P. José Diogo Jerónimo ZOLA.
DOMINGO DE RAMOS
Is 50, 4-7 Fil 2, 6-11 Lc 22, 14-23,53
Amados e amadas no Senhor, Paz e bem em Cristo, O nosso Redentor.
Hoje estamos a celebrar o Domingo de Ramos. Esta celebração marca o fim da Quaresma, embora esta termine realmente com a Missa da Ceia do Senhor. Agora entramos na Semana Santa que revive e perpetua o mistério central da nossa fé e da nossa salvação, a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. A Liturgia da Palavra muda de tonalidade: cessa a insistente chamada ao arrependimento e à conversão. Passa-se para o momento da meditação e contemplação do mistério da nossa redenção: olhar para o caminho que Jesus faz e que culmina com a sua entrega definitiva por nós.
Caríssimos irmãos e irmãs, o tema que domina a liturgia deste Domingo, é o da fidelidade. O tema percorre as três Leituras que acabamos de escutar: «O Senhor Deus abriu-me os ouvidos, e eu não resiste nem recusei. Aos que me batiam apresentei as espáduas, e a face aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me ultrajavam e cuspiam. Endureci o meu rosto como uma pedra» (Is 50, 5-7); «tornando-se semelhante aos homens […] e identificado como homem, rebaixou-se a si mesmo, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz» (Fil 2, 7-8); «[…] e pondo-se de joelhos, começou a orar, dizendo: Pai, se quiseres, afasta de mim este cálice; contudo não se faça a minha vontade, mas a tua» (Lc 22, 42). Como acabamos de ver, a Liturgia da Palavra de hoje fala-nos da fidelidade do Servo de Javé e de Jesus Cristo. Para melhor orientar a nossa reflexão, vamos centrar a nossa atenção na fidelidade de Jesus Cristo e na nossa fidelidade.
A fidelidade de Jesus Cristo: Jesus Cristo levou a fidelidade até ao extremo, obedecendo ao Pai até morte e morte de cruz (Fil 2, 6-11). Para compreendermos a fidelidade de Jesus Cristo, digna de exaltação, admiração e de ser apresentada como exemplo a imitar para que sejamos fiéis como Ele, devemos partir das duas notas características da liturgia deste domingo: a alegria e a paixão. A alegria justifica-se pela entrada triunfante de Jesus em Jerusalém. A sua entrada em Jerusalém foi motivo de uma alegria inefável para todo o povo de Israel que cantava hossana, hossana ao filho de David; ele o nosso Rei, o nosso Messias, o nosso defensor, o nosso libertador, o príncipe da paz; Ele é o esperado, é d’Ele que nos falaram os nossos pais, que um dia chegaria gloriosamente; Ele é a nossa razão de ser, sem Ele nada somos e não podemos pensar a nossa existência e realização; finalmente está entre nós! Não tardou para que esta alegria se transformasse numa angústia deprimente e de morte. Quando os anciãos do povo, o sumos sacerdotes e os doutores da lei começaram a sentir medo desta alegria; quando começaram a ver Jesus como uma ameaça ao seu poder, – porque ele amava o povo, defendia-o e tinha ganho a simpatia de todo povo e era considerado Rei, o esperado das nações – intoxicaram a mente do povo com o veneno da mentira, da calúnia e da difamação, acusando-o de crimes que jamais cometera, como o de amotinar o povo para desobedecer ao poder Romano e levando o povo a odiá-Lo sem medida, ao ponto de preferir um assassino e de pedir para Ele a sentença de morte!
A vinda de Jesus ao mundo é fruto do amor do Pai: «Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito, a fim de que todo o que nele crê, não se perca, mas tenha a vida eterna. De facto, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele» (Jo 3, 16-17). Jesus recebe do Pai a missão de salvar a humanidade por amor. Ele assume esta missão de amor, lança-se ao mundo, amando-o loucamente: um amor sem cálculos, sem medida, um amor irracional, um amor que só se explica pelo amor: afinal o amor paga-se com amor! Jesus é doado e doa-se por amor em favor da humanidade. Diante de um profundo acto de doação por amor, Jesus recebe uma resposta de hostilidade, desprezo, injúrias, rejeição e de humilhação total! Que tamanha ingratidão! Diante desta atitude de desprezo e rejeição, Jesus acha-se confuso: «será mesmo isso que o Pai me confiou? Eu venho com amor e paz e eles recebem-me com ódio e violência? Não! Não vim para isso! Basta! Pai, te peço, por favor, se quiseres, afasta de mim este cálice». Todavia, não se faça a minha vontade, mas a tua! Isto é, tenho de ser fiel ao teu mandato até ao fim. Nada pode alterar o teu plano, a tua vontade». A vontade do Pai é a salvação do mundo por meio de seu Filho Unigénito! Ainda que isto custasse a morte do seu Filho, a humanidade tinha de ser salva! Que profundo amor! A fidelidade de Jesus à vontade do pai até ao extremo.
