XXIV Domingo do tempo Comum – Ano C
1ª leitura: Ex. 32,7-14; Sl. 50; 2ª leitura: 1Tm.1,12-17; Ev. Lc 15,1-32
Caríssimos/ e irmão/ãs, cristãos e comunidade!
Temos oportunidade de estar novamente juntos… As leituras deste 24º domingo do tempo comum, ano C, poderíamos defini-las como as leituras “dos braços abertos”. O ensinamento da liturgia é precisamente o núcleo central da mensagem de Jesus e nos leva ao coração dos ensinamentos que Ele viveu. Jesus viveu a radicalidade do evangelho “até o fim”, ao extremo, à forma suprema de amor, que é dar a vida, pelos amigos, mas também pelos inimigos, porque Jesus perdoou aqueles que lhe mataram. A mensagem da liturgia da Palavra, tem ainda duas implicações: a primeira diz respeito a nós como pecadores e a segunda diz respeito a nós como discípulos de Jesus, chamados a continuar no tempo a sua missão de trazer o amor ao mundo, ou seja, de revelar a misericórdia de Deus.
A primeira leitura extraída do livro do Êxodo, falo do povo judeu, que não vendo Moisés voltar do monte, reuniu-se ao redor de Arão e lhe diz: “Faça-nos um Deus que vá adiante de nós, por causa deste Moisés, o homem que nos fez vir da terra do Egito, não sabemos o que aconteceu com ele”.
Talvez consideravam Moisés como um Deus, que deve suprir suas necessidades e substituí-lo pelo bezerro de ouro para essa tarefa. O profeta cresceu no relacionamento com Deus e se lembra das promessas feitas aos patriarcas. Deus não pode falhar em seus juramentos. Só ele é o cumpridor das suas promessas. O povo não é de qualquer homem, mas de Deus. Tanto Moisés quanto o povo passam por uma séria crise de identidade neste momento; isto é testemunhado pelo facto de que o profeta quebra as tábuas da lei, sobre eles, cisão entre o Ser e a criatura, entre a verdadeira identidade, que manifesta o bem e as inevitáveis hesitações e fracassos. Moisés como o povo está a caminho, podemos dizer é a sinodalidade de Israel. Deus está ao lado do povo não espera a perfeição dele para entrar na existência humana: “O Senhor falava com Moisés face a face, como um homem fala com um amigo seu”. A intercessão de Moisés prefigura a de Cristo que, solidário com o homem, intercede por nós junto ao Pai, e a resposta de Deus a esta intercessão reafirma a fidelidade de Deus em palavras e actos, e ele volta a chamar aquele povo infiel de “seu povo”.
Na segunda leitura, apostolo não tem receio de assumir que não conhecia o Senhor e que o blasfemava, que matava e vivia fazendo violência contra os cristãos. São Paulo, à Timóteo, conta que quando se perdeu, longe de Deus – nem o conhecia – se deixou levar pelos que o rodeavam que gritavam xingamentos. O primeiro facto essencial é reconhecer o mal na nossa vida, assim, podemos invocar a misericórdia de Deus e nos tornar instrumentos de sua misericórdia, do seu amor.
O texto do santo Evangelho, apresenta-nos as tipologias fundamentais no exercício da nossa liberdade diante de Deus. Todos vão ao encontro de Jesus, pois, Ele é o centro da vida cristã, das nossas opções, escolhas. Nesta busca, ninguém está excluído. Ouvimos na primeira leitura, que Moisés ficou do lado do povo “cabeça-dura”, Jesus também estava do lado dos pecadores e por isso foi acusado. De facto, “os fariseus e escribas murmuravam..:” Jesus faz o contrário, recebe os pecadores e come com eles. Três parábolas, para hoje, as duas primeiras apresentam histórias paralelas: um pastor deixa o rebanho em segurança e vai em busca de uma ovelha que não voltou ao redil; uma mulher revira a casa de cabeça para baixo, para recuperar uma moeda que não encontra mais; e quando ambos atingem seu objetivo, convidam amigos e vizinhos para festejar com eles. O significado das duas histórias é dado pelo próprio Jesus: “Eu vos digo, assim haverá alegria no céu para um único pecador que se converte”, ou seja, ele foi encontrado, recuperado ao amor do Pai. A terceira parábola é a famosa chamada do filho pródigo, embora um título mais apropriado seja a parábola do pai misericordioso. A história é de um rico latifundiário tem dois filhos, o mais novo dos quais exige imediatamente a sua parte da herança e vai desperdiçá-la na devassidão, até se ver na pobreza, obrigado a trabalhos humilhantes, reduzido à fome.
Aquele filho pródigo sabe que não pode esperar nada do pai, isto porque tem uma imagem negativa do seu pai, em vez disso, “Quando ele ainda estava longe, seu pai o viu, teve pena dele, correu ao seu encontro, jogou-se em seu pescoço e o beijou”; nem lhe deu tempo de terminar o discurso que tinha preparado, pelo contrário, restituiu a sua dignidade, o fez usar o vestido mais bonito, adornou-o com um anel no dedo e ordenou que um banquete fosse preparado imediatamente com música e danças.
Nesta parábola, Jesus pretende celebrar a infinita bondade do Pai celeste, que respeita a liberdade do homem, inclusive a liberdade de errar, mas treme e espera pelo seu arrependimento, e quando isso acontece perdoa, esquece, comemora. É igualmente claro que somos esse filho pródigo, algumas vezes todos nós nos afastamos de Deus, desperdiçamos as suas riquezas da mente e do coração recebidas dele em experiências vazias, se não degradantes. Somente um retorno a Ele pode restaurar nossa dignidade perdida: Deus não pune, está pronto para nos receber de braços abertos.
Por isso, estar com ele, é desfrutar do seu amor, é o máximo da nossa realização, é o melhor que a vida pode nos oferecer. Nem sempre entendemos isso. Nas relações com Deus, a justiça, quando o culpado se arrepende, é superada pela misericórdia. E assim deve ser também entre os cristãos: os erros devem ser anulados pelo perdão, o ressentimento deve ser superado com o bem. Quem acredita que pode se reconhecer no filho fiel deve ter a honestidade de se reconhecer também no outro, sem esquecer quantas vezes recebeu do Pai o abraço do perdão. A mensagem das parábolas de Jesus é que no fundo há uma força positiva, há um Bem sem limites. Deus é misericórdia, isto é, Amor que não tem fronteiras. Mas, Deus não aceita a derrota, não acredita que o homem seja irrecuperável… Deus não vê os pecadores como pessoas más, mas como pessoas necessitadas e abandonadas. Deus é tão profundamente humano que nos desconcerta a ponto de ser estranho, extravagante e para alguns escandaloso.
– EXERCÍCIO ESPIRITUAL DA SEMANA: Que atitudes de fidelidade costumo tomar como indivíduo, como casal, como família, como profissional, como cristão, no quotidiano das relações pessoais e sociais? A todos e a cada um/a, desejo o santificado final de semana e estamos juntos…