General

SÍNTESE DA IMBISA SOBRE O PROCESSO SINODAL

INTRODUÇÃO
Foi com muita alegria que a região da IMBISA recebeu a convocatória do Santo Padre, o Papa Francisco, para tomar parte na preparação do Sínodo Ordinário dos Bispos sobre a sinodalidade. O convite foi recebido com entusiasmo. No entanto, alguns estavam pessimistas, cépticos e indiferentes sobre todo o processo questionando se suas vozes chegariam aos ouvidos dos bispos e do Papa. Outros ainda questionaram se a hierarquia estava pronta para ouvir e agir de acordo com seus pontos de vista e preocupações. A maioria das dioceses é em geral rural, com grandes distâncias e infraestrutura viária e de comunicação precária. Isso dificultou que as equipes sinodais chegassem a todos a tempo. Durante o processo sinodal houve o desafio de atingir todos sem discriminação, sacerdotes, religiosos e religiosas, leigos, Cristãos não católicos, Crentes de outras religiões, indiferentes e não crentes, politicos e outros sectores da sociedade. Muitas Igrejas locais fizeram esforços para ir além dos confins da Igreja, que incluíam grupos como prisioneiros, sem-teto e católicos não praticantes e cristãos pertencentes a outras Igrejas. Em algumas Conferências Episcopais há dioceses que conseguiram atingir até os políticos e outras não conseguiram.

De salientar que alguns não puderam comparecer devido a obrigações laborais, sociais ou domésticas. Outros membros não puderam participar do processo sinodal devido à barreira linguística. Devido aos prazos envolvidos, a diversidade da região e os efeitos do Covid (que tiveram grande impacto na Igreja), cada Conferência Episcopal abordou o processo da maneira mais adequada à sua situação. Algumas Conferências traduziram a oração sinodal para as diferentes línguas locais. Como metodologia de trabalho, foram criadas comissões locais constituídas por padres, consagrados e consagradas e os demais fiéis que estiveram à frente dos trabalhos de auscultação até à base incluindo, movimentos eclesiais, associações e comissões, jovens, seminaristas, casas de formação e outras Igrejas cristãs. Com este processo a Região identificou as luzes e as sombras presentes nelas e através delas, assim como as perspectivas e acções para as quais o Espírito as chama.

I. OS COMPANHEIROS DE VIAGEM

Luzes
Entre as luzes no nosso caminhar juntos destacam-se: Consciência de que a Santíssima Trindade é o fundamento do nosso caminhar juntos; Muitas vozes apontaram que nossa caminhada é multifacetada, com companheiros que vêm tanto de dentro da Igreja quanto de fora. Do lado de dentro, co-viajantes são os batizados, os idosos, os doentes, aqueles que compartilham as mesmas opiniões que nós, bem como aqueles com quem rezamos nas Pequenas Comunidades Cristãs. Os líderes comunitários (sociais) são companheiros de viagem vitais. Encontros formais e informais acontecem em níveis regionais, nacionais, interdiocesanos, diocesanos, reitoriais, paroquiais e outros níveis inferiores.

Há uma rica caminhada de unidade fraterna a nível local (comunhão no seio das comunidades e entre elas no contexto paroquial e diocesano) e a nível nacional (comunhão inter-diocesana) feita em conjunto por todas as forças eclesiais (Bispos, sacerdotes, religiosos/as, leigos) de um modo cada vez mais profundo e frutuoso. As Assembleias Pastorais a nível diocesano e nacional são momentos fortes de partilha, programação e avaliação e tem fornecido aos agentes de pastoral e às comunidades cristãs “pistas de orientação” comuns para o exercício das suas funções e missão. A caminhada em conjunto e ida ao encontro dos mais desfavorecidos, como doentes, órfãos, viúvas, presos. Este caminhar juntos abraça ainda a inteira sociedade, em cujas alegrias e dores a Igreja participa, sobretudo nos momentos de calamidades naturais, violências e injustiças que a Igreja sempre procurou denunciar.

Sombras
A Igreja encontra-se inserida num contexto onde as relações continuam a ser fraturadas de muitas maneiras racial, social, religiosa, econômica e politicamente. Há as questões de desagregação familiar, pluralidade, desigualdade radical, direitos humanos, questões de vida, xenofobia, violência, violência dentro e fora da família, violência contra mulheres e crianças, criminalidade geral, declínio nos padrões morais, pobreza e acesso aos serviços básicos. Essas fraturas impactam na Igreja e no modo como a vida cristã é vivida no contexto.

