Joy of the Gospel

A nossa Santidade de vida

VII DOMINGO DO TEMPO COMUM – A
Lv 19, 1-2 1Cor 3,16-23 Mt 5, 38-48

Prezados irmãos e irmãs, paz e bem em Cristo, fonte de Santidade.

A Liturgia da Palavra deste VII Domingo convida-nos a meditar sobre A nossa Santidade de vida. O tema da Santidade percorre as três Leituras que acabamos de Escutar: «[…] sede santos porque Eu, o SENHOR, vosso Deus, sou santo» (Lv 19, 2) (1ª Lt.); « Pois o templo de Deus é Santo, e esse templo sois vós» (1Cor 3, 17) (2ª Lt.); « Portanto, sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste» (Mt 5, 48). A perícope do Evangelho de hoje situa-se no contexto das antíteses que se exprimem nas seguintes fórmulas: «Ouvistes o que foi dito» e «Eu porém digo-vos». São seis antíteses, todavia no texto de hoje encontramos duas: «a lei de talião (Mt 5, 38-42» e «o amor aos inimigos» (Mt 5, 43-48). Para orientar melhor a esta reflexão sobre nossa santidade, vamos partilhar convosco dois apectos fundamentais a ela ligados: A violência e ódio aos inimigos. Para falar da nossa santidade de vida, devemos partir da santidade de Deus, Ele que é santo por natureza: O profeta Isaías, mediante os serafins, proclama a santidade de Deus: «Santo, Santo, Santo, o Senhor do universo!» (Is 6, 2-3). O próprio Deus identifica-se Santo: «[…] Eu, o Senhor, vosso Deus, sou Santo» (Lv 19, 2). Jesus Cristo também proclama a santidade de Deus: «Sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste» (Mt 5,48). Deus é santo e age santamente. Ele criou-nos à sua imagem semelhança: Ele é Santo, criou-nos Santos! (Gn 1, 26-27). Tendo-nos criado santos, Ele quer que permaneçamos santos: «Sede santos, porque Eu sou Santo» (Lv 19, 2). Como se pode ver a nossa santidade deriva da Santidade de Deus.

Prezados irmãos e irmãs, Deus fez-nos santos e quer ver-nos santos e agir como santos.
Partilhemos então os dois aspectos que muitas vezes nos levam agir fora da nossa santidade: Violência (não violência) e odio ao inimigo (amor aos inimigos).

A violência: A lei de talião surge para dar resposta ao problema grave da violência e da vingança que se praticava no seio do povo judeu. Antes da lei de talião, nos costumes primitivos, a vingança tendia a um mal maior do que o que fora feito: «matei um homem porque me feriu e um rapaz porque me pisou (Gn 4, 23). A lei de talião nasce para frenar este tipo de “vingança abusiva”, propondo assim um novo código que impõe um castigo igual ao mal causado. Esta era uma forma de fazer uma “justiça justa”, daí, o «olho por olho e dente por dente». Jesus olhando para esta nova lei – supostamente justa – rejeita-a completamente, pois, ainda permitia a violência e a vingança. Jesus não concorda com nenhum tipo de violência nem de vingança. Ele é pela não violência e pelo perdão! Por isso, alerta os seus discípulos dizendo: «filhos, ouvistes o que foi dito: olho por olho, pagar pela mesma moeda. Isto parece justo, porque tu só devolves o mesmo que te fizeram! Isto não é justiça, é vingança, é violência! Vós não deveis ser assim, deveis dizer não à violência e à vingança. Doravante, vós, meus discípulos, quando alguém vos ofender, ferir ou insultar, procedereis assim: «não fareis resistência ao agressor, não devolveis bofetada a ninguém, dai a quem te pede emprestado». Estes ensinamentos do mestre parecem atitude de um homem fraco, derrotado! Não, o mestre quer ensinar aos seus discípulos que não se deve pagar o mal com o mal. Estas atitudes são a novidade que a fé cristã oferece ao mundo actual. Meus irmãos e minhas irmãs, esta mensagem de Jesus é muito actual! É dirigida a cada um de nós! Infelizmente a violência e a vingança desmedidas dos tempos antigos, estão a reinar nas nossas vidas, nas nossas famílias, nas escolas e nos outros âmbitos sociais. Hoje observamos actos de violência sem precedentes: vemos nas redes sociais, vídeos exibindo adolescentes a esbofetear outros sem motivo justo em plena sala de aulas; mães a matarem filhos porque comeram a comida do pai; filhos a torturarem até a morte os seus próprios pais porque o adivinho – kimbanda acusou-os de feiticeiro. Há um tipo de violência silenciosa que devemos denunciar: o marido que abandona a esposa com os filhos e deixa de sustentar a casa porque a esposa chamou-lhe atenção por causa das sua relações extraconjugais; pais que não sustentam os seus filhos, mas sustentam os sobrinhos; famílias que mandam a viúva para rua depois da morte do marido, deixando-a sem nada, até aquilo que adquiriu com o seu suor; e para justificar a sua violência, acusam-na de feiticeira, causadora da morte do marido; a violência nas nossas instituições públicas: a burocracia desnecessária até para assinar um simples documento: pessoas há que perderam uma oportunidade de emprego porque o chefinho não assinou tal documento; a morosidade dos órgãos de justiça por motivos subjectivos. Estes são actos violentos que não derramam sangue, mas ferem profundamente a pessoa, matam a pessoa. Por isso, devemos denunciá-los. Amados irmãos e irmãs, escutemos com fé o nosso mestre e sejamos como Ele. Ele não praticou a violência, nós também não a devemos praticar. Sejamos todos apóstolos da não violência, como Gandhi, Luther King, Mandela que fizeram da não violência a bandeira do seu ser e agir. Mas o maior remedio para tudo isso, é amor, o amor aos inimigos.

