Caros irmãos em Cristo.
Celebramos hoje a Solenidade da Santíssima Trindade. E, para que esta nossa celebração tenha a dignidade que merece e produza frutos de salvação na nossa vida, exíge-se de nós aceitar a ordem que Jesus deu ao deficiente surdo mudo . A ordem dizia: ” Effatha”, que quer dizer abre-te! Na verdade, nós precisamos nos abrir, por inteiro, a Deus que Se revela, para assim, podermos conhece-l’O e, para que Ele possa entrar no nosso eu, a fim de nos purificar e transformar em Sua morada. Assim, saberemos que o nosso Deus é um Deus Trindade; um Deus família, em Três Pessoas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo; e, por via deste conhecimento e desta relação, passaremos a fazer parte desta grande família, a família de Deus.
O conhecimento de Deus Trindade , passa pela leitura e compreensão da Sagrada Escritura. Porque é na Sagrada Escritura onde Deus Se revela a nós de forma progressiva, partindo de uma revelação pouco clara para uma revelação isenta de interrogações, em Jesus Cristo Seu Filho.
A Trindade Divina no Antigo Testamento
No A.T. não podemos falar de Deus Trindade mas de um Deus que Se revela, ao mesmo tempo, no singular e no plural. Para isto examinemos algumas passagens da Escritura Sagrada:.
Em Gn 1, 1-2, fala-se de Deus que cria e do Espírito de Deus que paira sobre as águas. Em Gn 1,26, vem assim: ” Deus disse: façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança.” Deus disse, (singular) e façamos ( plural). Em Gn 18,1-2, Iahweh visita Seu servo Abraão. Mas Abraão, ao abrir os olhos, viu três Senhores. Contudo, na sua intervenção Abraão não disse Senhores mas Senhor. Três pessoas que constituem um único Senhor. Em Is 7, 13-17, a profecia diz: ” Uma virgem concebeu e dará à luz um Filho que será chamado Emmanuel.” Aqui já se fala, claramente, de Deus que habitará connosco.
Revelação de Deus Trindade no Novo Testamento
No N.T. a revelação de Deus, como Trindade Santa, está enraizada nas diferentes manifestações do mesmo Deus no Antigo Testamento. Porque é dentro do A.T. que encontramos a figura do Filho de Deus,( profecia de Isaías). Se se revela o Filho de Deus que vai nascer, é sinal que há um Pai que é Deus. Este Deus é ao mesmo tempo um Espírito que no princípio da criação pairava sobre as águas . E para completar o mistério, temos Iahweh que visita Abraão manifestando-Se em três Senhores que constituem um único Senhor. É com base nestas manifestações que acreditamos que as raízes da revelação Trinitária presente no Novo Testamento estão no Antigo Testamento.
Evidências do mistério Trinitário no Novo Testamento
Em LC 1,26-38, o Anjo Gabriel revelou à virgem Maria assuntos relativos a Deus Pai sobre o Seu Filho que seriam possíveis, por meio dela, pela acção do Espírito Santo. Em Jo1,1-15, Prólogo de João, fala-se de Deus e do Verbo na criação e, ainda, deste Verbo que Se fez carne. Em Jo 1, 9-11, temos o baptismo de Jesus. Depois que Jesus saiu da água, os céus rasgaram -se e o Espírito Santo manifestou-Se acompanhado pela voz do Pai que falou com o Seu Filho. Em Mt 17, 1-13, temos a Transfiguração. Aqui, o Pai manifesta-Se aos presentes, Pedro Tiago e João, a respeito do Seu Filho, repetindo o discurso que fizera depois do baptismo, somente com um acréscimo: ” Escutai-O.” Em Jo 10,30-36, Jesus afirma: ” Eu e o Pai somos Um.” Em Jo 14, 16-18 Jesus fala do Pai e do outro Paráclito que Ele enviará em Seu nome. E em Jo 5, 19-25 temos o discurso de Jesus a respeito das obras do Filho. Isto, só para dar alguns exemplos. Depois que ficou claro que, o mistério Trinitário de Deus está dentro da Sagrada Escritura, já podemos passar para a etapa seguinte, a etapa da nossa relação com Deus. Na verdade, não basta, somente, acreditarmos em Deus Trindade, é preciso que acreditemos que Ele está perto de nós e quer estar presente nas nossas vidas para nos ajudar a voltar à condição pela qual Ele nos criou, o retorno à Sua imagem e Semelhança, à filiação Divina e à felicidade eterna. Portanto, fomos criados como família de Deus e devemos aceitar voltar a ser família de Deus. Só desta maneira é que conheceremos o verdadeiro significado do mistério de Deus Trindade na nossa vida. E o único caminho de acesso a este significado é a nossa abertura a Ele; não há outro caminho; O “Effatha” a Deus é o único caminho para a nossa libertação.