Há um sentido amplo de que a Igreja precisa ser uma família mais acolhedora, especialmente para todas as pessoas que vivenciaram a exclusão. Alguns indivíduos e grupos deixados para trás na jornada incluem os presos, mães e pais solteiros, viúvas e viúvos, os polígamos, indivíduos confinados a casa, cegos, desempregados e jovens e adultos jovens. Outros grupos identificados como deixados para trás são aqueles que pertencem a grupos minoritários como crianças de rua e pessoas com deficiência. Alguns se identificam como aqueles que não pertencem a nenhuma estrutura ou associação estabelecida como uma parte esquecida ou deixada para trás. Algumas vozes também identificaram pessoas que sofrem do que acreditam ser possessão de espíritos, feitiçaria e maldições como negligenciadas ou totalmente rejeitadas por seus líderes. Algumas vozes também identificaram aqueles com orientação sexual diferente como parte do grupo deixado para trás. A maioria das paróquias e instituições católicas não dispõe de disposições para pessoas com deficiência, o que não facilita a sua participação. Os divorciados sentem-se deixados para trás porque a maioria das paróquias não tem programas relevantes que os atendam. Atitudes negativas e preconceitos levam a julgamentos, tratamento injusto e discriminação contra mães solteiras e divorciadas.

Também sentem-se à margem da comunhão eclesial os casais que vivem amancebados ou na união de facto, ou em segundas núpcias, a segunda esposa de um homem polígamo, as mulheres ou homens cujo parceiro não quer saber nada da Igreja Católica; por outro lado são os curandeiros e praticantes da religião tradicional que embora baptizados não encontram acolhimento na comunidade cristã. A nossa pastoral exclui também, de algum modo, os doentes, os surdos-mudos (falta de celebrações eucarísticas com recurso à língua dos sinais), os anciãos, frequentemente acusados de feitiçaria e que não podem deslocar-se à Igreja, as pessoas que vivem nas zonas rurais com poucas vias de acesso. Outros grupos deixados à margem são crianças, adolescentes, jovens (conflitos de gerações entre eles e os adultos), os presos, entre outros. Às vezes, isso acontece pela carência duma língua e linguagem acessíveis,, ou não estão enquadrados em nenhum grupo.

Neste caso, algumas igreja locais reconhecem haver pouca atenção para com os crismados, que são jovens na sua maioria. Como consequência, os fiéis acabam abandonando a fé católica e aderindo a outras seitas e Igrejas. Há sentimento de caminhar juntos, entrentanto, em algumas partes o conflito entre os consagrados escandaliza os leigos. Há também o sentimento de que a igreja não é realmente sinodal, mas se tornou mais centrada no pessoal da igreja, especialmente os ministros. A igreja, segundo está visão, deve incluir também aqueles membros que não são tão ativos, mesmo aqueles que deixaram a igreja devido a várias decepções com os ministros ou outros membros da igreja.

Perspectivas
A Igreja é convidada a revisitar as estruturas sinodais existentes, rever o espírito para viver plenamente a comunhão, alcançar a participação e realizar nossa missão na igreja local. Há necessidade de considerar a criação de conselhos de leigos. Os Conselhos Pastorais são chamados a usar uma abordagem de mesa redonda onde todos possam ser reconhecidos e ouvidos. A formação e reanimação de Pequenas Comunidades Cristãs para que todos se envolvam na vida da Igreja é essencial.

É necessário:

  • Procurar dinâmicas pastorais que levem ao seu crescimento e a uma sociedade melhor; preocupar-se pelos que estão à margem, percorrer o caminho da oração, escuta e diálogo com todos os seus segmentos e com a sociedade em geral e criar estruturas de inclusão para os que não integram grupos ou movimentos, os mais desfavorecidos, material, humana e espiritualmente; as pessoas idosas, viúvas, presas, refugiadas, delinquentes, alcoólatras, prostitutas, homossexuais, famílias divididas, pessoas separadas dos seus parceiros, portadoras de deficiência, pessoas que não têm vez nem voz; grupos com pouca expressão na Igreja.
  • Implementar a evangelização de acolhimento, acompanhamento, catequese, formação abrangente e permanente para todos, vivência comunitária e solidária, despertando o sentido de pertença e de compromisso missionário.
  • Desenvolver o dom de escuta aos outros, respeitando as diferenças num espírito de co-responsabilidade; eliminação de conflitos de gerações,
  • Buscar soluções para casados que vivem separados e para as famílias que vivem maritalmente sobretudo em situação de poligamia e de famílias cuja fé das mulheres é condicionada pelos maridos, estudar a questão de crianças de mães solteiras.
  • Ir ao encontro das pessoas que estão afastadas por causa da poligamia, divórcio. Os divorciados deveriam poder assumir tarefas na comunidade quando a maturidade da fé e o comportamento o permitirem.