O amor aos inimigos: O mandamento novo do amor reside nisto: «amai-vos uns aos outros como eu vos amei» (Jo 13, 34-35); ama o próximo como a ti mesmo. Este amor é um amor sem fronteiras. Jesus, na sua conivência com os judeus, notou que o odio pelos adversários, inimigos ainda era bem radicado neles. Aproveitou esta ocasião para chamar atenção dos discípulos: vós não deveis ser assim: «amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem». Esta chamada de atenção é também dirigida a cada um de nós em particular. Jesus diz-nos hoje: ama os teus inimigos e ore por eles, porque eu também amei os meus inimigos e orei por eles: «Pai perdoa-lhes porque não sabem o que fazem»! (Lc 23, 34). Amemos como Ele amou: ele amou para além dos laços de Sangue, por isso nos disse: se amais os que vos amam que recompensa tereis? O monge L. Manicardi dizia que da santidade de Deus deriva o mandamento do amor ao próximo. Quem não ama o inimigo como a si mesmo, não é filho de Deus, porque Deus é amor, não faz acepção de pessoas; faz cair a chuva sobre os bons e os mãos, derrama o seu amor sobre bons e maus! Infelizmente em muitas situações, nós ainda resistimos ao amor de Deus: temos irmãos que não falam com outros por causa de uma ofensa que sofreu há mais 15 anos! Não são capazes de superar isto com ajuda do Evangelho! Não são capazes de saudar o irmão, nem de estender a mão para abraçar o irmão. Ainda nutre raiva, desejo de vingança, ressentimento e ódio. Não são capazes de perdoar. Esquecem-se desta verdade: o critério ético que orienta o agir humano consiste nisto: Como Deus agiu contigo, age tu do mesmo modo com os outros!(L. Manicardi). Trate o outro como Deus te tratou! Deus te amou, ame também o outro! Deus te perdoa sempre, perdoe também o outro! Se algum irmão não quiser agir deste modo, ainda não se converteu, é um pagão! Tem de se convencer de uma coisa clara: de cristão só tem nome! Devia envergonhar-se de se chamar cristão: é mentiroso! O mais triste é que mesmo nesta situação, vamos comungar! Meu irmão e minha irmã, comungas quem? Se comungar é deixar-se transformar naquele que comungamos? Continuar assim, é buscar o sofrimento. Está provado: quem odeia sofre! Meu irmão, se Deus quer te ver feliz, por que optas por sofrer! Não sofra, abra-te, diz basta ao sofrimento! Aperte no botão perdoar: perdoe, abrace, ame! Amar o inimigo marca a diferença! Faz-nos cristãos. Meus irmãos e minhas irmãs, neste momento cada um de nós deve interrogar-se: como estou? Estou a viver na santidade, lutando contra a violência e a vingança? Eu sou vingativo? Trato os meus irmãos com violência? Tenho algum irmão que odeio e não sou capaz de o saudar ou falar com Ele? O que é que Cristo me pede na minha situação concreta?

Que Maria Santíssima, nossa Boa mãe interceda por nós para que sejamos santos como o nosso Pai do céu é Santo, praticando a não violência, perdoando e amando, sobretudo os inimigos!