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CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE O TRÁFICO HUMANO NA FESTA DE S. JOSEPHINE BAKHITA O QUE É O TRÁFICO DE SERES HUMANOS?

É o recrutamento, o transporte, a transferência e o acolhimento de pessoas através do uso de ameaça, da força ou do abuso de poder por uma pessoa que controla a outra. Portanto, é a compra e venda de seres humanos, por diferentes razões erradas.

O TRÁFICO HUMANO PODE ASSUMIR TIPOS E FORMAS DIFERENTES.
Principalmente é para prostituição, exploração sexual, casamento forçado, pornografia, para dança nos clubes, escravidão, trabalhadores domésticos, trabalhadores agrícolas e indústrias de construção, sequestro para colheita de órgãos, crianças recrutadas como soldados e outros vendidos como trabalhadores menores. A maioria das vítimas são raparigas, mulheres e rapazes jovens. Esta é uma realidade nas nossas comunidades, afeta as pessoas mais vulneráveis da sociedade. Trata-se de uma indústria escandalosa. É conhecida como a escravidão moderna. As pessoas são vistas como produtos a serem usados, os seus direitos humanos violados. É um total desrespeito pela dignidade da pessoa humana.

O ENSINO BÍBLICO E A REFLEXÃO SOBRE O TRÁFICO HUMANO
A Bíblia é muito clara; todos somos criados à imagem de Deus, criados por Seu amor. Podemos ver esse amor na pessoa humana, Gn 1, 26. (Façamos um homem à nossa imagem, à nossa semelhança). O tráfico humano afeta a dignidade de cada pessoa, expondo um ser humano a humilhações, degradações e manipulações. É um ato perverso reduzir o ser humano a escravo. O Vaticano II ensina que devemos ser compassivos e amorosos, não sujeitar qualquer ser humano a trabalho forçado. O Vaticano II ensina a não transformar os seres humanos numa ferramenta para obter lucro. «A pessoa humana é chamada a ser operária; o trabalho é uma das características que distinguem os seres humanos das restantes criaturas. A história de José que foi vendido pelos seus irmãos (Gn 37, 12-36), mostra uma dessas fraquezas humanas. É uma história de violência e abuso.
O tráfico humano é um ato maligno, é crime e pecado, que o Papa Francisco chama de “uma ferida aberta no corpo da sociedade, é um flagelo no corpo de Cristo”. Este é um ato vergonhoso e é um momento sombrio em nossas vidas e na vida da Igreja. As pessoas são abusadas e exploradas emocionalmente, psicologicamente, fisicamente, financeiramente e mentalmente.
Os seres humanos têm o direito de mudar para melhorar suas vidas, mas não de serem traficados. É necessário olhar para este tema de forma holística para depois caminharmos juntos e abordar este fenómeno.