II. ESCUTAR

Luzes
No geral os leigos sentem-se escutados a partir dos vários organismos existentes na Igreja. O contributo dos consagratos é integrado nas plataformas ordinárias da Igreja.

Sombras
Muitas vozes expressaram que a falta de ouvir e falar pode ser um sério obstáculo ao diálogo autêntico e a todo o processo de caminhar juntos. Em uma nota positiva, a maioria das pessoas aprecia que, em certa medida, a Igreja ouve informal e formalmente usando corpos e estruturas sinodais canônicas e não canônicas. Ouvir ajuda as pessoas a saberem que pertencem, que são amadas e valorizadas. Alguns partilharam que tiveram experiências ruins de escuta na Igreja. Algumas das pessoas que ocupam posições de poder exercem seu poder com mais frequência sem ouvir especialmente os marginalizados, como mulheres, crianças e jovens.

Perspectivas
O Espírito Santo está nos chamando para ser uma Igreja que escuta e discerne, para ouvir a multidão de vozes que nos falam. Ouvir a voz dos jovens foi frequentemente mencionado e considerado crucial. Devemos também prestar atenção aos pensamentos e ideias da família alargada e dos companheiros de viagem; não-católicos, políticos e não-crentes. Estas são vozes em nossa vizinhança que não podemos evitar para não perdermos os sussurros de Deus através delas! Os clérigos e consagrados, formados e autorizados, deverem ter tempo e horários fixos para a escuta humilde, sendo fiés e acessíveis. Há muitos que não estão na igreja, que precisam de serem escutados, como muitos dos marginalizados física ou socialmente, muitos jovens, que não fazem parte dos circulos paroquiais, os que estão, divorciados, separados civilmente ou recasados etc. Uma Conferência acha que aqueles que têm orientações sexuais diferentes também devem ser ouvidos e a igreja deve discutir seus problemas abertamente. Promover a pastoral de rua (nos meios urbanos) e assegurar uma assistência espiritual de proximidade às famílias, aos movimentos, organismos, associações, e não só.

III – FALAR

Sombras
Várias razões foram expressas por que as pessoas não falam. Elas incluem medo da liderança, especialmente dos padres, e às vezes, uma lealdade e respeito cegos por eles, ignorando as vozes individuais das pessoas, incluindo alguns dos idosos, ameaças sociais, ausência de caixas de sugestões nas paróquias, ausência de reuniões egulares, falta de boas estruturas de liderança para jovens e plataformas para expressar livremente suas preocupações, ambiente hostil nas comunidades, medo de ser discriminado, indisponibilidade de padres, diáconos e bispos para encontrar e ouvir livremente as pessoas, pois a maioria delas se apressa a seus escritórios após celebrações ou programas oficiais, citando razões desculpáveis para sua aparente pressa etc.

Outras razões para não falar que foram observadas incluem medo de vitimização, liderança fraca, discriminação de gênero. ignorância sobre as estruturas formais de comunicação, rigidez das estruturas da igreja e ausência de canais formais de comunicação online. Outro obstáculo para ouvir e falar é a atitude da liderança que recusa a correção dos leigos e é intolerante a pontos de vista divergentes. Ainda não está totalmente ultrapassada a cultura de intimidação, combinada com o controle dos meios e das oportunidades para o exercício da liberdade de expressão, sobretudo nos meios públicos. A isto juntam-se igualmente factores como: Fraca formação humana e cristã, vergonha e medo de represálias, o que leva muitos, em casa, na escola, na Igreja e nos grupos, a não levantar a voz e a omitir a verdade com receio de perder o pão e/ou a vida; “barreiras institucionais” impostas aos leigos, complexo de inferioridade, fruto da condição social, étnica, profissional e estado civil (amigados ou separados); desigualdade de oportunidades. Uma conferência sente a falta de Educação catequética nas escolas.

