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PROCESSO SINODAL E O APROFUNDAMENTO DA COMUNHÃO NA IMBISA

PROCESSO SINODAL E O APROFUNDAMENTO DA COMUNHÃO NA IMBISA

O Papa Francisco convocou o Sinodo sobre a Sinodalidade a ser realizado em Outubro de 2023, cujo tema é: Por uma Igreja sinodal: Comunhão, Participação e Missão. Está na origem da fundação da IMBISA, fundamentalmente, a busca da Comunhão entre as igrejas locais na região da África Austral e não só.
Todo o Sínodo é um exercício de comunhão e um Sínodo sobre a Sinodalidade, mais ainda, daí a necessidade de reflectir sobre o impacto da participação no seu processo numa Igreja que há 47 anos (24 de Abril de 2022) procura aprofundar a comunhão.

Uma reflexão sobre o termo Comunhão
Segundo o Dicionário da língua portuguesa, comunhão é ação ou efeito de comungar, de realizar ou desenvolver alguma coisa em conjunto. Harmonia no modo de sentir, pensar, agir; identificação: comunhão de pensamentos. Em que há união ou ligação; compartilhamento.
Estudiosos das linguas sustentam que esta palavra vem de uma Indo-Européia KOMOIN-, “compartido por todos”. Em Latim, deu COMMUNIS, que gerou “comum” em Português. Vão mais além afirmando que Koinonia (do grego κοινωνία) significa comunhão.
Segundo J. RATZINGER (2000), mais tarde Bento XVI, uma primeira origem da palavra cristã Communio aparece muito longe do mundo religioso e espiritual, mas mesmo essa raíz profana tornou-se importante.
Ele sustenta que na história da vocação de S. Pedro , em Lc 5,10 lemos que Tiago e João, os filhos de Zebedeu, eram koinonoi de Simão, isto é, sócios,ou companheiros na pesca . Noutras palavras: os três constituem uma ‘cooperativa’, são proprietários de uma pequena empresa, da qual Simão era chefe.
Prossegue afirmando que a segunda raíz da palavra communio encontra-se no mundo hebraico. Os Hebreus por ocasião da Páscoa constituiam famílias entre os peregrinos a Jerusalém, chamadas chaburah. A chaburah dos hebreus corresponde à koinonoi dos Gregos. Mesmo esta palavra indica uma cooperativa, uma sociedade de trabalhos e de valores comuns.
Mas naturalmente as situações específicas da sociedade hebraica refletem-se na palavra, acrescentando aspetos específicos ao seu significado. A comunidade reunida para a Ceia da Páscoa (ao menos 10 pessoas) é chaburah. Neste último significado transparece de novo o mistério da Igreja: a Igreja é a chaburah de Jesus num sentido muito profundo: ela é a comunidade da sua Páscoa, a que realiza o seu desejo eterno de comer connosco a Páscoa (Lc 24, 15).
E esclarece que mas a palavra chaburah-comunhão nunca é usada para exprimir a relação entre Deus e o homem; ela significa exclusivamente a relação entre pessoas humanas. Entre Deus e o homem não há comunhão, a transcendência do Criador é insuperável. A relação realmente existente entre Deus e o homem não é expressa com a palavra ‘comunhão’ mas com o termo de aliança (testamento: berith). Esta terminologia significa a superioridade de Deus, de quem somente pode ser tomada a iniciativa da relação e também a distância permanente na relação.
Em conclusão o Antigo testamento não conhece uma comunhão entre Deus e o homem; o Novo testamento é antes uma comunhão. Na Incarnação da Palavra eterna, realiza-se a comunhão entre Deus e o ser humano. A origem permanente da comunhão eclesiástica fundamenta-se na cristologia: o Incarnado é a comunhão entre Deus e os homens.
Remata defendendo que o ser cristão fundamentalmente não é nada mais que participação ao mistério da Incarnação. Segundo S. Paulo a Igreja enquanto Igreja é o corpo de Cristo. Na base desta verdade eis a inseparabilidade entre Igreja e Eucaristia, entre comunhão e comunidade.
O termo koinonia no seu sentido primário significa participação na vida de Deus por intermédio de Cristo no Espírito Santo. A koinonia baseia-se na livre escolha de Deus de se comunicar ele mesmo a nós. A Igreja é comunhão por causa da comunidade que une os seus membros na vida do Espírito. Nossa relação vertical com Deus torna possível nossa unidade horizontal com os demais crentes.
Portanto, a comunhão refere-se primordialmente à Igreja já que está baseada na participação na vida da Trindade. Em sentido mais amplo certa noção de comunhão pode aplicar-se também à toda a humanidade. Todos os seres são criados à imagem de Deus e estão, portanto, chamados à comunhão com Deus.
Segundo a Congregação para a Doutrina da Fé (1992) «A comunidade eclesial na qual cada um é inserido pela fé e pelo batismo, tem a sua raiz e o seu centro na Eucaristia. A Eucaristia é fonte e força entre os membros da Igreja porque une cada um deles com o mesmo Cristo. Essa comunhão existe entre a igreja peregrina e a Igreja celeste pela intercessão de Cristo» . A comunhão supõe reconciliação e perdão.

