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‘Diante do homem estão a vida e a morte: o que ele escolher isso lhe será concedido’ (Sir 15,17)

Partilha da Palavra de Deus do VI Domingo do Tempo Comum

ANO A

I Leitura: Sir 15,16-21(15-20)
A liturgia da palavra deste VI Domingo do Tempo comum/A é atravessada, do início ao fim, pelo tema da sabedoria que, acima de tudo, consiste no temor de Deus. Aliás o Livro do Eclesiástico (Ben Sira ou simplesmente Sirácida, daí a abreviatura Sir), de onde é tirada a primeira leitura tem “o temor de Deus”, como seu tema central com cerca de 56 vezes em que esta expressão ocorre, sabido que temer o Senhor é o mesmo que amá-Lo (cfr. Sir 7,29).

Outro tema caro à literatura sapiencial, de que Sir faz parte, é o tema da liberdade do homem em escolher o bem ou o mal, a vida ou a morte, a água ou o fogo (v. 16), não porque falte poder a Deus (cfr. Sir 15,18) para impedir a pessoa humana de escolher o mal, mas precisamente pela sua grande sabedoria em criar o homem dotado da dignidade e, portanto, da liberdade de fazer escolhas que impactam no rumo da sua vida. A par da liberdade, o Sir convoca o ouvinte a assumir as responsabilidades das suas escolhas, pois Deus a ninguém deu ordem para fazer o mal (v. 20).

II leitura: 1Cor 2,6-10
Para esconjurar as divisões internas na igreja de Corinto, onde alguns chegavam a dizer: “Eu sou de Paulo”, outros “Eu sou de Apolo”, e por aí fora (cfr. 1Cor 1,13), também Paulo se sente na obrigação de falar (em grego “lalein”) da “sabedoria de Deus”, distinta da “sabedoria do mundo” ou “sabedoria secular”. Das 34 vezes em que o verbo grego lalein (falar) ocorre em 1Cor, normalmente é falar inspirado (veja-se cc. 12-14). Portanto, Paulo fala da sabedoria entre os adultos (teleioi), os quais coincidem com aqueles que estão habilitados a conhecer as coisas que são comunicadas pelo Espírito (os “pneumatikoi”). Os teleioi são contrapostos aos “nepioi”, os quais como meninos pequenos não alcançaram o estado de homem adulto (1Cor 3,1; 13,11; 14,20).

Como anteriormente dito, o principio da sabedoria é o temor de Deus, por isso ao crucificarem o Senhor da glória, os príncipes deste mundo mostraram claramente não possuírem a sabedoria de Deus.

Evangelho: Mt 5,17-37
Os primeiros domingos do Tempo comum, oferecem-nos uma leitura continuada do Evangelho segundo S. Mateus.
É neste contexto, como que na explicitação das Bem-aventuranças, a liturgia do VI Domingo do Tempo comum apresenta no longo texto de Mt 5,17-37, Jesus abordando vários temas que poderiam ser resumidas com o seguinte título: “o cumprimento e o aperfeiçoamento da Lei”.

De facto, o jogo de antíteses atravessa todo o texto: já na abertura em Mt 5,17 há uma distância entre a expectativa e a realidade: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os profetas; não vim revogá-los mas levá-los à perfeição”. A diversidade da tradução do verbo grego pleroo que vai desde o significado de “realizar”, passando por “encher plenamente”, “levar à perfeição” ou mesmo “promulgar como vinculante”, mostra a riqueza semântica do termo.
Deste ponto de partida, Jesus mostra a insuficiência do que “foi dito aos antigos”, quiçá muito rica em exigências de ordem externa e material, com essa base propõe exigências radicais que devem levar o homem a converter-se de dentro muito antes de ter “medo” de ser visto ou criticado por terceiros. A título de exemplo, à proibição de matar, Jesus associa outras proibições desde o simples “irritar-se/chamar de imbecil ao irmão/chamar-lhe louco”, cujas consequências sociais e morais são também anunciadas numa espécie de gradação.

Em meio a tantas propostas que a sociedade contemporânea oferece, o cristão é convidado a deixar-se permear pelo Espírito Santo, de modo que procurando viver no temor e no amor de Deus, alcance a vida e a vida em abundância.