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A terra pertence a todos, não aos ricos

A primeira leitura de hoje utiliza substantivos que se estão a tornar demasiado comuns para nós, tanto nas nossas sociedades como nos nossos países: estrangeiro, viúva, órfão e vizinho pobre. Nos tempos antigos, tal como nos nossos, estes substantivos eram um sinal ou um reflexo de desamparo e pobreza. Os ricos e os poderosos geralmente alinham a pobreza com o destino ou a preguiça, mas sabemos com certeza que na maioria das sociedades e países, a pobreza é o resultado de injustiças estruturais que privilegiam alguns enquanto marginalizam outros.

A Igreja chama os seus membros a dar opção preferencial pelos pobres. Isto significa que devemos pensar primeiro nas necessidades daqueles que são mais vulneráveis. Os pobres e vulneráveis têm um lugar especial no reino de Deus. Colocar em prática a opção preferencial pelos pobres significa considerar o impacto da nossa decisão e das políticas públicas sobre os membros mais vulneráveis da sociedade.

Cristo ensinou que quando alimentamos os famintos, oferecemos hospitalidade ao estrangeiro, vestimos os nus, cuidamos dos enfermos e visitamos os presos, estamos a cuidar Dele. O Papa Francisco ensina que a medida da grandeza de uma sociedade se encontra na forma como ela trata os mais necessitados, aqueles que não têm nada além da sua pobreza!

No seu ensinamento social, a Igreja insiste que os pobres e vulneráveis devem ter um lugar especial nos corações e nas acções dos seus filhos. A tradição cristã chama-nos a colocar as necessidades dos pobres e vulneráveis em primeiro lugar. Somos chamados a responder às necessidades de todos os nossos irmãos e irmãs, mas aqueles que têm maiores necessidades exigem a maior resposta.

No Evangelho de hoje, Jesus ensina-nos que a nossa resposta ao clamor dos pobres, dos desamparados e dos vulneráveis deve ser sempre o amor. O amor a Deus e ao próximo é a única resposta que o cristão deve dar sempre. Como filhos de Deus, devemos sempre resistir à tentação de tirar vantagem dos pobres e dos vulneráveis. A tentação de usá-los como escravos com o único propósito de enriquecer. A tentação de empurrá-los ainda mais para as margens da sociedade e de não querer ouvir a sua voz. Precisamos também de acabar com a mentalidade de que estamos a fazer-lhes um favor ao ajudá-los.

Para nós, cristãos, isto não é um favor, mas um dever e uma vocação. Santo Ambrósio disse: “Você não está dando o que é seu ao pobre, mas está devolvendo-lhe o que é dele. Você tem se apropriado de coisas que deveriam ser de uso comum de todos. A terra pertence a todos, não aos ricos.”

Como cristãos, precisamos estar sempre ao lado dos pobres. Precisamos de reconhecer, lutar e vencer conscientemente as forças da ganância, da violência e da morte que os esmagam. A nossa resposta de amor chama-nos a acabar com as estruturas que empurram as pessoas para a vulnerabilidade, o desamparo e a pobreza. Como cristãos, precisamos de nos ensinar a sermos capazes de ver Cristo presente nos pobres e marginalizados, e juntar-nos à sua luta para acabar com a pobreza e a dor.