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XVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM – C
Co 1, 2. 2, 21-23 Col 3, 1-5.9-11 Lc 12, 13-21

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Amadíssimos irmãos e irmãs, paz e bem em Jesus Cristo, Nossa riqueza.
Hoje estamos a celebrar o XVIII Domingo do Tempo Comum-C. A Liturgia da Palavra gira a volta do tema sobre a verdadeira riqueza ou riqueza segura. Mas nós achamos por bem indicar como tema, a Partilha. Para melhor orientar a nossa reflexão gostaria de partilhar convosco dois aspectos fundamentais extraídos dos textos que acabamos de escutar: A riqueza gananciosa e a riqueza generosa.
Antes de entrarmos propriamente na reflexão sobre a mensagem da liturgia da Palavra hodierna, vamos ver o contexto em que Jesus se encontrava na altura. Jesus situava-se no contexto do seu itinerário para Jerusalém e todo o seu discurso se centrava no valor do reino: «Mestre, que heide fazer para possuir a vida eterna? A resposta a esta questão consiste no amor: ama (Lc 10, 25-37), na escuta da Palavra de Deus (Lc 11, 38-42), na oração, na intimidade com o Pai: «rezai assim: Pai…» (Lc 11,1-23). Na Liturgia da Palavra deste Domingo, a via indicada para alcançar a vida eterna consiste no guardar-se de toda ganância, da avareza. Por isso, o Reino aparece como a verdadeira riqueza do homem, este reino é o nosso tesouro» (comentário da Bíblia Litúrgica, Paulinas). A riqueza é um dom que nos foi dado por Deus desde o acto da criação, para estar ao serviço do homem e da mulher, isto é, para construir a sua dignidade. O homem diante da riqueza que Deus lhe deu, pode tomar duas atitudes: a ganância ou a generosidade.
Caros irmãos e irmãs, começo por partilhar convosco o aspecto da riqueza gananciosa. Como ouvimos no Evangelho de hoje, um indivíduo saiu da multidão e foi ter com Jesus, pedindo-lhe: «Mestre, diz a meu irmão que reparta comigo a herança» (Lc 12, 13). Embora não esteja claro na passagem evangélica, se pode adivinhar a disputa da herança dos pais entre dois irmãos desentendidos. Certamente, como às vezes acontece entre nós, um dos irmãos, talvez o mais forte, prepotente, ganancioso, arrogante e egoísta, sedento de prestígio e fama, decidiu apoderar-se de toda herança paterna, deixando o outro sem nada, numa situação como da perdiz cujos ovos foram recolhidos por um caçador. Jesus rejeita a possibilidade de ser advogado daquela pessoa e aproveita alertar os seus discípulos do perigo do apego aos bens: «ouvistes o que ele disse? Atenção filhos, este é o perigo do apego às coisas»; cuidado, vós não deveis ser assim! «Guardai-vos de toda a ganância, porque, mesmo que um homem viva na abundância, a sua vida não depende dos seus bens» (Cfr. Lc 12, 15). Olhando para advertência de Jesus aos discípulos, podemos pensar que Jesus condena as pessoas ricas, como destinadas ao inferno, sem possibilidade de salvação! Não! Os ricos são nossos irmãos, amados por Jesus e a eles é oferecida a salvação, como a qualquer ser humano deste planeta. Jesus, como dizem os autores da Bíblia Africana, não está a falar dos que têm muita riqueza, mas acerca dos que amontoam riqueza para si, pois uma pessoa pode possuir pouco dinheiro, mas ter um coração rico. Os tesouros deste mundo não são dignos de confiança e não acompanham a pessoa que os acumulou na outra vida (cfr. Lc 12, 20). Jesus condena aqueles que possuem bens e estão totalmente apegados a eles de modo egoístico; aqueles que não partilham o que têm com o próximo; Jesus condena a ganância porque é um modo muito perigoso de encarar a vida: coloca a razão última do seu existir nos seus bens; este modo de encarar a vida, leva a pessoa a desprezar-se a si mesma e amar e valorizar os seus bens, como acontece no tempo de guerra: pessoas há que preferem morrer a deixar os seus bens. Jesus quer prevenir os seus discípulos dos efeitos prejudiciais que as posses podem provocar ao homem; a mentalidade da riqueza gananciosa é perigosíssima porque ignora a Deus que lhe deu tais bens e mata a fraternidade, isto é, ignora o próximo com quem é chamado a partilhar os bens que tem: «ninguém pode ser feliz sozinho!» e como disse o Papa Francisco, na Mensagem do II Dia Mundial dos Avós e Idosos, a felicidade é um pão que se come juntos. Tudo o que possamos possuir e gananciosamente reservar somente para nós, esquecendo-nos dos outros, só tem um nome: ENGANO, ILUSÃO! (Co 1,2).
