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Um profeta só é desprezado na sua terra

Ez 2,2-5; Sl 122 (123); 2Cor 12,7-10; Mc 6,1-6

As leituras deste domingo têm um sujeito comum, o profeta, isto é, uma pessoa comum que, apesar da sua fragilidade, é suscitada e enviada por Deus para ser, no mundo, testemunha do Seu projecto de salvação.

A primeira leitura (Ez 2,2-5) apresenta-nos um extrato da vocação do profeta Ezequiel, uma iniciativa de Deus que chama um “filho do homem”, ou seja, alguém com limites e fragilidades próprias do ser humano, para ser, no meio do seu Povo, a Sua voz convidando-o à conversão. O próprio Deus, entretanto, não esconde ao profeta as dificuldades desta missão, pois trata-se de converter um povo teimoso e de coração duro. O importante, contudo, é que, quer este o escute e se converta quer não, ele, o profeta, seja uma insistente e incansável presença de Deus no meio do seu povo.

A segunda leitura (2Cor 12,7-10) apresenta-nos um outro profeta, Paulo, profeta dos gentios, que se dirigindo à comunidade de Corinto, lamenta-se das dificuldades encontradas na sua missão, que ele chama de “espinho na carne”. Tais dificuldades mostram como Deus age e manifesta a sua vontade através de instrumentos limitados. Aliás, estas limitações, longe de serem um obstáculo para a missão, acabam sendo uma ajuda para o profeta não se orgulhar, mas ter consciência de que tudo é graça de Deus. De facto, ao seu pedido para ser aliviado das tribulações, Deus responde: “Basta-te a minha graça, porque é na fraqueza que se manifesta todo o meu poder”. Por isso, o profeta conclui: “quando sou fraco então é que sou forte”. Portanto, a veracidade do ministério do profeta, não obstante as suas limitações humanas, é determinada pela graça daquele que o chamou e enviou, Deus.

O Evangelho (Mc 6,1-6) apresenta-nos outra figura de profeta, Jesus, o filho de Deus, o profeta por excelência. Entretanto, justamente na terra onde cresceu, Nazaré, apesar dos seus ensinamentos e as obras de suas mãos maravilharem a todos os que o ouviam falar e o vêm agir, é rejeitado pelos seus conterrâneos a ponto de lhes causar escândalo. Trata-se do escândalo causado pela sua humanidade, pela sua simplicidade. Portanto, o facto dos seus conterrâneos conhecerem a sua origem humilde, a sua história, impede-os de o acolherem como mestre e profeta. E, diante desse facto, Jesus comentou: “Um profeta não é desprezado senão na sua pátria”. Face a igual falta de fé, Jesus não pôde “realizar nenhum milagre, mas apenas impor as mãos sobre alguns enfermos e curá-los”.

Pelo baptismo, todo cristão é profeta, isto é, pessoa a quem Deus confia e envia ao mundo para testemunhar o Seu projecto de amor, anunciando-o, denunciando tudo o que lhe é contrário e renunciando todas as comodidades que podem impedir de viver esta sua vocação. A liturgia da Palavra deste domingo convida-nos, portanto, por um lado, a termos consciência de que, apesar das nossas limitações e fragilidades, Deus conta connosco. As dificuldades que encontramos, como qualquer obstáculo, longe de servirem de desculpa para não cumprirmos com a nossa missão, podem tornar-se uma oportunidade, porque o Senhor está ao nosso lado e é Ele quem nos dá a graça e a força para superar os nossos limites e cumprir o que Ele nos manda realizar. Por isso, mesmo quando não somos ouvidos ou quando somos rejeitados, não devemos desanimar, mas termos consciência de ter sido chamados e enviados para sermos uma insistente e incansável presença de Deus no mundo. Por outro lado, a liturgia da palavra deste domingo convida-nos a nos livrarmos da tentação de julgar os profetas com base nas suas origens ou posição, não reconhecendo aqueles que, com as suas palavras e o seu estilo de vida nos mostram o que Deus quer de nós, por aparentarem ser pessoas frágeis e limitadas. A Graça de Deus revela-se através da fraqueza e da fragilidade desses instrumentos humanos que Ele escolheu, chamou e enviou.

Peçamos ao Senhor Jesus, que conheceu a rejeição e a humilhação, a graça de caminhar como seus discípulos, mesmo no momento de incompreensão e de dificuldade de testemunhar.