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INSPECÇÃO AO SEPÚLCRO VAZIO (Jo 20,1-9)

SOLENIDADE DA PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR
REFLEXÃO SOBRE O EVANGELHO DO DIA (Jo 20,1-9)
Inspecção ao sepulcro vazio
Era ainda escuro quando Maria Madalena foi dar uma olhadela ao sepulcro e viu que a pedra que fechava a entrada estava fora do lugar. Certamente ela não vai ao sepulcro para ungir o cadáver, porque, de um lado, estando sozinha não seria capaz de remover a enorme pedra. Doutro lado, o enterro tinha sido feito com muita pompa, por José de Arimateia e Nicodemos. Lembre-se de que este último trazia consigo uma enorme quantidade de unguentos de quase cem libras (cerca de 34 kg), feitos de uma mistura de mirra e aloé (Jo 19,39). É uma quantidade exorbitante, totalmente fora de proporção em relação ao que era necessário para uma sepultura ordinária. De facto, esta não era uma sepultura ordinária, era a sepultura do Rei dos reis.
Podemos imaginar que não é pela primeira vez que Maria Madalena vai ao sepulcro. Provavelmente, depois da sepultura ela vinha visitando o túmulo do seu Senhor. Com este episódio, o evangelista nos mostra quão grande era a vizinhança de Maria Madalena para com o seu Senhor. Ela não se deixa abater pela escuridão dos acontecimentos e nem sequer pelo medo. É uma das poucas pessoas que manifestam solidariedade ao Senhor perante a sua paixão e morte. Juntamente com Maria, mãe de Jesus, outras mulheres e o discípulo amado, Maria Madalena permanece à beira da cruz à diferença dos demais discípulos que em debandada desertam a sequela e abandonam o Mestre à sua sorte. Ela teve o privilégio de ser a primeira a ver o sepulcro vazio e a notificar aos discípulos: «Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde o puseram» (20,2). A sua persistência valeu-lhe a sorte de ser também a primeira a ver o Ressuscitado, a falar com ele e a anunciar aos discípulos a boa nova: «Vi o Senhor» (20,18).
Então começa a corrida, mas era ainda escuro! Pedro e João correm apressadamente ao sepulcro. No vigor da sua juventude, o discípulo amado corre mais veloz e chega em primeiro lugar que Pedro, mas não entra, deixa a prioridade a este último. A seguir, o narrador faz uma descrição detalhada sobre o resultado da inspecção ao sepulcro vazio: «Entrou no sepulcro, e viu as ligaduras no chão e o sudário que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não com as ligaduras, mas enrolado à parte». Aqui, o leitor esclarecido relaciona o resultado obtido na inspecção com a declaração de Maria Madalena: «Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde o puseram». Em outras palavras, Maria Madalena insinua que o corpo do Senhor terá sido roubado, tal como apresenta o evangelista Mateus, segundo o qual, os chefes corromperam os guardas para que estes dissessem que os discípulos de Jesus vieram de noite e roubaram o corpo (Mt 28,11-15).
Todavia, o resultado da inspecção mostra que não se trata de um roubo. Pois, se fosse o caso, com toda a segurança estabelecida no perímetro do sepulcro, tal ladrão não teria o vagar de remover a pedra, entrar, desfazer as ligaduras e deixar no chão, para depois pegar no sudário, enrolar meticulosamente e deixar à parte e finalmente carregar o cadáver, sair e escapulir. Ao invés, o que aparece na mente do leitor joanino é a imagem de alguém que desperta do sono, despoja-se dos pijamas, arruma os lençóis e se vai calmamente. Este é o olhar crítico do outro discípulo que «entrou, viu e acreditou». Em seguida vem confirmado nas aparições do Ressuscitado, primeiro à Maria Madalena e depois aos discípulos em diferentes ocasiões. Nós acreditamos no seu testemunho, e é por isso que mesmo na escuridão dos acontecimentos que marcam o tempo presente – a pandemia que não quer nos largar, as guerras, as calamidades naturais, o terrorismo, as políticas institucionalizadas de espoliação dos mais fracos, etc. – celebramos este dia com alegria e esperança que o sol da Páscoa nos oferece.
Na sua mensagem pascal do ano passado, o Sumo Pontífice sublinhou a urgência de deixar-nos contagiar pela ressurreição de Cristo. Este contágio, explicou, «não é uma fórmula mágica, que faz desaparecer os problemas, mas é a vitória do amor sobre a raiz do mal, que transforma o mal em bem: ‘marca exclusiva do poder de Deus’».
O Senhor ressuscitou verdadeiramente, aleluia! «Ele, que já derrotou a morte abrindo-nos a senda da salvação eterna, dissipe as trevas da nossa pobre humanidade e introduza-nos no seu dia glorioso, que não conhece ocaso» (Papa Francisco).
Feliz Páscoa!

P. Eugénio Tárua Scj