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IV Domingo do Tempo Comum – Ciclo B

As leituras deste Domingo de II Domingo no tempo comum nos dizem que a palavra de Deus dói. Dói para quem a transmite e dói quem recebe e tenta colocar em prática. Dói a quem a transmite, porque se olharmos para a história vemos que os profetas, que proclamaram com força a palavra de Deus, quase todos terminaram “mal”, com algumas exceções; Dói também quem o recebe, porque, ao recebê-lo, expõe-se à tempestade, pelos problemas que ela suscita e que antes não tinha. Para começar: tranquilidade.

Hoje há muitas Cafarnaum e muitas sinagogas. Devemos reconhecer que é necessário libertar-nos dos preconceitos se quisermos viver livres e em paz connosco próprios.

A primeira leitura da liturgia de hoje esclarece o significado da palavra “profeta” e diz-nos que não é a mesma coisa que adivinho, mas significa “falar em nome de Deus”. além disso, sabemos que para Israel apenas a Torá (No princípio, Nomes, E ele chamou, no deserto, Palavras) foi estudada, como norma, para regular sua conduta de vida; mas não sobre os profetas, porque os rabinos e escribas estavam ali para interpretar a palavra da Lei. O autor do trecho de hoje diz que Moisés «falou ao povo dizendo: O Senhor vosso Deus vos suscitará… um profeta como eu; a ele ouvireis». Assim, deduzimos que o primeiro profeta foi Moisés que, falando em nome de Deus, intercessor entre Deus e o rebanho, o profeta por excelência a quem deverão ouvir como também o Pai.

No Salmo de hoje, 94, o Salmista nos convida a louvar o Senhor, exaltá-lo e prostrar-nos diante Dele porque ele é Santo. Santidade misericordiosa de Cristo ligada à sua Igreja. Hoje a Igreja propõe que rezemos este Salmo todas as manhãs, ao início do dia, porque o mal de ontem acaba se ouvirmos a sua voz, a sua Palavra: Cristo Senhor.

A segunda leitura da liturgia de hoje foi extraída, da 1ª carta de São Paulo aos Coríntios. Respondendo a uma pergunta que fez sobre o casamento, ele exprime não a vontade do Senhor, mas o seu próprio ponto de vista: como o mundo não durará a eternidade e o seu fim está próximo, a humanidade não precisa ser renovada com o casamento. A partir destes versículos podemos compreender porque é que o casamento foi excessivamente subestimado ao longo dos tempos e agora podemos dizer que tanto o casamento como o celibato devem ser uma escolha de amor para agradar a Deus.

O evangelho deste domingo é muito importante para a compreensão da palavra de Deus. O evangelista São Marcos apresenta-nos um dia típico vivido por Jesus e pelos seus discípulos: o chamado “dia de Cafarnaum”. Cafarnaum, é uma antiga cidade da Galiléia, localizada às margens noroeste do Lago de Tiberíades, local de passagem entre a Palestina, o Líbano e a Assíria, importante centro comercial, com população mista. Jesus inicia a sua pregação nesta pequena cidade, escolhida como lugar de paragem com os seus discípulos nos seus itinerários pela Galileia e pela Judeia, e realiza numerosos milagres, entre os quais aquele narrado no trecho de hoje. Durante um dia normal, Jesus pregava e ensinava, encontrava pessoas libertando-as do mal e curando-as, orava.

Certamente havia tempo e espaço para comer com o seu povo, para estar com a sua comunidade e para ensiná-los como deveriam viver para acolher o reino de Deus já presente entre eles. O dia descrito é um sábado, o dia do Senhor, durante o qual o judeu vive o mandamento de santificar o sétimo dia e vai à sinagoga para adoração. Jesus e os seus discípulos dirigiram-se também à sinagoga de Cafarnaum onde, depois de ler um trecho da Torá de Moisés e uma perícope dos Profetas, um homem adulto pôde falar e comentar o que havia sido proclamado. Jesus é um crente do povo de Israel, é um leigo, não um sacerdote, e exerce esse direito. Ele vai até o ambão e faz sua reflexão. São Marcos destaca o facto de que aqueles que ouviam Jesus ficavam impressionados com seus ensinamentos. Com esta ênfase o evangelista quer realçar o facto de os ouvintes terem ficado maravilhados quando o ouviram, ficaram fascinados, a ponto de comentarem dizendo que era alguém que falava com autoridade.

Portanto, muito diferente do modo de falar dos escribas, dos conhecedores das Sagradas Escrituras, Jesus tocou o coração e sobretudo envolveu a vida de quem ouve. Ele, semelhante a Moisés, demonstra que possui uma autoridade rara e sem precedentes. Nele há uma palavra que vem do seu íntimo, uma palavra que vem de um silêncio vivido, uma palavra dita com convicção e paixão, uma palavra proclamada por quem não só acredita no que diz, mas o vive. É sobretudo a coerência vivida por Jesus que lhe confere esta autoridade que se impõe e envolve. Ele sabe penetrar no coração de cada um dos seus ouvintes, que são levados a pensar que o seu é “um ensinamento novo”, ao mesmo tempo sábio e profético, uma palavra que vem de Deus, que sacode, “dói” e convence.

A autoridade de Jesus é demonstrada imediatamente a seguir com um acto de libertação de um homem possuído pelo mal. A presença de Jesus na sinagoga é uma ameaça a esta força demoníaca, e por isso a verdade é gritada: “O que há entre nós, Jesus de Nazaré? veio para nos arruinar? Eu sei quem Tu és: o Santo de Deus!”. Um novo ensinamento, dado com autoridade. Assim como o texto do evangelho de hoje começa, termina. Jesus, de facto, ensina como alguém que tem autoridade e pode fazê-lo com razão, pois é o Filho de Deus. Podemos concluir que graças à palavra nova e eficaz de Jesus, quem a escuta entra num caminho de fé e de conversão. O reino de Deus aproximou-se verdadeiramente do homem e Jesus é cada vez mais reconhecido como uma presença através da qual o próprio Deus fala e age em toda a comunidade de cristão em toda a terra.

Revisão da vida: Onde encontramos Jesus no nosso quotidiano?

Desejo a todos e a todas saudações em Cristo Jesus…!
Um abraço. Ir. Pe. Alberto Sissimo, psdp