A liturgia do Primeiro Domingo da Quaresma nos mostra o sentido e indica o tom que terão os quarenta dias que tempos pela frente, enquanto nos preparamos individual e coletivamente para a Páscoa do Senhor.
O Evangelho é breve, mas contém as palavras-chave desta caminhada:
a) Espírito Santo conduz Jesus. A Quaresma é o tempo privilegiado para redescobrir este “dom de Deus” que guia e fortalece os filhos de Deus. É o tempo para exercitarmos mais o discernimento, para sabermos perceber o que vem de Deus e o que vem do mundo ou da carne. É o Espírito de Deus que nos permite vencermos as tentações que nos rodeiam, iluminados pela Palavra do Senhor, que é justamente inspirada pelo Espírito. A Quaresma nos ajude a termos uma cada vez maior familiaridade com o Espírito Santo, a vivermos conscientes de termos sido revestidos por Ele, pois fomos todos constituídos profetas pelo baptismo e não recebemos um Espírito de timidez.
b) Deserto. Jesus refaz a experiencia de Israel na saída do Egipto, em direcção à terra prometida. O deserto lembra a dureza da vida, a fome, a sede, o cansaço, o desânimo, enfim todo tipo de provação. O “deserto quaresmal” vem lembrar-nos que a vida é um duro combate, que precisamos de fortaleza, de resistir ao mal e aderir decididamente ao bem. Este tempo nos ajude a encontrarmos o lugar para a penitência, para o jejum, para a austeridade de vida, para a abstinência. A Quaresma nos ajude a acolher e aceitar o sofrimento, a dor, a morte, como lugares de salvação e de renovação da vida.
c) Quarenta dias. A Quaresma nos recorda ainda o valor e o sentido do tempo. Como usamos o nosso tempo? Quanto tempo dedicamos ao encontro com Deus na oração, na meditação, na adoração, no silêncio? Não será que o nosso novo deus se chama telefone celular? Será que o tempo que Deus nos dá está mesmo a servir para glória de Deus e para salvação dos irmãos?
d) A pregação de Jesus se resume numa frase: “Cumpriu-se o tempo e está próximo o Reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho”. Uma afirmação, que é um despertar-nos para uma realidade a perceber e assumir. Há algo novo diante de nós e as coisas já não serão mais as mesmas. Esta nova realidade traz uma exigência que está no apelo de Jesus: arrependei-vos e acreditai. Converter-se e crer são desde muito as exigências da Aliança para a qual Deus nos convida, uma Aliança de vida definitiva (1ª leitura), de liberdade plena (mensagem do Papa para a Quaresma 2024).