PANORAMA DO CLERO DIOCESANO NA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DE MOÇAMBIQUE
Encontro virtual da IMBISA sobre a situação do clero na Região austral em preparação para a celebração da Quinta feira Santa 07.04.2022
Dar-vos eis Pastores segundo o meu Coração! Jer 3,15
Na Exortação Apostólica pós-sinodal “Pastores Dabo Vobis,” Sua Santidade Papa João Paulo II, gritou ao mundo inteiro com as palavras do profeta Jeremias, que Deus continua fiel ao Seu grande e amoroso projecto, de prover Pastores que guiem o seu Povo. Trinta anos depois da publicação da Exortação supracitada, continuam a ser visíveis os sinais da divina providência, que apesar de tantos desafios e contradições do tempo presente, Deus não abandona o seu Povo, oferecendo-lhe Pastores segundo o Seu Coração.
Acolhemos com muita fé e alegria a iniciativa promovida pela IMBISA, como preparação para a celebração da Quinta-feira Santa, dia da instituição do Sacerdócio ministerial uma ocasião ímpar de unirmos as nossas forças, fixando o nosso olhar para a situação do Clero na Região. Esta iniciativa, deve ser acolhida como uma experiência que nos ajuda a perpetuar a fraternidade sacerdotal que nos caracteriza como Presbíteros. Aliás, imersos num continente com uma história comum, é justo e oportuno, como Presbíteros, conjugarmos esforços para acolher o que a Voz do Espírito diz à Igreja que está na África Austral no contexto do ministério presbiteral.
Fiéis aos argumentos que nos foram propostos no questionário, na realidade da Igreja moçambicana, temos a dizer o seguinte:
Número de Padres existentes a nível da CEM
De acordo com os dados publicados no Anuário de 2020, a Conferência Episcopal de Moçambique tem 317 Padres Diocesanos, dos quais 19 são sacerdotes fidei donum. Está em curso a actualização do anuário de 2020 e, cremos que este número vai aumentar significativamente, de acordo o crescimento registado com o número das ordenações sacerdotais dos últimos dois anos em todas as dioceses da nossa Conferência. Porém, num país com uma população de 28.861.863 habitantes (censo de 2017), dos quais 27,2% são católicos, o número dos presbíteros revela-se ainda muito aquém para responder as múltiplas necessidades do Povo de Deus.
Existência de estruturação a nível diocesano e nacional
Os presbitérios diocesanos onde se encontram incardinados ou a prestar algum serviço, constituem a primeira estrutura de organização dos sacerdotes diocesanos. Quer a nível diocesano, quer a nível interdiocesano, tal estruturação tem como objectivo fortalecer as relações de fraternidade presbiteral para melhor responder as exigências pastorais de uma circunscrição eclesiástica e/ou de uma Província eclesiástica. A nível nacional, as dioceses encontram-se agrupadas em três províncias eclesiásticas: Maputo, Beira e Nampula.
Prática da formação permanente
Foi e continua a ser a grande preocupação de todos os Bispos da Conferência Episcopal de Moçambique prover a formação permanente dos seus Presbíteros, quer a nível diocesano, quer a nível da Conferência através das Províncias eclesiásticas. Tal formação, como critério, tem obedecido aos anos de ministério sacerdotal. A última experiência de formação permanente em anos de serviço sacerdotal e por províncias eclesiásticas, decorreu em 2021 que envolvia sacerdotes com o número igual e inferior a 10 anos de serviço presbiteral.
Impacto da Pandemia do Covid 19
Todos nós, de uma ou de outra maneira a nível da Região Austral e do mundo em geral, sentimos na pele os efeitos nefastos provocados pela pandemia do Covid 19 na experiência da nossa fé. Moçambique não é uma excepção. O primeiro impacto negativo, é que a Pandemia privou-nos do aspecto comunitário da nossa fé, com o encerramento dos cultos públicos desde Março de 2020. Esta situação, enfraqueceu a formação doutrinal dos cristãos, pese embora tenham-se mantido na fé através da oração familiar.
Um outro impacto a ter em consideração que se arrasta, é a indiferença religiosa. Para alguns cristãos, tendo ficado privados dos sacramentos por muito tempo, hoje vivem com um certa indiferença a sua fé com a reabertura dos cultos públicos.
Num país onde as vias telemáticas de informação não são de fácil acesso e onde é possível nem sempre funcionam com a eficiência desejada, a prevalência da Pandemia do Covid 19 esmoreceu as relações humanas e subsequentemente, privou muitos cristãos do contacto com a Palavra de Deus.
Principais luzes e sombras:
Um olhar sobre o clero moçambicano, alimenta muita esperança quando nos damos conta do gradual crescimento do número de sacerdotes em cada ano que passa. Trata-se de um clero jovem, muito sacrificado, que testemunha o seu ministério em situações desafiantes e desafiadoras. Não só, a experiência da fraternidade sacerdotal, com a qual, o sacerdote diocesano moçambicano é chamado a viver em comunidade com outros presbíteros, é motivo de muita alegria, pois a partir dela, o presbítero sabe que não está só no exercício do seu ministério.
Ao lado desta face da moeda, não se pode ignorar os inúmeros desafios, de entre eles: a ocorrência de óbitos em idade jovem e com poucos anos de ministério, o isolamento de que sofrem alguns presbíteros como resposta à uma assistência pastoral integral nalgumas circunscrições eclesiásticas onde, nalguns casos, uma Paróquia é confiada a um único sacerdote e a exiguidade de meios que garantam uma eficiente assistência pastoral, são algumas realidades que não pouco, eclipsam o fervor sacerdotal.
Espectativas da Imbisa
Como um organismo regional, no campo sacerdotal a expectativa que se espera da IMBISA é de troca de experiências e um enriquecimento mútuo. Cremos que em linhas gerais, existe um denominador comum entre as luzes e sombras que caracterizam a Igreja na Africa Austral. Toda a partilha, proximidade e porque não, a efectivação de simpósios de formação permanente na Região, são uma mais-valia na nossa experiência de cooperadores na ordem da graça.
Pe Tonito José Francisco Xavier MUANANOUA
Sacerdote da Diocese de Gurúè e
Colaborador do Departamento vocacional