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Cristo, o Templo Divino, veio para purificar os Seus templos

Caros irmãos em Cristo. Estamos no IV Domingo do tempo comum ano C, Festa da Apresentação do Senhor no Templo. A apresentação do Senhor no templo é uma festa que resume  para si todo o projecto de salvação de Deus à medida que, em última análise, chegamos à conclusão que, Cristo, o Templo Divino veio para entrar no Seu templo com a missão de purificar este espaço sagrado e os seus servidores, os sacerdotes Levitas, de modo a que possam apresentar oblações segundo a justiça e, por isso, agradáveis a Deus, tornando puros todos os que participaram destas mesmas oblações, o povo de Deus. A purificação, que também significa libertação da escravidão do pecado e da morte,  ou seja, salvação, não é uma graça  reservada, somente,  ao povo Judeu, antes, traz consigo um carácter e dimensão universal; a prova disso está nas palavras pronunciadas pelo velho Simeão. Este, orientado e iluminado pelo Espírito Santo disse- ao acolher Jesus em seus braços-  o seguinte : “ Agora Senhor segundo a Vossa palavra deixareis ir em paz o Vosso servo, porque meus olhos viram a Vossa salvação que pusestes ao alcance de todos os povos, luz para se revelar as nações e glória de Israel Vosso povo”.  Este discurso faz-nos compreender que o caminho da salvação passa necessariamente pela purificação. Pelo que, espaços sagrados puros, com servos puros, resultarão em oblações justas, agradáveis a Deus e, por via disso, fonte de pureza para todos os que neles participam. Deste modo , podemos afirmar:  sem pureza não há salvação.

Mas para tornar mais claro o mistério de Cristo, Templo Divino, precisamos mergulhar em profundidade na primeira leitura tirada de Mal 3,1-4 .  Na primeira parte desta leitura é facilmente compreensível que Aquele que fala “, O Senhor Deus” , dizendo que vai enviar o Seu servo à sua frente, é o mesmo que vai passar pelo caminho, já preparado ; e, é Ele mesmo que, vai entrar no seu templo  como Anjo da Aliança.  Estamos, sem dúvida alguma,  diante do mistério da acção Trinitária entre o Pai e o Filho: Deus que fala, que entra no Seu templo e que Se apresenta como Anjo da Aliança. E,  pelo facto de ter notado, com o passar do tempo que, os homens não conseguiam ver n’Ele o verdadeiro Templo, disse: “ Destruí este Templo e Eu em três dias O construirei”. Por outra: “ Condenai-Me à morte e, Eu, em três dias ressuscitarei dos mortos”. E a Escritura completa dizendo : “ Ele Falava do Templo do Seu Corpo.   Por isso que, no prefácio V  da Páscoa nós dissemos que Jesus é ao mesmo tempo o Sacerdote, o Altar e o Cordeiro, as invariáveis principais que corporizam um templo.  E que nós sejamos também templos de Deus, a própria Escritura o diz em 1Cor 6,19: “ Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que está em vós mesmos”.

Mas alguém poderia  investir na renovação de sua casa sem que tivesse a intenção de  habitar nela?  Acho que não. Porque a verdade é uma:  Se não somos habitação de Deus somos habitação do demónio. Isso é bíblico. A ser assim, podemos acreditar que, a razão última que levou o Senhor a purificar os Seu templos, edifício sagrado e nosso corpo, libertando-os das forças do mal que se haviam apoderado destes templos,  é para que possa habitar neles para sempre.  Portanto,  salvação significa  aceitar ser purificado e liberto e, por via disso, aceitar ser morada de Deus para sempre.  Sobre esta matéria, a Sagrada Escritura, em Ef 2,21 diz o seguinte: “ A glória de Deus habitará no Seu templo.  Mas quem foi que nos precedeu neste mistério de ser habitação de Deus? Obviamente, só pode ser a Virgem Maria.  Maria foi a primeira, entre os de natureza humana, a ser considerada digna para ser morada de Deus. É verdade que, para isso, ela não precisou passar pela via da purificação,   porque nasceu pura desde o ventre materno. É por esta razão que ela é para nós modelo de Igreja à medida que conseguiu manter a sua pureza em toda a sua vida.  Nós, seres inclinados para o mal, precisamos estar sempre em sintonia com  Maria para que ela possa nos ensinar como nos manter puros depois que somos purificados. Infeliz o homem que for encontrado impuro quando a morte  chegar e bater a sua porta.

