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Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo-Corpus Christi

P. Rafael Sapato,Diocese de Lichinga, Moçambique

1 L.Gen. 14,18-20, 2 L. 1Cor. 11,23-26, Ev. Lc 9,11b-17

A Igreja celebra a solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo-Corpus Christi. As leituras nos ilucidam o conteúdo desta grande festa da nossa fé. É Jesus que doa o seu corpo e seu sangue. Corpo indicando o eu concreto e o sangue, vida, portanto, ele se doa assim mesmo à humanidade, um gesto de generosidade sem precedentes. É um gesto que espera da parte dos que abraçaram a fé nele uma atitude igualmente de generosidade. Quem muito recebeu muito dele se espera.

O que se espera da parte dos seus seguidores? Um dos gesto é aquele que Paulo faz referência na II Leitura: «Todas as vezes, de fato, que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor, até que ele venha». Portanto, é continuar a proclamar a sua morte infinitamente, abeirando-se do seu Corpo e do seu Sangue com a devida disposição.

Entrando nas leituras encontramos na primeira leitura Melquisedec, que dá início a um novo tipo de sacerdócio, diferindo do sacerdócio dos levitas, que era por pertencer à tribo de Levi, portanto hereditário, e cuja matéria de sacrifiio eram os animais. Quanto a Melquesedec, não se conhece a sua origem. A sua matéria de sacrificio é pão e vinho e abençoa Abrãao. É deste facto que foi tomado como referência para o Sacerdócio da nova aliança instituído por Jesus Cristo e nele tem o seu fundamento. Os sacerdotes são ordenados segundo a ordem de Melquisedec. Para abençoar o povo de Deus e nutri-lo com o pão e vinho no sacrificio eucarístico.

Na segunda leitura, Paulo nos descreve a instituição do tal sacrifício por Jesus e a sua finalidade: perpetuar a sua aliança com a humaniade: ‘Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em minha memória’. O Senhor nos tem sempre no seu coração e é também seu desejo que o tenhamos sempre presente na nossa vida. Os Xirima-Makuwa do Niassa no norte de Moçambique dizem «watana ori muximani» (a amizade reside no comer juntos). De facto a refeição estabelece e fortalece aliança. Raramente os que não se querem bem tomam uma refeição juntos.
O Evangelho ajuda a perceber que a insituição da Eucaristia é um acto de amor, porque Deus é a amor e Jesus é o amor de Deus incarnado. A propósito, Bento XVI escreveu uma Encíclica intitutulada Deus caritas est (Deus é amor). Se não vejamos: os discípulos queriam que Jesus despedisse a multidão, mas Jesus replicou dizendo o que era necessário não era livrar-se da gente, que veio nutrir-se, espiritualmente, da palavra de Deus, mas dar-lhes de comer. Perante as dificuldades apresentadas pelos apoóstolos Jesus teve que intervir, porém, pedindo a sua colaboração. O povo comeu e saciou e houve restos. É este amor de Jeus que lhe leva a instituir a Eucaristia oferecendo o seu próprio Corpo e Sangue para que não falte o sustento dos seus seguidores e para que dele se nutrindo não sejam mais eles que vivem, mas Cristo que vive neles (Gal 2,20) e assim tenham a vida eterna. Não é sem razão que o mesmo Papa aqui mencionado chama a Eucaristia como Sacramentum caritatis (Sacramento da caridade).

Por outro lado este gesto de Jesus é um convite a nós para nos preocuparmos das necessidades dos outros, evitando tudo o que seja indiferença. Somos todos convidados a nutrirmos os outros seja com a palavra, como o próprio Jesus fez, antes da multiplicação dos pães e dos peixes, como também provendo pão a quem se encontra privado dele.
A liturgia desta celebração nos diz que todos somos a chamados a partilhar o que temos, a exemplo de Jesus que partilhou o seu poder divino multiplicando os pães e os peixes para saciar o povo e doou a sua própria vida insituindo a eucaristia para dele nos alimentarmos durante a nossa peregrinação terrena. Portanto, é um convite a nos nutrirmos do Corpo e Sangue de Jesus e uma vez nutridos, alimentar aos outros, numa partilha dos dons.
O ser humano precisa de se nutrir para viver. Doutro modo corre risco de anemia que lhe pode levar à morte. Aliás, num lar onde falta comida, há barulho. O cristão que não se nutre do Corpo de Cristo corre sério risco de anemia espiritual, que não tratada a tempo, pode lhe conduzir à morte espiritual. Por outro lado, quando alguém tem problema de saúde e toma um alimento não recomendável ao estado de saúde, está a prejudicar a sua saúde e pode cometer um suicídio mesmo inconscientemente. O mesmo se dá quando um cristão toma o Corpo de Cristo, em estado de pecado ou estado que a Doutrina da Igreja desaconselha. Paulo já advertiu dizendo quem come e bebe o Corpo do Senhor indignamente, come e bebe a própria condenação (1Cor 11,29).