Amados irmãos e irmãs, diante deste modo ganancioso de encarar a vida, qual deve ser a nossa atitude? Como devemos orientar a nossa vida? O que é que o Evangelho de hoje me ensina? O que me diz, o que nos diz, meus irmãos? As respostas a estas questões residem na riqueza generosa, isto é, no modo generoso de partilhar a riqueza que Deus nos deu com o nosso próximo. Isto significa sermos ricos em relação a Deus (Lc 12, 21). A advertência de Jesus aos seus discípulos: «Olha, guardai-vos de toda a ganância» é dirigida a cada um de nós em particular, a ti; nós somos seus discípulos, todos podemos correr mesmo risco, podemos cair na mesma tentação. A mentalidade gananciosa na relação com os bens que temos, pode afetar a nossa vida pessoal, familiar e social. Na nossa vida pessoal podemos notar atitude gananciosa quando temos a bênção de um emprego, auferimos um salário digno, que dá até para ajudar alguém que necessita, mas nos fechamos em nós mesmos; temos o nosso irmão no nível de formação universitária, mas não queremos ajudá-lo a pagar a propina, alegando sempre a falta de dinheiro: «não tenho dinheiro», mas tem! Somos gananciosos, egoístas. Fomos tratados assim? Porque não ajudas o teu irmão, pensando nos que te formaram quando precisavas? Assim estás a ser grato para com Deus que te abençoou com um emprego? Quando morrermos levaremos o dinheiro? O que acontece na nossa vida familiar! O pai trabalha, tem uma remuneração aceitável que permite a família viver serena e seguramente! Mas começa acumular para si, e não dá atenção à família: comem mal, as doenças tomam conta da família, os filhos vão escola sujos e esfarrapados, a esposa sai da casa as 5h da manhã e volta as 21h a busca dos meios para sobrevivência, como se vivesse com um marido desempregado. O mais triste em tudo isso, é que ele começa a ostentar riqueza: roupas de marca, carros e mulheres! Tudo isso é uma ilusão. Quando morrer, não levará nada consigo! Ainda que deixe um testamento para que lhe enterrem com o seu dinheiro, ninguém obedecerá a isto, aliás já estará morto! Não terá mais direito a palavra! Irá sem nada! Quem vive na opulência e não reflecte, é semelhante aos animais que são abatidos (Sl 49, 21). Há escassos dias celebramos o II Dia Mundial dos avós e idosos. Nas nossas famílias, muitos filhos para se subtraírem da responsabilidade de amparar os seus pais na velhice, acusam-nos de feiticeiros. Têm dinheiro, bem-estar, contudo, não cuidam dos seus pais, deixam-nos morrer como cães em tempo de peste e sem vergonha nem remorso; ninguém os critica nem os condena, pois, o feiticeiro não merece compaixão de ninguém! Devem sofrer e desaparecer quanto antes! Tudo isto, é engano, é ilusão! É um passaporte diplomático para o inferno! Ninguém nos iluda! Para estes o inferno existe e os espera inequivocamente! Nas sociedades do mundo hodierno, em África e em Angola, o grito daquele indivíduo: Mestre, diz ao meu irmão que reparta comigo a herança é muito actual. Olhando para alguns dos nossos irmãos ou concidadãos, políticos, gestores públicos e dirigentes, como saqueiam e acumulam para si as riquezas dos países, deixam os outros em extrema pobreza, numa situação de negação da vida aos outros, o povo humilhado e reduzido a miséria, grita: «Mestre, diz a estes políticos e gestores públicos que repartam connosco os bens que nos pertencem; diz a eles que coloquem a disposição de todos o bem comum, as nossas riquezas». Estou convicto e acredito absolutamente que nesta situação, o Mestre não negará, se apresentará como advogado e juiz ao mesmo tempo para defender o pobre injustiçado e condenar o corrupto desavergonhado! E a estes, se não se converterem, será dada a sentença do inferno eterno. Como se vê meus irmãos, a mentalidade da riqueza gananciosa não dá felicidade; todos morreremos e não levaremos nada connosco no dia da nossa morte. O que vale é o amor, porque só amor permanecerá, o amor é tereno. A felicidade consiste em partilhar o que temos, em comer o pão juntos!
Irmãos caríssimos, cada um de nós deve examinar-se: qual é sentido da minha vida? Em que pus o sentido único da vinha vida? Nos meus bens? Como estou? Sou uma pessoa gananciosa ou generosa? Realmente eu partilho os meus bens com o próximo? Tenho consciência que toda ganância é uma mera ilusão e não levarei nada quando morrer?
Irmãos e irmãs, imitemos Jesus Cristo nosso mestre, o Filho generoso que se fez pobre para nos enriquecer (2Cor 8,9).; abracemos a riqueza generosa que acredita em Deus e faz existir o próximo. Olhemos para o alto e aspiremos as coisas do alto que são fonte de felicidade eterna. Amem.
N’dalatando, 28 de Julho de 2022. P. José Diogo Jerónimo.