A renovação do mundo e da Igreja pelo Espírito Santo
Celebramos, hoje, a solenidade do Pentecostes, ou seja, a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos e Maria reunidos em oração no cenáculo. Pentecostes significa “cinquenta dias” e celebra-se, de facto, cinquenta dias depois da Páscoa. Trata-se de uma festa com raízes na tradição de Israel onde inicialmente se celebrava o fim das colheitas, ocasião em que se davam graças a Deus pelos dons recebidos, frutos da terra e do trabalho do homem. Mais tarde, passou a ser também a fasta de gratidão a Deus pelo dom da Lei e da Aliança.
O facto do Livro dos Actos dos Apóstolos, que escutamos como primeira leitura, situar o dom do Espírito Santo no contexto de tal festa judaica é muito sugestivo: o Espirito Santo é a nova Lei, uma Lei não mais escrita em tábuas de pedra, mas inscrita em tábuas de carne, isto é, no coração do homem, transformando-o num coração alegre e cheio de esperança. É o que acontece com os discípulos de Jesus que, antes mesmo da morte do seu Mestre, permanecem timidamente escondidos, com medo de possíveis perseguições. O medo, uma emoção natural, de per si boa, torna-se má quando nos paralisa. Isso aconteceu com os onze. Jesus Cristo ressuscitou dos mortos, mas eles permanecem como que mortos. O Espírito Santo, porém, restaurou-lhes a fé e infundiu-lhes a coragem de serem anunciadores da mensagem de Cristo em qualquer situação. Por isso, depois de O receberem, aparecem em público louvando e exaltando a Deus, cada um exprimindo-se de modo tal que eram compreendidos por cada um dos presentes, não obstante a sua proveniência ou a sua diferença étnica ou cultural, criando, assim, comunhão entre os diversos, unidade na pluralidade, compreensão de tantos que falam línguas diversas. São tantas línguas, mas a mensagem é uma e única: o amor de Deus alcançou a sua victória plena na Páscoa de Cristo.
Na segunda leitura, tomada da Primeira Carta aos Coríntios, o apóstolo Paulo faz-nos compreender como a unidade e a diversidade na Igreja é dom do Espírito Santo. Tomando como exemplo a unidade e a harmonia do corpo humano, ele faz-nos ver como a Igreja é comunhão, é comparticipação onde todos e cada um dos seus membros é chamado a dar-se para a construção da comunidade. Textualmente, escutamos: “Em cada um se manifestam os dons do Espírito para o bem comum”. Ninguém, portanto, na Igreja, deve autoexcluir-se e sentir-se não protagonista com os dons que Deus lhe concedeu.
No Evangelho, João mostra-nos como Jesus que, antes da Ascensão, assegurou aos seus discípulos que lhes enviaria o dom do Espírito Santo que os conduziria à verdade plena, iluminando-lhes e inspirando-lhes em todas as ocasiões, cumpre com a sua promessa: 1. Coloca-se no meio deles, restituindo-lhes aquele ponto de referência que, com a sua morte, se tinha perdido, deixando-os desorientados e com medo; 2. Deseja-lhes a paz que é a serenidade necessária para superar o medo e a insegurança que os dominava e os paralisava; 3. Mostra-lhes os sinais da sua entrega e do seu amor incondicional por eles, manifestado na cruz: as suas chagas; 4. Comunica-lhes o Espírito, a vida nova, soprando sobre eles; 5. Chama-lhes à responsabilidade de começar um novo caminho em cujo centro está a responsabilidade de levar a todos o perdão e a reconciliação.
O Pentecostes, portanto, é a festa um novo começo, tempo em que, quem se faz discípulo de Jesus Cristo é chamado a construir uma nova comunhão com Ele e com os homens. Como os discípulos de Jesus, abramo-nos, pois, ao Espírito Santo, deixando de considera-lo como algo exterior a nós, mas como o verdadeiro Consolador que, inscrito em nossos corações, transforma-os, de corações tristes e abatidos, em corações cheios de alegria e de esperança.

27
Mai