Mas como é que isso se pode compreender? Simples quanto profundo. Vejamos: Quem se abre a Deus, passa a ter uma forte experiência com Deus; uma experiência única, convincente e transformadora. E, como resultado desta experiência, a pessoa aceita deixar-se possuir, iluminar, instruir e guiar pelo Espírito de Deus. E por meio deste Espírito, a pessoa toda, passa a ter a dignidade de filho adotivo de Deus, o que lhe leva a chamar Deus de Pai, aceitando que Jesus é irmão e amigo pelo vínculo do Espírito Santo. Assim, chegado a este estágio, o novo filho adotivo de Deus mostra-se disponível em colaborar com Ele na salvação dos seus irmãos. Tudo isto é o que nos traz a liturgia desta solenidade cujas leituras foram extraídas de DT 4, 32-34.39-40; Em 8, 14-17 e Ev Mt 28, 16-20. Assim, chegamos à conclusão de que a exortação de Moisés ao seu povo, presente na primeira, leitura, era resultado da sua própria experiência com Deus.
Benefícios da fé em Deus Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo
Eu acredito, com base na minha experiência pessoal que, ter fé em Deus não é igual em ter fé em Deus Trindade; eu estou totalmente convencido disto. E, por quê? Porque aquele que, somente, tem fé em Deus, não consegue cultivar uma relação de profunda intimidade, de profunda aproximação com Deus. É verdade que este, acredita plenamente que Deus é criador mas nunca fala do Salvador. Mas Deus, não é somente criador, Ele é também Salvador. O que tem fé em Deus que não é Trindade, também acredita que Deus é origem e fim de todas as coisas e, acredita, ainda, que existem atributos que são somente de Deus. Por tudo isto, ele não fica vedado ao alcance da santidade. Enquanto que, aquele que acredita em Deus Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, a sua relação com Deus é plena, em Jesus Cristo Filho de Deus. Ele sabe que participa da condição Divina em Jesus encarnado e que Se ofereceu em Sacrifício por ele. Sabe também que por via da encarnação e do Sacrifício de Cristo ele é filho adotivo de Deus e irmão e amigo de Cristo. A figura de Pai e de irmão a que experimentamos nas nossas relações, apesar de imperfeitas, permitem-nos, por analogia, compreender o mistério de Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Esta relação de intimidade com Deus Trindade, cria uma estrutura de oração diferente daquele que é criada pelos que não acreditam em Deus Trindade. Ora vejamos: uma coisa é estar em sintonia com Deus e outra coisa é estar diante de Deus Pai ou diante de Jesus, irmão e amigo. Uma coisa é estar em comunicação com Deus sem saber como e , outra coisa, é saber que temos o Espírito de Deus, que brota do Pai e do Filho, cuja acção torna possível esta relação. Portanto, a espiritualidade Cristã é uma espiritualidade de comunhão plena com o Pai e com o Filho pela acção do Espírito Santo.
Perguntas para refletir:
- Será que quando dizes Pai nosso estás plenamente convencido deste mistério?
- Acreditas que tudo o que Jesus te diz na Sagrada Escritura são palavras de um irmã e amigo que te ama?
- Já sentiste o impulso ou a chama do Espírito Santo na tua vida?