INTRODUÇÃO
1. A celebração do Jubileu de Ouro do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagáscar (SCEAM), de 29 de Julho de 1969 a 29 de Julho de 2019, proporcionou à Igreja em África e Madagáscar uma oportunidade única de agradecer a Deus pelas inúmeras bênçãos à Igreja-Família de Deus em África e a todo o Continente, ao longo dos últimos cinquenta anos. No encerramento desta celebração jubilar, com profunda gratidão a Deus, queremos crescer no desejo de conhecer Cristo mais profundamente e de segui-Lo mais de perto, para d’Ele recebermos a plenitude de vida que Ele veio trazer à Humanidade (cf. Jo 10, 10). Fortalecidos pela Palavra de Deus e pela Eucaristia e guiados pelo Espírito Santo que nos conduz “à verdade completa” (Jo 16,13), comprometemo-nos a regressar às nossas raízes baptismais em Cristo e ao Seu Evangelho para aprofundarmos o conhecimento da nossa profissão de fé; para vivermos as nossas promessas baptismais em todos os sectores da vida e para suscitarmos um novo ímpeto e zelo pela missão, a fim de construirmos uma África Nova e centrada em Deus, em beneficio de todos os nossos irmãos e irmãs.
2. Avançando com zelo, desejamos viver sempre no espírito jubilar a nossa pertença a Deus, o arrependimento por todas as nossas faltas e nos conformarmos plenamente com a Nova Aliança oferecida em Cristo. Como Família de Deus, desejamos manifestar a nossa gratidão a Deus pela Sua presença contínua na nossa vida quotidiana, pessoal e comunitária. Comprometemo-nos a viver e a trabalhar, cada vez mais, juntos como Família de Deus, buscando vida e força na Eucaristia e na Palavra de Deus para sermos sinais, cada vez mais visíveis e credíveis, em África, do “Reino da verdade e da vida”, “da santidade e da graça”, “da justiça, do amor e da paz”.1 Situamos esta iniciativa do Jubileu de Ouro do SCEAM no contexto do grande Jubileu de Nosso Senhor Jesus Cristo, recordando o apelo do Papa João Paulo II, em Nuovo Millennio Ineunte, acada Igreja, para reflectir sobre a sua experiência jubilar, e a partir ser Igreja.2
3. No mesmo âmbito, apelamos a todo o povo de Deus em África e Madagáscar para que veja este Documento de Kampala não como uma mera agenda de renovação da fé ou de transformação da vida da Igreja em África, mas como um apelo a participar a nível pessoal e comunitário neste espírito de renovação. A todos convidamos a contribuir, com a sua experiência, nesta reflexão e nesta acção conjunta.
4. Baseando-nos na caminhada de fé da Igreja em África, especialmente ao longo dos cinquenta anos de vida do SCEAM3, e recordando a exortação do Papa Paulo VI, “Africanos, sede missionários de vós próprios “4, propomos este Documento como ponto de partida para as orientações a serem seguidas pelo povo de Deus em África e Madagáscar, convidando-o a celebrar alegremente, com fé, esperança e amor, a sua vida e a sua missão em Cristo, como Igreja-Família de Deus.
5. O tema deste Documento, « Para que conheçam a Cristo e tenham a vida em abundância », inspira-se nos ensinamentos de Jesus sobre a natureza e o propósito da Sua missão, assim como nos desafios e esperanças de África. No decurso do Seu ministério, Jesus declarou que Ele, o Bom Pastor, veio para que «todos tenham a vida e a tenham em abundância» (Jo 10,10). Na Sua oração “balanço” a Deus pela sua missão cumprida (Jo 17), Ele declarou: «A vida eterna é que eles te conheçam, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste» (Jo 17,3). As diferentes partes deste Documento destacam questões-chave da reflexão teológica e pastoral sobre o referido tema, para a vida e a missão da Igreja-Família de Deus em África.
6. A primeira parte convida-nos a reconhecer primordialmente que Jesus veio entre nós em África. Em seguida, apresenta-nos os contextos em que O recebemos, as formas como pregámos o Evangelho, e sobretudo o caminho percorrido, como Igreja em África, desde o nascimento do SCEAM em Kampala, em 1969. Identifica, por último, as razões da acção de graças a Deus por este período, na esperança de novas graças para um zelo missionário renovado.
7. Na segunda parte, recordamos que “a todos quantos O receberam”, Jesus “deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo1,12). Continuar a crescer nesta vida divina requer de nós que encontremos e aprendamos a conhecer Jesus e a viver n’Ele, com Ele e como Ele, a nova vida recebida de Deus no Baptismo. Devemos viver esta vida não apenas individualmente, mas como Igreja Família de Deus, pois, só assim construiremos esta Igreja-Família de Deus com maior determinação ainda em relação ao que mostramos para as nossas famílias humanas.
8. Na terceira parte do Documento, somos convidados a reflectir sobre a necessidade de “nos arrependermos e acreditarmos no Evangelho” (Mc 1,15), a fim de trabalharmos na transformação do mundo. Os desafios com os quais nos confrontamos hoje são sócio culturais, políticos, económicos, éticos e ecológicos. O Evangelho de Cristo crucificado e ressuscitado é nossa força. Não devemos ter vergonha d’Ele. Ele nos convida a mudar a nossa mentalidade, a levar em conta estes novos desafios pastorais e a repensar a formação dos mensageiros do Evangelho. Enfrentar os desafios de hoje para uma nova África exige também uma espiritualidade de acção e de compromisso, um profundo desejo de construir a Igreja Família de Deus como presença visível do Reino de Deus entre nós e um sinal seguro da nossa esperança eterna.
9. Concluímos o Documento com algumas considerações sobre as novas formas de missão para uma nova África, enraizada na Boa Nova de Deus, cujos filhos e filhas são mais do que nunca missionários para todas as nações (Ad gentes).
10. Com uma inabalável confiança na solicitude de Deus Nosso Pai, sustentados pela graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, e crendo no poder do Espírito que habita em nossos corações e renova a face da terra, exortamos todo o povo de Deus a acolher este Jubileu do SCEAM como um verdadeiro kairos para uma nova vida em Cristo, e este Documento de Kampala como um instrumento pastoral para um novo compromisso missionário no seguimento de Cristo. Ainda hoje, o Ressuscitado convida-nos a irmos, a todas as nações, fazer discípulos (cf. Mt 28,19); a proclamarmos a Boa Nova do amor incondicional de Deus por todas as criaturas (Mc 16,15) e a trabalharmos de maneira concertada e colaborativa em favor de uma África nova e renovada. A utilidade pastoral deste Documento dependerá do compromisso dos Indivíduos, das Famílias, das Comunidades Eclesiais, das Paróquias, das Dioceses e das Instituições de Formação e de Ensino Técnico a tornarem vivo o seu conteúdo nas suas vidas e em contextos individuais e comunitários. O SCEAM, ele próprio, compromete se a responder com zelo à sua missão de trabalhar para assegurar a unidade e a coesão da Igreja- Família de Deus; uma comunhão eclesial necessária para o novo compromisso missionário no Continente Africano, em Madagáscar e nas outras Ilhas adjacentes.
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