A Covid-19 e a comunhão
O termo comunhão tem como foco, participação, algo em comum. Durante o período da pandemia da Covid-19 a humanidade viveu e ainda vive essa experiência com muita intensidade. Pelo facto que partilhou e ainda partilha o sentimento comum da ansiedade em contrair o virus, a cosciência da fragilidade como também experimentou o desafio do distancimanto e isolamento contra a natureza social do homem. Por outro lado partilhou o sentimento da necessidade de se proteger protegendo os outros.
Portanto, a pandemia da Covid-19 em relação à comunhão tem uma função ambivalente, no sentido que é uma oportunidade em que a humanidade comunga fortemente o sentimento negativo e ao mesmo tempo aquele positivo.

Desafio para a IMBISA
A IMBISA há 47 anos que traçou como desafio, na sua caminhada de fé, continuar a cimentar a sua comunhão rumo à comunhão da Trindade Santíssima. Para o efeito, o Sínodo convocado por sua Santidade o Papa Francisco sobre a Sinodalidade, afigura-se como um factor galvanizador para acelerar a marcha.
Em princípio, não deve ser uma dificuldade atingir a meta a que se propõe, uma vez que África é terreno fértil para a vivência da comunhão. A fundamentar esta convicção é facto de no mundo rural, em muitas partes da nossa Região Africana, ser natural ver gente a comer no mesmo prato, a lavar as mãos na mesma bacia e a beber na mesma taça. A mensagem eloquente que este gesto transmite é: entre nós não nos estranhamos, há, em nós, algo em comum, a nossa humanidade.
Sobre este forte sentido de comunhão, há um episódio muito impressionante que se deu na Comunidade de S. Cecília de Nacari, paróquia de Mepanhira, Diocese de Lichinga, Moçambique.
O facto se deu na década 80 durante a Celebração Eucaristica, na qual alguns adolescentes da comunidade recebiam pela primeira vez o Corpo de Cristo.
Durante a recepção da comunhão, uma das adolescentes após ter recebido a sagrada eucaristia, no lugar de meter na boca, ela conservou-a na mão e pós-se a caminho para o seu banco. Uma primeira reação interpertou a atitude da adolescente como efeito de uma fraca catequese, porque ela aparentemente não distinguia o pão eucarístico, corpo de Cristo de qualquer outro pão. Mas a resposta que ela deu quando foi interpelada, quase a sair da área da distribuição da sagrada eucaristia face à pergunta, por que motivo conservava na mão em vez de mete-la na boca, mudou tudo. Pois ela respondeu: ‘é para ir partilhar com o meu irmão mais novo em casa’. E o catequista insistiu: sabes de que se trata? Ela respondeu: ‘É corpo de Cristo, por isso quero ir dar também ao meu irmão’. Portanto, o que move a atitude da adolescente, não é a falta de discernimento, mas a forte vontade de partilhar a novidade e o valor do que ela acabava de recebcer que não pode beneficiar sozinha. É o sentimento muito profundo da comunhão. Na comunhão partilha-se algo valioso. Deus, na Incarnação, partilhou a sua própria vida com a humanidade. O sentimento de comunhão faz com que tenhamos sempre o outro em mente, que ele também tenha a mesma oporunidade.