Padre Daniel A. Raul (Diocese do Guruè, Moçambique)
Partilha da Palavra de Deus do XIII Domingo do Tempo Comum ANO C
I Leitura: 1Rs 19,16b.19-21
A liturgia da palavra deste XIII Domingo do Tempo comum/C é eminentemente vocacional, sublinhando a urgência e a radicalidade que o chamamento para a missão impõe.
Inserido no assim chamado “Ciclo de Elias” (1Rs 17-1-2Rs 1,18), a primeira leitura, narra-nos a passagem do testemunho e da missão do mesmo Elias para Eliseu. Vale aqui recordar que isso acontece depois da extenuante tarefa de Elias combater os quatrocentos e cinquenta profetas de Ba’al no Monte Carmelo (1RS 18,20), profetas estes que eram patrocinados pela rainha Jezabel, o que lhe valeu aversão da casa real e depois do “retiro”, profeta Elias no Monte Horeb, qual paladino de IHWH e qual novo Moisés (Ex 2,14b-15). Em cumprimento, pois da ordem divina de consagrar dois reis e o profeta Eliseu, Elias se dirige apressadamente a Eliseu, tendo-o encontrado no seu labor agrícola, lançou para ele o manto. Este gesto simbólico que indica passagem de poderes, significa também a apropriação de uma pessoa por parte de Deus, para uma missão (cfr. 2Rs 2,8.13-14, onde o mato tem propriedades miraculosas). No Evangelho de Marcos, mais concretamente, em Mc 5,25-34, uma mulher que sofria de um fluxo de sangue, fica curada graças ao toque da veste de Jesus.
É frequente em narrações da vocação, que esteja presente alguma dificuldade ou mesmo objeção do “chamado”: neste caso, Eliseu apenas pede a oportunidade de ir se despedir dos seus pais (v. 20), o que lhe é concedido. Num trecho paralelo do Novo testamento, presente na liturgia deste Domingo (Lc 9,61-62), a radicalidade do chamamento é sublinhada pela não permissão sequer de se despedir dos pais.
II leitura: Gal 5,1.13-18
O contexto amplo da segunda leitura deste Domingo (Gl 5,13-6,10), poder-se-ia dar o título de “clarificação da vida cristã”. Com uma série de jogos de palavras que se opõem umas às outras, como por exemplo entre carne e amor ou carne e espírito ou ainda, a escravidão criticada em Gl 5,1 e a escravidão recomendada em 5,13 (com o mesmo termo grego “douleuein”), Paulo sublinha a diferença entre a escravidão da carne e a “escravidão” livre aos irmãos, devida ao amor de Cristo. A primeira é escravidão inserida no cumprimento cego da Lei de que o cristão se deve libertar; a segunda é uma resposta ao amor de Cristo, que se entregou por nosso amor.
Evangelho: Lc 9,51-62
Contemplamos neste trecho do Evangelho, Jesus a caminho de Jerusalém, consciente da sua missão mas rejeitado por preconceitos dos samaritanos pois ia a Jerusalém. Perante esta atitude, os filhos de Zebedeu, apelidados por “benê regesh” ou filhos de trovão (em Mc 3,17) propõem ao Mestre o mesmo castigo infligido aos adversários do profeta Elias (cfr. 2Rs 1,10), isto é, um fogo para consumir os samaritanos, ao que Jesus responde com uma recriminação.
São depois apresentadas três situações vocacionais, sendo a mais emblemática a de Lc 9,61-62. Este é um trecho sem paralelo nos sinópticos mas que encontra as suas raízes em 1Rs 19,20-21. Diferentemente de Elias, na I leitura, Jesus não deixa que o chamado à Basileia (Reino) nem sequer tenha tempo de se despedir de seus pais, não porque convidasse a violar o quarto mandamento que diz “honra pai e mãe”, mas simplesmente para sublinhar a radicalidade do chamamento e a primazia de Cristo em relação a todos os outros valores.