Perspectivas
Contra as limitações acima expostas, o Espírito impele a Igreja às seguintes acções:
tirar maior e melhor proveito dos meios de comunicação social, fazendo deles o púlpito a partir do qual os agentes de pastoral (bispos, sacerdotes, consagrados e consagradas, evangelistas, catequistas e quantos difundem a mensagem cristã e contribuem para o engrandecimento da Igreja) anunciem e defendam a doutrina social da Igreja, em geral, e a justiça, em particular, com coragem, liberdade, verdade e caridade; Outras sugestões missionárias incluem: crescer na vivência missionaria e na pastoral da visitação; potenciar os grupos bíblicos e fomentar o gosto pela Sagrada Escritura; garantir a todos os membros, na medida do possível, o acesso e formação básica sobre as redes sociais; incentivo na construção e melhoramento das capelas através de aprovação de projectos; inclusão na formação de Padres e Irmãs de habilidades voltadas à sustentabilidade financeira; preocupação por parte da Igreja pelas mudanças climáticas.

É urgente a abrangência dos meios para a evangelização, como por exemplo, a instalação de rádios nas Paróquias e de uma estação televisiva católica para transmitir a Palavra de Deus, a Missa dominical, entre outros programas que ajudem os fiéis que por alguma razão não podem ir à Igreja. Uma conferência sustenta que a Igreja como Arauto da Palavra de Deus. – Os pedidos para que o círculo de pregação seja aberto para permitir que leigos e mulheres preguem. A ideia da Igreja como uma comunidade é importante no contexto da África Austral. Ubuntu é uma filosofia africana que diz que as pessoas existem em comunidade e não isoladas. Somos humanos por causa de nossa interconexão com os outros. Este Ubuntu serve como a base espiritual da sociedade africana. É uma visão unificadora consagrada na máxima zulu ou xhosa muito valorizada, que é “umuntu ngumuntu ngabantu”, ou seja, uma pessoa é uma pessoa através de outras pessoas. Existem princípios do Ubuntu que contêm valores cristãos como comunalidade, respeito, dignidade, valor, humanidade, partilha, justiça social, corresponsabilidade, solidariedade, compaixão, alegria, amor, personalidade, moralidade, conciliação etc. de forma isolada ou individualista. Portanto, a Igreja como comunidade não é estranha à África e à nossa Conferência Episcopal. A experiência litúrgica é importante. Há o desejo de boas liturgias que unam as pessoas e as conectem com o divino. A mesma Conferência, que sente a falta da Educação catequética nas escolas, sugere o regresso das Religiosas para a retomada da Educação catequética.

IV – CELEBRAR

Luzes
A oração ajuda unir o coração, a mente e a alma; portanto, ajuda o cristão a encontrar-se com o seu Deus, consigo mesmo e com os irmãos. Por sua vez, a celebração anima a alma. As Celebrações na Igreja são imensamente apreciadas. Os relatórios sinodais confirmam a centralidade da Eucaristia na vida das comunidades católicas. A escuta comunitária da Palavra de Deus e a participação ativa na celebração da Eucaristia trazem cura, unidade e crescimento na fé.

Muitos expressam a alegria da participação ativa na liturgia vibrante, rica e inculturada. Os leigos apreciam seus papéis na liturgia como leitores, líderes de serviço na ausência de um padre, ministros extraordinários da comunhão, ministros funerários, membros da hospitalidade, animadores, membros do coro e muitas outras responsabilidades litúrgicas. Há, em geral, um esforço deliberado para envolver as crianças e os jovens nas celebrações litúrgicas. São também luzes a aprticipação activa nas peregrinações, nos sacramentos e sacramentais, vivência dos momentos fortes da caminhada litúrgica; e noutras acções litúrgicas ou paralitúrgicas (adoração ao Santíssimo, romarias e procissões, Terço do Rosário da Virgem Maria e Via Sacra).

Sombras
Alguns membros da família católica, como as mães solteiras, sentem-se excluídos na oração e nas celebrações comunitárias, com algumas paróquias que exercem longos períodos de prova injustificáveis sobre essas mulheres. Alguns denunciaram liturgias mal preparadas, homilias pobres e pouca atenção às necessidades e sensibilidades litúrgicas dos jovens, que contribuíram para o êxodo de muitos jovens e jovens da Igreja. Vozes de missões e e comunidades ou capelas remotas expressaram a atenção insuficiente dada a eles por seus pastores devido à distribuição esparsa da população e à infraestrutura viária precária. A pobreza, que é muito prevalente nas áreas rurais, também afeta os serviços prestados pelos padres, que lutam com os recursos. O ministérios de Leitor e Acólito até agora são deixados só para os que se preparam para o Sacerdócio. Os cristãos fazem leituras esporadicamente.

