deve incluir temas sobre o abuso de álcool e de drogas. A Igreja, trabalhando em parceria com os Governos e outras organizações cívicas, deve conceber um currículo que tome em conta todos os níveis de aprendizagem.
Educação sobre o abuso de drogas
A Igreja, deve colaborar com o Governo e outras organizações cívicas em programas e workshops para entidades patronais e empregados. Esses programas deverão garantir que as pessoas afetadas pelo stress e por outros problemas não recorram ao consumo de drogas.
Educação entre colegas
A educação entre colegas funciona melhor quando os jovens participam juntos na educação sobre os perigos da toxicodependência.
Conclusão
A igreja não pode ficar calada enquanto este holocausto está ocorrendo. É uma guerra diferente em que a Igreja, os governos e a sociedade civil devem aplicar as suas forças em conjunto. Que a nossa Mãe do Céu interceda por nós.