I DOMINGO DE ADVENTO
BREVE REFLEXÃO SOBRE AS LEITURAS DO DIA
(Is 2,1-5; Salmo 122; Rom 13,11-14; Mt 24,37-44)
Caríssimos irmãos e irmãs, tenho o privilégio de desejar-vos um bom início do novo ano litúrgico! As leituras deste domingo nos transmitem uma mensagem de alegria e de esperança na perspetiva da vinda do Senhor. Esta vinda que se concretizou aquando da encarnação do Verbo há mais de 2 mil anos, se completará na parusia, ou seja, na segunda vinda do Senhor. O Advento como tempo de espera e de preparação combina estas duas realidades. De um lado, enquanto nos preparamos para receber o menino Jesus no Natal (comemoração da sua primeira vinda), do outro lado, temos presente a iminência da sua vinda definitiva.
A primeira leitura descreve a beleza de um mundo futuro, uma nova era em que tudo será renovado e que todos os povos da terra formarão uma única família governada por Deus. Não haverá luto nem lágrimas porque as armas de guerra serão transformadas em instrumentos de trabalho que permitirão a edificação de uma sociedade mais próspera, harmoniosa e justa, onde cada homem e mulher sentirá o orgulho de pertencer.
Longe de ser uma utopia, a mensagem do profeta Isaías é um convite à conversão. Enquanto esperamos por uma era renovada no mundo escatológico, precisamos de começar a saborear o conforto desde já. E para tal, é preciso trabalhar. Pois, como disse um sábio, «Não se pode fixar o olhar no céu como se a terra não existisse». Em vez de cruzar os braços e esperar que Deus renove o mundo, o autor da primeira leitura convida aos seus interlocutores a arregaçar as mangas e trabalhar no sentido de construir uma sociedade próspera e justa, onde reina a paz e a concórdia. Tal empenho não será possível senão através da mudança de atitude de cada homem e mulher, o que fará com que Deus se torne o único «árbitro e juiz». Aliás, como diz Santo Agostinho, «O Deus que te criou sem ti, não te salvará sem ti». Deus precisa da nossa colaboração para realizar o seu plano salvífico. Pelo que, somos todos convidados a deixar-nos governar pela lei do amor, lei avessa à «devassidão, libertinagem, discórdias e ciúmes», que constituem potenciais atitudes que minam o bem-estar comunitário e promovem senão a guerra e a destruição da fraternidade.
Por sua vez, a segunda leitura e o santo Evangelho, nos exortam à necessidade da vigilância. Se bem que se trate de uma escatologia individual, isto é, o momento em que o Senhor virá buscar cada um por sua vez, o evangelista Mateus não descura aquela coletiva que irá realizar-se na plenitude dos tempos.
Enquanto gozamos da aparente beleza e conforto deste mundo ou choramos a devassidão da sociedade e o desconforto que ela nos impõe, lembremo-nos que tudo isto é provisório. Razão pela qual devemos acordar e preparar-nos para o definitivo. Dum momento a outro, o Senhor virá buscar-nos, cada um por sua vez: «um será tomado e outro deixado». Se bem que vivamos em comunidade, há que lembrar-nos da responsabilidade individual face às obrigações e compromissos. Não se trata de deixar-nos cair nas malhas de um moralismo obsessivo, mas sim de descobrirmos progressivamente a própria identidade através da escuta atenta da Palavra de Deus que também nos ajuda a decifrar os sinais dos tempos. A respeito disso, o Papa Francisco nos diz: «A vida não é sem sentido, não é deixada ao acaso. Não! É um dom que o Senhor nos dá, dizendo-nos: “Descubra quem és, e trabalhe para realizar o sonho que é a tua vida!”» (discurso do Papa no Angelus do III domingo de Advento de 2021). Que neste Advento possamos esperar trabalhando, acompanhados pela graça de Deus.