Perspectivas
O Espírito Santo está nos convidando a refletir sobre o fato de que um bom número de seus familiares não recebe a Sagrada Comunhão. Uma abordagem humana, cristã e comum precisa ser implementada urgentemente para abordar a questão desse grupo, como mães solteiras e casamentos polígamos. É necessário que a Igreja preste atenção séria e urgente às pessoas que estão lutando com questões de possessão de espíritos, maldições e feitiçaria.
Formar os agentes de pastoral e os fiéis em geral: sobre a importância do Domingo; na dimensão Eucarística; no ministério de leitores e acólitos; sobre os mistérios da Igreja, a Virgem Maria e os Santos; e dar maior relevância à Palavra de Deus em línguas nacionais; Mais atenção na preparação das homilias, em ordem à edificação da fé dos crentes.

V – CORRESPONSÁVEIS NA MISSÃO

Luzes
As estruturas e programas pastorais que existem no país em nível nacional, interdiocesano e diocesano ajudam a Igreja na região a ser uma família. Comissões, Associações, Presbitério e os organismos religiosos, diocesanos e nacionais desempenham um papel crucial e são belos caminhos para caminharmos juntos.

Sobras
A falta de conhecimento profundo e a escassez de fé substancial reduzem a atuação dos leigos a atividades litúrgicas e algumas outras na igreja. Basicamente, as pessoas se sentem mal equipadas para responder ao chamamento para evangelizar. Alguns ainda mantêm o equívoco de que padres e consagrados têm que fazer tudo enquanto ocupam os bancos de trás. Outros ainda sentem que a igreja os sufoca por não conseguirem expressar plenamente seu potencial. Alguns tendem até a brilhar e se tornar evangelizadores ardentes quando deixam a Igreja Católica. Há um clamor comum pela má qualidade da catequese devido à falta de envolvimento sério dos ordenados no planejamento, direção e supervisão da catequese e à má formação dos catequistas leigos. Os pais também não estão bem preparados para desempenhar seu papel de catequistas familiares. Alguns apontaram a falta de catecismos atualizados que abordem questões modernas que afetam os fiéis.

Infelizmente, sempre que a Igreja desempenha seu papel profético, ela é interpretada como “política”. Mesmo quando a Igreja faria um esforço para dialogar com o Estado sobre questões relativas à condição humana sobre pobreza, dignidade humana e direitos, ela é vista com suspeita. A Igreja, portanto, infelizmente limitou o diálogo nos níveis locais da Igreja, exceto na conferência dos bispos por meio de reuniões formais e informais e cartas pastorais. A liberdade na proclamação do Evangelho é escassa, pois as ameaças de vitimização por líderes políticos pairam sobre as cabeças dos proclamadores. O número de católicos em posições de influência cívica e política está diminuindo. Assim a nossa Igreja muitas das vezes, apresenta-se como uma Igreja silenciosa e com medo de denunciar as injustiças e, por isso, é comum dizer-se que não somos coerentes com a mensagem do Evangelho. As famílias estão gravemente desestruturadas, sem autoridade moral. Parece que o Evangelho ainda não se encarnou devidamente nos fiéis, a conversão é parcial e a identidade cristã não chegou a ser interpretada e canalizada até às medulas do sangue africano.

A falta de metas devidamente estabelecidas, a falta de comunicação e consulta por parte dos sacerdotes e outras autoridades, a falta de responsabilidade são áreas de preocupação. Elementos de clericalismo, faccionalismo, etnia contribuem para a divisão na igreja. Os fiéis perdem o respeito pelos padres e religiosos devido a certos comportamentos impróprios. Alguns divorciados são impedidos de receber sacramentos. Os casamentos

mistos são vistos como um processo complicado. Uma Conferência afirma que alguns sugerem que os diáconos poderiam administrar a unção dos enfermos. Da mesma forma, as mulheres, especialmente irmãs religiosas, poderiam se tornar diaconisas, considerando sua ânsia e envolvimento ativo no ministério da igreja. Além disso, os jovens muitas vezes se sentem ignorados pelos padres e outros líderes, quando levantam a voz. Os jovens ouvem principalmente o quão ruins eles são, quão pobre é sua participação, quão indisciplinados eles são, seu código de vestimenta impróprio. E a falta de programas atraentes e inovadores que emocionem e inspirem os jovens, o sentimento dos jovens de que estão excluídos dos órgãos decisórios da igreja. Em alguns contextos levanta-se pouco envolvimento das crianças nas atividades da igreja, para além das Homilias e sermões que as excluem.

