General

Conhecimento seguro do que nos foi anunciado

III Domingo do Tempo Comum, 26 de janeiro de 2025

Domingo da Palavra de Deus

Comentário ao evangelho (Lucas 1,1- 4; 4,14 – 21)

 

Neste domingo, 26 de janeiro de 2025, celebramos o VI Domingo da Palavra de Deus, dia instituído pelo Papa Francisco em 30 de setembro de 2019, através da Carta Apostólica sob forma de Motu Proprio “Aperuit illis,” visando animar os cristãos a celebrar, refletir e divulgar a Palavra de Deus.

A nossa reflexão sobre o evangelho deste domingo é norteada pela celebração do domingo da Palavra de Deus e pretende contribuir com algumas ideias para a consecução dos objetivos propostos pelo Papa Francisco ao promulgar este dia.

O trecho evangélico deste domingo, extraido de Lucas 1,1-4; 4,14-21, começa por apresentar o objetivo e o destinatário do evangelho de Lucas e dos Atos dos Apóstolos. Lucas escreve ao senhor Teófilo, para o ajudar a ter um conhecimento seguro do que lhe fora anunciado. Vale notar que Lucas serve-se do verbo EPIGUINOSKO, que em grego significa conhecer melhor, aprofundar, descobrir, indagar alguma coisa, para exortar Teófilo a preservar os fatos que estavam a ser narrados pelos apóstolos.

É nesta linha que, a partir do evangelho deste domingo, gostariamos de propor apenas quatro pontos visando ajudar os cristãos a terem um conhecimento seguro de Deus e do seu Filho Jesus Cristo:

  1. Permanecer na doutrina aprendida
  2. Aprofundar os textos sagrados
  3. Fazer leitura libertadora da Palavra de Deus
  4. Fixar os olhos em Jesus Cristo

 

  1. Permanecer na doutrina aprendida

Para Teófilo, o destinatário do evangelho de Lucas e do livro dos Atos dos Apóstolos, preservar a doutrina aprendida passava por trazer à memória todas as narrações orais feitas pelos apóstolos e demais crentes sobre Deus Pai e, sobretudo, sobre os mistérios da encarnação, paixão, morte e ressurreição de Jesus (Lucas 1,1). Teófilo devia preservar tudo o que se dizia e fazer o esforço de aprofundá-lo dia após dia. Para nós hoje, preservar a doutrina aprendida comporta valorizar o que aprendemos desde a infância, dos nossos pais, catequistas, animadores de comunidades, missionários, etc. Para tal, o cristão é desafiado a permanecer firme na doutrina, a não correr atrás de teorias, falsas doutrinas e falsas profecias que o obrigam a abandonar a verdadeira fé em troca de uma prosperidade barata. De fato, permanecer na doutrina aprendida ajuda a ter um conhecimento seguro de Deus e de Jesus Cristo, evitando manipulações da Palavra de Deus.

  1. Aprofundar os textos sagrados

Para Teófilo, aprofundar os textos sagrados consistia em ler com atenção, fé, inteligência e bom senso o evangelho de Lucas e o livros dos Atos dos Apóstolos. Teófilo devia, a partir destes dois textos, esclarecer as dúvidas, confirmar a sua fé e predispor-se a anunciar a Boa Nova aos outros. Para os cristãos de hoje, aprofundar os textos sagrados passa por estudar a Bíblia  com sede de Deus e com o coração aberto a seguir a sua vontade. Infelizmente, muitos cristãos são preguiçosos na leitura da Bíblia, limitam-se a escutar as homilias e reflexões dos sacerdotes e pastores, e não sentem a necessidade de entrar em contato pessoal com a palavra de Deus diariamente. É preciso que todo o cristão tome a firme decisão de ler a Bíblia todos os dias, pois a palavra nela contida é inspirada por Deus e útil para ensinar, repreender, corrigir e instruir na justiça para que a pessoa seja perfeita e perfeitamente instruída para toda boa obra (2 Tim 3, 16-17). Vale aqui também lembrar o que o Papa Francisco diz na Carta Apostólica Aperuit illis, número 4, que “a Bíblia não pode ser patrimônio só de alguns e, menos ainda, uma coletânea de livros para poucos privilegiados (…). A Bíblia é o livro do povo do Senhor…”.

  1. Fazer uma leitura libertadora da Palavra de Deus

Na segunda parte do evangelho de hoje (4, 14-21) Jesus entra numa sinagoga e lê uma passagem do profeta Isaias que dizia respeito à libertação do povo dos males sociais que o apoquentavam. Jesus atrave-se a fazê-lo embora soubesse que nem todos o aceitavam. Ele o faz para desafiar os seus ouvintes a ler os textos bíblicos como palavra viva e eficaz (Hebreus 4, 12) e não como  um texto morto. Para o cristão de hoje, trata-se de tomar a Palavra de Deus como uma mensagem atual e que tem poder para transformar a cultura da morte em cultura de vida. A palavra é viva e eficaz e deve ser lida com fé no seu poder transformador. Ela pode converter os corações, consolar os aflitos, animar os abatidos, curar os doentes, levar à vida plena. Sempre que lermos um texto bíblico devemos nos questionar sobre a transformação que a mensagem divina pretende realizar em nós, nas nossas famílias, na nossa Igreja e na nossa sociedade.

  1. Ter os olhos fixos em Jesus

O texto do evangelho afirma que os olhos de todos, na sinagoga, estavam fixos em Jesus (Lucas 4, 14). Importa notar que o fixar os olhos em Jesus não foi apenas por admiração, mas também porque os ouvintes desejavam saber mais de Jesus. Para o cristão de hoje, fixar os olhos em Jesus não é uma atitude de mendigo, um esperar favores e milagres de Jesus. O cristão fixa os olhos em Jesus porque deseja saber mais dele, conhecê-lo melhor, conversar mais com ele, interagir mais com ele. Fixar os olhos em Jesus é desejar ouvir a mensagem que Ele tem para a humanidade dos nossos tempos. Fixar os olhos nele é aceitar desviar os olhos das coisas inúteis para olhar para o que verdadeiramente importa, a saber, a pobreza do povo, as injustiças, a dor e o sofrimento dos mais excluidos, a cultura da morte que tende a impor-se sobre a cultura da vida. Fixar os olhos em Jesus é, em suma, desejar ter um conhecimento seguro sobre Ele.

 

Desejo a todos e todas um feliz domingo da Palavra de Deus. Que a Palavra do Senhor ilumine os nossos caminhos e anime todas as pastorais da nossa Igreja.