Mas será que o templo, os seus sacerdotes e o povo que lá frequentava precisavam ser purificados? A Sagrada Escritura diz que sim.  Vejamos só quem foi considerado digno e iluminado pelo Espírito Santo para acolher o Menino Jesus em seus braços, e apresenta-l’O aos que estavam no templo e, por extensão, à humanidade inteira! Foi o velho Simeão. O normal para aquele acto sagrado, teria que ser feito pelos sacerdotes do templo, os Levitas. Mas Deus mostrou a todos a  Sua indignação para com  aquela classe, inspirando, aquele que hoje, chamaríamos leigo. Será que isso não nos interpela? Quanto clericalismo pesa sobre nós apesar do Concílio Vaticano II.   Com relação ao templo edifício e espaço sagrado, sabemos sobejamente qual era a situação. Foi essa situação que levou Jesus a dizer : A casa de Meu Pai é casa de oração e, vós, fizestes dela casa de comércio e covil de ladrões. Os primeiros culpados de tudo isto, não podiam ser outros senão os sacerdotes; se é que não seriam os únicos.  Eram também os sacerdotes que manipulavam o povo para satisfazer os seus e os interesses dos  seus parceiros.  Como se pode ver, quase todos precisavam ser purificados.

A segunda leitura é aquela que faz a interpretação concreta das palavras do velho Simeão. Só para torna-las muito presentes vamos retoma-las: “ Agora Senhor deixareis ir em paz o Vosso servo porque meus olhos viram a Vossa salvação que pusestes ao alcance de todos os povos, luz para se revelar as nações e glória de Israel Vosso povo”. As palavras chave neste breve mas universal discurso são: Jesus a Salvação ao alcance de todos os povos.  De facto,  para Ele  materializar o plano do Pai, afirmado pelo velho Simeão, teve que usar um método universal. Este método foi eficaz porque baseou-se num pressuposto, também, universal: “ Uma vez que os filhos dos homens  têm o mesmo sangue e a mesma carne”, segunda leitura, Hb 2,14-18. Com este pressuposto, Jesus  conseguiu salvar todos os homens, porque sabia que todos eles comungavam da mesma natureza.  Foi assim que Ele aceitou assumir a nossa natureza para que comungando da mesma pudesse facilmente destruir aquele que tinha aprisionado  esta natureza fazendo dela sua escrava e instrumento do pecado e da morte.  Deste modo,  todos os seres humanos são chamados a salvação por intermédio d’ Aquele que lhes assumiu; este é o milagre da salvação.  Mas, à semelhança de todos os milagres , o milagre da salvação não poderá acontecer numa pessoa sem a sua colaboração.

A grande pergunta que fica é esta:  Por que razão Jesus não Se limitou somente em purificar o que estava impuro? Por que é que precisou de apresentar-Se,  Ele mesmo, como Sacerdote, Altar e  Cordeiro? Era para que pudesse oferecer um Sacrifício perfeito.  Assim, todo o processo de Salvação da humanidade  só é possível  mediante  o oferecimento de Um e único Sacrifício. É por isso que Jesus disse: Eu Sou o caminho, a verdade e a vida. E, é por isso também que nós dissemos: Por Cristo, com Cristo e em Cristo.  Conclusão: Aquele que veio purificar, libertar e salvar a natureza humana assumiu tudo para Si de modo a que nada de imperfeito pudesse interferir neste projeto.

 

1-Será que, ao celebramos a Santa Eucaristia estamos plenamente convictos que Jesus está presente , de forma real,  naquele lugar e no nosso intimo?

2- Será que a nossa catequese é clara que todas as celebrações Eucarísticas do mundo inteiro, apesar de muitas , são um e único Sacrifício de Cristo, Aquele no qual Ele ofereceu e ofereceu-Se na última Ceia e O consumou na cruz?