Perspectivas
O Espírito Santo nos chama a crescer na sinodalidade, buscando ativamente os pobres e os grupos e tribos minoritários. Isso pode ser feito por meio de programas pastorais eficazes que atendam diretamente às necessidades desses grupos. Nossos edifícios da igreja devem ser construídos de forma a acomodar pessoas com deficiência e idosos. O Espírito Santo nos chama a estar abertos e receptivos à mudança e à formação permanente. Caminhar juntos implica receptividade à mudança, formação e aprendizado contínuo. O direito canônico precisa ser constantemente atualizado e contextualizado. O Espírito Santo chama a levar um programa bem desenvolvido de formação litúrgica e missionária dos leigos e nos documentos da Igreja, para que possam ser discípulos missionários e participar de forma significativa nas celebrações litúrgicas. Espera-se que os padres se envolvam mais na coordenação da catequese nas missões e nas paróquias.

O Espírito Santo chama a Igreja a um contínuo compromisso e diálogo, tanto reverencial quanto profético com o mundo da política, mesmo em níveis locais. Há também uma grave necessidade de formação de nossos políticos católicos na Doutrina Social da Igreja. O Espírito Santo chama os ordenados e consagrados a se comprometerem novamente na vida e no serviço da Igreja e permanecerem fiéis à sua vocação. Uma Conferência afirma que algumas pessoas até sugeriram que nossos padres deveriam se casar como solução para acabar com os escândalos. A igreja deve ser capaz de fornecer melhor suporte psicoespiritual para as crianças, ajudando-as a enfrentar e crescer, já que as famílias não têm.

VI – DIALOGAR NA IGREJA E NA SOCIEDADE

Luzes
O diálogo interno e com a sociedade, a colaboração com as dioceses irmãs, são favorecidos através de assembleias diocesanas, conselhos pastorais, reuniões de comissões, troca de experiências, partilha de missionários, encontros entre os movimentos, peregrinações diocesanas e inter-diocesanas como meios para promover colaboração entre dioceses vizinhas e entre as comunidades religiosas no mesmo território.

Sombras
Entre as sombras contam-se: relações pouco fraternas entre sacerdotes, consagrados e leigos, nalguns lugares; poucas oportunidades de diálogo nas comunidades e, nalguns casos, entre as comunidades e a sociedade civil e má compreensão da identidade de cada uma das confissões religiosas e seitas presentes no país.

Perspectivas
Sugere-se a existência de salas apropriadas para a escuta e caixas para sugestões e reclamações para mais liberdade.

VII – DIÁLOGO COM AS OUTRAS CONFISSÕES CRISTÃS

Luzes
Foi mencionado que o ecumenismo é de importância crescente. A maioria das igrejas locais expressou experiências positivas de relacionamento saudável e respeitoso com cristãos de diferentes confissões. As áreas-chave em que a igreja local colabora com outras igrejas a nível de base incluem momentos comunitários de funerais, casamentos e calamidades naturais ou outro tipo de problemas que afligem a sociedade.

Sombras
Apesar do que foi dito nos aspectos positivos, há também uma deficiência no diálogo ecuménico, sendo reduzidas em momentos festivos; até certo ponto há divergências e conflitos com algumas confissões religiosas por falta de conhecimento das origens de cada uma e pela má interpretação de passagens das Sagradas Escrituras entre as religiões. Nesta perspectiva, importa sublinhar a falta de respeito, complexo de superioridade e a discórdia de algumas crenças em relação às outras. Finalmente, um dos obstáculos para este caminho sinodal, muitas vezes, é ser ofuscado pelos poderes políticos, económicos e sociais, facto que se verifica na tendência dos partidos políticos de usar as igreja para seus próprios fins. Existem ainda entraves como: acusação contra a Igreja Católica de idolatria (culto às imagens) e de meter-se na política.

