Mt 4,1-11
Começamos o tempo da Quaresma lembrando os quarentas dias em que Jesus jejuou no deserto no inicio de sua vida pública. O povo de Israel, libertado da escravidão do Egito, foi tentado em sua peregrinação pelo deserto a caminho da terra prometida. Jesus vence no mesmo lugar onde eles caíram, e nos dá um exemplo de como vencer. Depois do batismo de Jesus, onde ele recebeu o Espírito, Mateus narra o episódio das tentações, antes de iniciar a sua vida pública. As tentações acontecem no deserto, como diz o evangelista: “Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, a fim de ser tentado pelo demónio”. Jesus é conduzido pelo Espírito que desceu sobre ele no batismo e lá, no deserto, é tentado pelo demónio. Duas primeiras tentações são antecipadas pela frase condicional: “se és filho de Deus” e depois vêm as propostas: transformar pedras em pão e lançar-se de cima para baixo. A terceira tentação, o demônio mostra a Jesus reinos e glórias e depois faz a sua proposta enganadora: “tudo isto te darei”. Nas três propostas Jesus responde recorrendo a Palavra de Deus: está escrito.
Jesus encontra-se neste lugar deserto, lugar do despojamento, do esvaziamento, lugar onde as nossas necessidades são testadas ao extremo. Um lugar onde falta água, alimento, conforto. É neste lugar e momento dos limites máximos da fragilidade humana em que o demónio aproveita-se para fazer suas propostas diabólicas: fazer dos bens materiais a prioridade fundamental da vida, usar os dons de Deus para satisfazer projetos pessoais e fazer do poder e do domínio a prioridade fundamental.
É impressionante como Jesus recusa absolutamente as propostas do demónio e do seu o projeto diabólico. É com a Palavra de Deus que Ele rejeita as propostas do demónio. De fato, diante do projeto diabólico do demónio que inicia com uma frase condicional “se és filho de Deus” portanto “faz isto e aquilo”, Jesus recorre a Palavra de Deus: primeiro diz “está escrito…”, depois num segundo momento insiste dizendo “também está escrito” e enfim, ele diz a razão porque não pode seguir o diabo “… porque está escrito”.
Em todas estas propostas, guiado pelo Espirito e da Palavra de Deus, Jesus decide seguir o projeto de Deus: a sua prioridade, como filho de Deus, é o cumprimento da Palavra, isto é, a vontade de Deus. Por isso insiste dizendo foi escrito: “nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”, “não tentarás o Senhor teu Deus ” e “adoraras o Senhor teu Deus e só a Ele prestarás culto ”. Para cada situação Jesus tinha uma resposta fundada na Palavra de Deus. Ele, como filho de Deus, deixa-se guiar pelo Espírito e pela Palavra de Deus. De fato, como nos recorda são Mateus, no batismo de Jesus, o Espírito tinha descido sobre Jesus e que Deus o tinha apresentado dizendo: “este é o meu filho”. Jesus é consciente de ser filho de Deus e que portanto deve seguir a sua vontade. O mesmo Espírito que tinha descido sobre Ele, é o mesmo que o conduz no deserto e é o mesmo Espírito que o guia nas tentações.
O discípulo missionário deve ter, antes de mais, a consciência da sua filiação divina, isto é, que ele é filho de Deus e deve deixar-se guiar pelo Espírito Santo e pela Palavra de Deus. Como disse o Papa Francisco, o discípulo missionário não dialoga com o diabo, “mas responde às propostas diabolicas do diabo apenas com a Palavra de Deus. Isto ensina-nos que com o diabo não devemos dialogar, só lhe podemos responder com a Palavra de Deus.