RESPOSTAS PASTORAIS AO TRÁFICO HUMANO E PLANO DE AÇÃO
Colocam-se questões sobre o que a Igreja pode fazer em relação a este fenómeno? Deixai que o meu povo seja livre (Is 58:6- 7) Este texto oferece-nos algumas das respostas que podemos dar no nosso plano de ação pastoral. Por exemplo, Isaías diz: liberta os oprimidos, partilha o pão com os famintos, abriga os oprimidos e os sem-abrigo, veste os nus. Estamos muito gratos ao Papa Francisco, que levou este assunto a sério. Apela aos jovens para que não caiam nas mãos dos traficantes.
Façamos o apelo às nossas dioceses, aos gabinetes da Cáritas e a outros departamentos eclesiásticos de ação social, como Justiça e Paz, para que ofereçam programas de sensibilização aos nossos jovens. Isto pode assumir a forma de programas de educação para todas as pessoas nas nossas Igrejas, especialmente nos países mais vulneráveis ou nos países de envio. A Igreja pode usar o seu plano pastoral para proteger os seus jovens, especialmente as jovens e as mulheres. A Igreja tem sido durante muito tempo um abrigo para aqueles que foram traficados. A política de portas abertas deve ser mantida. Deve ser incentivado o apelo à criação de redes com outras organizações sem fins lucrativos e departamentos governamentais. Por exemplo, aqueles que vivem perto das fronteiras nacionais devem trabalhar com as forças de segurança para deter os traficantes antes de estes atravessarem para outro país. A sensibilização das famílias, das escolas, dos clubes e do sector laboral é crucial para pôr termo ao recrutamento.
A Igreja deve usar suas pequenas comunidades cristãs para se envolver com os fiéis para aumentar a conscientização, usando nossas estruturas ou conselhos pastorais para educar a comunidade. Ensinar sobre o mal da corrupção. Também podemos canalizar alguns recursos para os nossos gabinetes que lidam com traficantes de seres humanos. A Igreja pode usufruir de várias redes, por exemplo, a fraternidade jurídica, para oferecer ajuda nos processos judiciais. É preciso conscientizar os empresários para que possam refletir sobre a ética. Temos um papel a desempenhar, proporcionando-lhes os valores nos negócios. As nossas Igrejas e as nossas comunidades não devem comprar produtos fabricados pelas indústrias que utilizam mão de obra escrava e os bens que são baratos precisam de ser abordados. Precisamos de um modelo de economia de comércio justo. Somos capazes de pregar por uma boa condição de trabalho e educar as pessoas para um salário justo. Nós, na Igreja, devemos ser as primeiras pessoas a oferecer bons salários e pagamentos decentes e oferecer-lhes empregos sólidos.
Somos chamados a melhorar a vida das pessoas, caminhando com elas de modo sinodal. A Igreja pode oferecer informações aos jovens antes de partirem dos seus países de origem. Apelamos às famílias para que se tornem melhores pais, protegendo os seus filhos contra os traficantes. Usar os meios de comunicação católicos para falar de práticas valiáveis. As Conferências Episcopais têm trabalhado em conjunto nesta crise humana. Mesmo em cada diocese e paróquia há necessidade de trabalhar em rede. Podemcos colaborar com assistentes sociais, advogados, médicos para tentar deter os traficantes de seres humanos. Podemos chamar pessoas que possam oferecer novas e melhores oportunidades, oferecendo apoio espiritual pelo poder da fé. A Igreja pode assistir em programas de reintegração.
No livro de Gn 4,9, vemos o drama dos dois irmãos Caim mata seu irmão Abel. Então ouvimos o grito de Deus que pergunta: “Caim, onde está o teu irmão?” Não podemos dar-nos ao luxo de olhar para o outro lado. Não sejamos cumplices na indústria do tráfico humano. O papel da Igreja é o de oferecer conforto, libertar e rezar a Santa Josephine Bakhita, que é a Santa venerada pela especial relevância à escravidão e àqueles que são oprimidos e traficados.
Devemos educacar e acabar com a deceção de que o tráfico humano é um negócio legal e parece bom, precisamos de reconhecer esses truques. No dia 8 de fevereiro, o dia escolhido para a festa de Santa Bakhita, levantamo-nos, dizemos não ao tráfico humano, seguindo o modelo de Bakhita. Daremos a conhecer esta realidade do tráfico humano nas nossas sodalidades da Igreja, nos escritórios da Cáritas e falar sobre ela. Podemos oferecer o espaço para as pessoas partilharem suas histórias. A Igreja pode-se erguer e ouvi-las.
Somos chamados a saír e procurar aqueles que foram traficados,(Ezequiel 34:6-11-16). Temos de estender a mão como o bom pastor para nos juntarmos às campanhas de luta contra o tráfico de seres humanos. Temos de oferecer segurança aos vulneráveis e aos oprimidos, temos de abrir os olhos e ver o que se passa nas nossas áreas.
A Igreja tem folhetos com muita informação para ajudar as Igrejas locais. Precisamos de trabalhar com outras Igrejas no treino de pessoal e membros de equipe, na formação sobre os projetos transfronteiriços, para que possamos ter um projeto conjunto e pôr mãos à obra.
A Igreja tem produzido vídeos para ajudar as pessoas a contar suas histórias. A Igreja tem oferecido habilitações de vida e práticas em sua missão. Estas devem continuar cada vez mais.
Os membros da Igreja Católica devem ser o número um a denunciar o tráfico humano na sua própria casa. Se aí houver envolvidos, devem ter uma conversão do coração para se separar do ato maligno e da exigência.

QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS CAUSAS DO TRÁFICO HUMANO?
Existem várias causa, menores e maiores. As pessoas perderam a esperança nos seus governos e no futuro. Os jovens estão desesperados por emprego e não conseguem ver uma vida melhor em seu redor. Para melhorarem as suas condições e por falta de necessidades básicas tornam-se vítimas de traficantes. Traficantes também vivem dos infortúnios alheios, explorando-os.
Há que falar sobre o envolvimento político nos nossos países africanos. A pobreza nas nossas áreas e países faz com que as pessoas queiram escapar. As nossas famílias estão destroçadas, com crianças que acabam por ser vítimas dos agressores e dos consumidores. Há também questões de alterações climáticas, dos sonhos dos jovens. Aos jovens é-lhes prometido alojamento de luxo e pagamento.
Existe uma ignorância generalizada entre os jovens sobre o tráfico humano. Os jovens procuram a riqueza falsa que lhes é prometida. Por vezes, os jovens são rejeitados pelas suas famílias ou comunidades devido à pobreza e saem sem saber o que está no fim da viagem. Sem sistema de apoio das comunidades, expõem-se aos traficantes, amigos falsos que tecem lindas histórias. Essas histórias soam muito irresistíveis e muito atraentes. Há muito aumento do individualismo e das atitudes egocêntricas entre as famílias modernas. Os nossos valores africanos (Ubuntu) desapareceram e foram esquecidos. Os jovens não querem viver num estilo de vida simples. E os nossos governos não têm a paixão de salvaguardar os seus jovens.

O IMPACTO DO TRÁFICO HUMANO.
As pessoas traficadas encontram e enfrentam muitos abusos, corrupção e violação. As jovens são vendidas como esposas, drogadas, algumas acabam em dívida e cativas. É o triste fenómeno do ser humano descartável. Vítimas oprimidas, que por vezes param em países distantes, sem comunicação com as famílias ou com o mundo exterior. Vivem com medo pois não têm passaporte ou documentos. Mantêm-se em silêncio porque temem ser deportados ou presos. Vivem sós, trabalhando longas horas em condições precárias. Sentem-se isolados das famílias, traficados com se fossem mercadoria, usados e descartados. O abuso não é apenas físico; muitos acabam traumatizados pelo abuso emocional, mental e spiritual.

QUE DESAFIOS
Esta indústria esconde-se; os vergonhosos não falam dela. Os seus participantes são invisíveis. As vítimas estão desamparadas, não conseguem escapar facilmente ou saír quando encontram a verdade. Não têm capacidade para se libertarem. Os profissionais de saúde e da polícia não recebem formação para identificar e lidar com vítimas de tráfico humano. A maioria destas pessoas é explorada e não recebe um salário justo pelo seu trabalho.
Rezemos a oração de África, para que Deus abençoe o seu povo, os seus filhos, para poder pôr fim a esta guerra. Que o Senhor acabe com o ódio e conceda a todos nós amor e paz.
O nosso agradecimento aos meios de comunicação, às ONGs e a todos os agentes pastorais da área da IMBISA.

Bispo Joseph Mary Kizito, Diocese de Aliwal, África do Sul, Bispo de Liaison para Migrantes e Refugiados da SACBC.