Por outro lado há a ideia de que todas as denominações são iguais. Preocupante, no entanto, é a experiência de igrejas e seitas que parecem ter como objetivo degradar e atacar a Igreja Católica e fazer proselitismo, visando os católicos. Notou-se que os católicos são vítimas de todas as novas Igrejas que procuram novos membros. O diálogo com esses grupos tem sido difícil. No lado mais sombrio, alguns indicaram que há discriminação entre os católicos e alguns não-católicos. Em algumas respostas6 foi mencionado que os não católicos não são acolhidos nas Igrejas Católicas, pois não podem receber a comunhão.

Perspectivas
O Espírito Santo convida a Igreja na região a continuar promovendo o diálogo ecumênico e inter-religioso por meio de reflexões teológicas comuns, adoração compartilhada, diálogo e ação sobre justiça social. É importante que todas as paróquias e instituições católicas abracem o ecumenismo sem julgar o “outro” como inferior ou equivocado. Isso requer abertura e suspensão de presunções, individualismo e fanatismo ao aderir à fé e ao ethos 6 SACBC e LCBC.
católicos. Devem ser promovidos encontros que permitam um conhecimento mútuo e afastem quaisquer estereótipos, e compreender o máximo possível a própria identidade que faz agir; e realizar sessões de formações sobre o Ecumenismo de modo a evitar a ignorância e o fanatismo, que fomentam litígios e intolerâncias.

VIII- AUTORIDADE E PARTICIPAÇÃO

Luzes
Estreita colaboração entre bispo, sacerdotes, religiosos, catequistas, responsáveis de grupos, movimentos e associações, e na tomada de decisões pastorais baseadas na abertura, na participação, no diálogo, respeito mútuo e na aceitação, em assembleias pastorais diocesanas e paroquiais.

Sombras
Algumas religiosas notaram que há muita dominação masculina na Igreja, com uma tendência de alguns padres de tratar as religiosas como subordinadas ou inferiores. Sua contribuição às vezes é interferida até mesmo barrada pelos Sacerdotes. O clericalismo é um câncer que se manifestou em algumas comunidades onde os padres querem fazer e controlar tudo na paróquia com casos de abuso de poder, dinheiro e propriedade da Igreja por parte do clero e religiosos em alguns casos. Em alguns casos, espera-se que os leigos apenas paguem, rezem e obedeçam. As crianças reclamam face à escassez de programas específicos que visam a sua evangelização e inserção na dinâmica diocesana; os jovens confirmam a existência de factores que condicionam a liderança juvenil nas dioceses.

Uma conferência7 mencionou que em relação os Bispos há uma apreciação da liderança da Igreja e do que eles fazem dentro da Igreja e na sociedade em geral. No entanto, para alguns havia o desejo de uma mudança no estilo de liderança da tendência de ser autocrático e burocrático para ser mais ouvinte, aberto e consultivo. Este era um desejo tanto dos leigos como do clero. Em relação os padres questões como relacionamento com seus bispos, estilos de liderança, cuidado pastoral, comunicação das chancelarias e a falta de implementação das decisões surgiram várias vezes. O desenvolvimento de uma maior fraternidade sacerdotal é algo que precisa de atenção, com certas expressões de dificuldade de pertença e de construção da unidade. E em relação os Diáconos, há um apelo para a aceitação de mulheres ao diaconato e a ordenação de diáconos casados ao sacerdócio. E no que diz respeito as Paróquias, o desafio da comunhão é a construção de comunidades mais inclusivas e acolhedoras abertas a pessoas marginalizadas, divorciadas e recasadas, homossexuais e LGBTIQA+, pessoas em situação de rua, aqueles que não se sentem acolhidos atualmente, surdos e deficientes.

Perspectivas
O Espírito Santo convida a Igreja local a construir programas de formação existentes para desenvolver programas claros de formação na sinodalidade em todos os níveis da Igreja. Formar-se na sinodalidade implica receptividade à aprendizagem e à mudança, tanto pessoal quanto institucional. A formação deve abranger áreas como estruturas sinodais, liderança servidora, ouvir e falar e discernir e decidir. Desenvolver uma formação capaz 7 SACBC.
de erradicar os sinais de clericalismo, abusos do poder, fundamentalismo e preconceitos no seu seio, superar o clericalismo latente, que desconfia ainda da capacidade dos leigos. Promover mais encontros entre o clero e o laicado, que mobilizem a participação, a subsidiariedade e a corresponsabilidade, colocando a diversidade de dons de todos ao serviço da missão na igreja e no mundo. Uma Conferência é em favor de abertura da pregação para leigos, incluindo mulheres, ampliando o envolvimento em ministérios e responsabilidades, etc. Igualmente defende o desenvolvimento dos ministérios dos leigos, porém dando espaço suficiente para o exercício desses ministérios.