Queridos irmãos e irmãs, para que serve este Evangelho? Que importância tem para a nossa vida espiritual? A fidelidade de Cristo deve ser a Nossa Fidelidade. Este Evangelho da Paixão do Senhor não nos é apresentado para adquirirmos conhecimentos sobre os acontecimentos, para suscitar em nós compaixão e admiração sobre a fidelidade do Senhor ao projecto de Deus, mas para que nos sirva de exemplo, a fim de provocar em nós a adesão ao Senhor, imitá-Lo, sermos como Ele: assumir os nossos compromissos baptismais e sermos autênticos cristãos, procurar fazer a Vontade de Deus até ao fim; aprender com Jesus a não nos cansarmos de fazer o bem e nunca alterar o bem por causa da ingratidão ou da correspondência hostil ao amor que tenhamos manifestado a um irmão! Somos chamados a nos doarmos aos outros sem medida, até às ultimas consequências. O Evangelho ensina-nos a não imitarmos a atitude dos anciãos do povo, dos sumo sacerdotes e dos doutores da lei – e como algumas vezes acontece nas nossas famílias, nos nossos grupos da Igreja, nos nossos trabalhos, na vida politica – quando um irmãos ou colega começa manifestar espírito de liderança, competência e a ganhar simpatia das pessoas, partimos para a calúnia, difamação, acusação injusta, diabolizando-o para que perca a estima de todos, seja odiado, marginalizado, expulso, até mesmo morto, para que não nos faça sombra. Observa-se em muitas pessoas, nas famílias e em muitos sectores da vida social e politica um espirito de violência sem precedentes: raptos, assaltos, confrontos, guerras, assassinatos! O Evangelho de hoje ensina-nos a não violência: «Senhor, aqui estão duas espadas. Mas ele respondeu: basta!» (Lc 22, 38), isto é, não as precisamos, não façam isto! Sejamos como Ele. Hoje constata-se também na nossa vida pessoal, familiar, social e politica atitudes de vingança, ódio, retaliação, intolerância contra quem nos ofende! Temos muita dificuldade de perdoar e até a palavra perdão parece não fazer mais parte do nosso vocabulário: «Perdoar-te só no caixão»! O nosso mestre ensina-nos a perdoar sem medida: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem» (Lc 23, 34). Sejamos como Ele. É amiúde ouvir pessoas a se lamentarem dos outros, na família, nos grupos da Igreja, na vida laboral, social e politica, por causa de atitudes de arrogância, prepotência, ganância, sede de dominar os outros e de mandar! Queremos que nos deem o estatuto de maior e que todos nos venerem! Isto leva muitos dos nossos dirigentes, guias, a pisar os outros e até a desviar o bem comum para seus fins privados! Esquecemo-nos de que o poder é um profundo acto serviço, como nos ensina o Senhor: «Convosco, não deve ser assim; o que for maior entre vós, seja como menor, e aquele que mandar, como aquele que serve. […] Eu estou no meio de vós como aquele que serve» (Lc 22, 2627). Sejamos como Ele. Caríssimos irmãos e irmãs, como vemos, a mensagem do Evangelho é para cada um de nós, serve para que sejamos autênticos cristãos, ser como o mestre. Para tal, não deixemos de nos interrogar: como estou guiando a minha vida cristã? Como fiz a minha caminhada quaresmal até agora: descobri algo na minha vida que não me faz ser bom cristão e lutei contra isto? Sou alguém que acusa, calunia, difama o outro por inveja, a fim de o eliminar? Alimento violência, tenho algum irmão que não consigo perdoar? Sou prepotente, piso os outros porque tenho poder ou sirvo os outros como Cristo?
Amados irmãos, contemplemos o mistério da paixão, morte e ressurreição do Senhor que se entrega por nós por amor. Imitemos o Senhor para que sejamos como Ele que nos amou e foi fiel à vontade do Pai até ao fim para nos salvar. Ele amou, amemo-nos também uns aos outros como ele nos amou.
Que Maria Santíssima, nossa boa Mãe que ensinou o seu Filho, Jesus a ser fiel à vontade do Pai, interceda por nós para que a fidelidade de seu Filho se transforme na nossa fidelidade.
Desejo a todos FELIZ PÁSCOA.