IX – DISCERNIR E DECIDIR

Luzes
São momentos de discernimento, num espírito sinodal, os sínodos diocesanos, assembleias de pastoral diocesanas e paroquiais, reuniões de Conselhos e a vários níveis.

Sombras
Falta de coerência de alguns consagrados entre o que transmitem ao Povo de Deus e o que vivem, o que constitui o motivo de descrédito diante dos fiéis leigos; Conflitos geracionais no seio do clero, regionalismo, tribalismo, busca excessiva de interesses pessoais não eclesiásticos, falta de sensibilidade por parte de alguns sacerdotes em relação aos problemas que afligem os fiéis, pouca solidariedade nos momentos de dificuldades.

X. FORMAR-SE NA SINODALIDADE

Perspectivas
Estabelecer organismos e programas de formação para a sinodalidade, mantendo a dinâmica já iniciada; formar na eclesiologia da sinodalidade para que cada um assuma o seu lugar na Igreja; e dar força aos organismos de sinodalidade já existentes nas comunidades cristãs.

CONCLUSÃO
Em grande parte, o que emerge dos frutos, sementes e ervas daninhas da sinodalidade são vozes que têm grande amor pela Igreja, vozes que sonham com uma Igreja de testemunhas credíveis, uma Igreja inclusiva, aberta e acolhedora Família de Deus e uma Igreja onde todos estão conscientes das suas responsabilidades na missão. Esta experiência sinodal ajudou a nossa Igreja a avaliar o seu processo de inclusão, de escuta e do envolvimento de todo o povo de Deus e todos os homens de boa vontade. E permitiu identificar com clareza as alegrias e dificuldades das comunidades. Assim como nos ensinou que a sinodalidade não é um conteúdo a ser assimilado, mas essencialmente é um estilo de vida da Igreja que deve ser cultivado e que nasce da comunidade perfeita, que é a Santíssima Trindade. A chave de tudo é formação de todos a todos os níveis e âmbitos E esta deve ser uma tarefa contínua.

CASOS COM MUITA EXPRESSÃO QUE CARECEM DE UMA ESPECIAL E URGENTE ATENÇÃO

Juventude
Há uma preocupação geral de que muitos jovens deixem a Igreja após a Confirmação, se chegarem lá. Algumas das razões apresentadas foram hostilidade para com os jovens, conflito intergeracional, papel dos pais, gravidez na adolescência, ensinamentos morais da Igreja, tentações no mundo mais amplo, escolhas de estilo de vida e falta de atratividade da Igreja. A relação entre os jovens e a Igreja é algo que precisa de reflexão e desenvolvimento nas áreas de programas catequéticos, boa pregação, criação de um ambiente aberto, boa liturgia e espiritualidade mais profunda.

Família
Mais ênfase precisa ser colocada na formação da família como igreja doméstica. Relacionado à familia urge uma abordagem pastoral para a questão do casamento tradicional, a poligamia, as uniões de facto, os divorciados, os separados, os recasados, as mães solteiras. Até uma Conferência afirma que ouve pedidos para que a Igreja reconsiderasse assuntos como divórcio, novo casamento, contracepção e Direito Canônico em relação ao casamento. Há mal-entendidos em relação ao divórcio e ao novo casamento na vida da Igreja. Há uma forte necessidade de olhar para outras formas de ser família – pais solteiros, LGBTQIA+, famílias multigeracionais e mistas e adoção. É preciso haver mais espaço aberto para discussão em torno de questões que afetam a família e o casamento sem serem fechadas pela lei ou pela moral da Igreja. As pessoas que sofrem a ruptura do casamento parecem ser estigmatizadas. No entanto, há uma forte necessidade de olhar além do ideal do casamento heterossexual. Uma outra Conferência sustenta que os cristãos sentem que a Igreja não lida suficentemente com os problemas ligados ao matrimónio como é o caso de divórcio e separação. Os tribunais eclesiásticos deveriam ser mais activos. E acha que o não reconhecimento pela igreja dos matrimónios tradicionais deve ser revisto.

Cultura africana
Urge mais progresso na inculturação em várias dimensões da vida do africano e não só a nivel litúrgico, afim de se concilar a fé e a cultura. Uma conferência propõe que a igreja reconcilie as suas normas com as actividades e práticas dos médicos tradicionais.