MENSAGEM FINAL DA IV ASSEMBLEIA NACIONAL DE PASTORAL
- Reunidos em pleno Tempo Pascal, para a fase celebrativa da IV Assembleia Nacional de Pastoral, nos dias 17-21 de Maio na Arquidiocese de Nampula, nós, bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas, leigos e leigas, provenientes de todas as dioceses, como Família de Deus em Moçambique, sob a guia do Espirito Santo e confortados com a presença de ilustres convidados, queremos, deste modo, dirigir-vos a nossa fraterna e calorosa saudação e partilhar convosco os frutos dos trabalhos desta etapa determinante do itinerário da IV Assembleia Nacional de Pastoral.
- O momento inaugural foi marcado por uma solene Celebração Eucarística na Sé Catedral, presidida por Sua Excelência Reverendíssima Dom Inácio Saure, IMC, Arcebispo de Nampula e Presidente da Conferência Episcopal de Moçambique. Além dos Bispos e dos delegados das dioceses, tomaram parte numerosos sacerdotes, religiosos e religiosas e um significativo número de fiéis que acorreram à Sé Catedral para oferecer acolhimento e rezar com os delegados. Merece particular destaque a amável presença das Autoridades civis, em especial de Sua Excelência o Senhor Manuel Rodrigues Alberto, Governador da Província de Nampula, que apresentou aos participantes fraternas saudações e votos de um trabalho frutuoso.
- Ao darmos graças a Deus por este rico momento, verdadeiro dom que nos vem do Alto, agradecemos pelas bênçãos que Ele concede à nossa Igreja em Moçambique, através da realização desta IV Assembleia Nacional de Pastoral, pelo tema tão significativo sobre a Palavra de Deus, pelo simbolismo do momento e pela modalidade através da qual vem acontecendo.
- Com efeito, subordinada ao lema Reavivar o Anúncio e o Testemunho da Palavra de Deus Hoje, a fase celebrativa da IV Assembleia aconteceu nas vésperas do Pentecostes e na sequência das três precedentes Assembleias, obedecendo a um itinerário progressivo, precisamente quando toda a Igreja é convocada para refletir sobre a sinodalidade, vivemo–la como um evento inspirado pelo Espírito Santo que acompanha e fala à Igreja que está em Moçambique. Os trabalhos consistiram em quatro momentos fundamentais: primeiro, avaliámos a caminhada da Igreja em Moçambique através das três precedentes Assembleias Nacionais; segundo, discernirmos os sinais dos tempos do momento atual no qual somos chamados a exercer a nossa missão; terceiro, aprofundámos o significado do núcleo fundamental do anúncio cristão; por último, debruçámo–nos sobre os meios a privilegiar para reavivar o anúncio e o testemunho da Palavra de Deus.
- Ao avaliar o caminho da Igreja em Moçambique, através das anteriores Assembleias, constatamos um rico legado que nos inspira e motiva a dar novos passos na consolidação da nossa identidade e missão. Percebemos que a I Assembleia Nacional foi fundamentalmente de caráter eclesiológico–pastoral, na medida em que se concentrou sobre a própria identidade de Igreja, buscando o seu ser e agir no contexto da revolução de Moçambique independente; a II Assembleia procurou identificar os meios para consolidar a Igreja local em Moçambique; e a III Assembleia refletiu sobre a evangelização no contexto da emergência dos novos areópagos. E agora, esta Assembleia, perante as rápidas transformações e os desafios do momento atual, convida a Igreja em Moçambique a colocar Jesus Cristo, Verbo encarnado, no centro da sua identidade e missão.
- Chamados a Reavivar o Anúncio e Testemunho da Palavra de Deus Hoje, com a importante contribuição dos relatores, aprofundamos o núcleo central do anúncio cristão. A Palavra de Deus não é outra realidade senão o próprio Jesus Cristo, Verbo feito carne, enviado como homem para os homens (DV 4), o Anunciador Primordial, que nos deu a conhecer a verdade profunda tanto a respeito de Deus como a respeito da salvação dos homens (cfr DV 4). Por essa razão, Ele é simultaneamente o Mediador e a Plenitude de toda a Revelação. Mas é também Ele que dá e habilita a Igreja a ser primeira anunciadora da Palavra. Na verdade, é Ele que as Sagradas Escrituras, o Antigo e Novo Testamento, anunciam; é Ele que é acolhido, professado na fé pelos discípulos, celebrado na liturgia, ensinado na catequese e testemunhado na caridade pela vida dos fiéis. Como diz a Carta aos Hebreus, Ele é a Palavra de Deus viva e eficaz, mais penetrante que uma espada de dois gumes; penetra até o ponto de dividir alma e espírito, junturas e medulas, e julga os pensamentos e as intenções do coração (cfr Heb 4, 12).
- Daqui compreendemos a importância de trabalharmos para que cada homem e mulher se encontrem verdadeiramente com Cristo, capaz de transformar a mente e a vida das pessoas (cfr. Rom 12, 2). Como nos ensina o Papa Francisco, no início do caminho de fé há um encontro, aliás, há o encontro com Jesus, que nos fala do Pai, nos faz conhecer o seu Amor. E assim também em nós surge espontaneamente o desejo de comunicá–lo às pessoas que amamos: encontrei o amor, encontrei o sentido da minha vida, numa palavra encontrei Deus (Papa Francisco, discurso de 21.01.21). É igualmente evidente o carácter da formação cristã, que não se confunde com a simples aquisição de um conjunto de informações e conhecimento. A Formação cristã consiste no discipulado.
- A escolha de realizar a IV Assembleia através de um itinerário gradual que contempla diferentes fases desde as pequenas comunidades, passando pelas paróquias e pelas províncias eclesiásticas, até a esta fase celebrativa, foi para favorecer a participação e auscultação de um maior número de fiéis, o que muito nos ajudou a tomar a consciência de que já estamos a fazer um caminho sinodal e estamos em sintonia com a Igreja universal que também, convocada e guiada pelo Papa Francisco, está a realizar, obedecendo diversas etapas, o caminho sinodal sob o tema: Por um Igreja sinodal: comunhão, participação e missão.
- Somos, obviamente, desde a I Assembleia, uma Igreja–família, comunhão de comunidades ministeriais. Mas agora, neste momento providencial, percebemos com mais clareza que somos também chamados a consolidar o nosso ser Igreja de discípulos que caminham, escutam e anunciam juntos a Palavra. Desde o início dos nossos trabalhos, percebeu–se a exigência de um caminhar juntos. Efetivamente, começamos com clara disposição de todos fazermos um exercício de escuta: escutar a Palavra de Deus, escutar o que o Espírito tem a dizer à nossa Igreja hoje, escutarmo–nos, uns aos outros e, não só, mas também o mundo que nos rodeia. Na homilia da Missa de abertura, o Presidente da CEM, partindo dos textos litúrgicos do dia, dizia: o texto sugere–nos que o anúncio da Palavra se torna perfeito quando discípulos e apóstolos trabalham juntos. A missão é comunitária e não admite quaisquer individualismos. Jesus quis que seus apóstolos constituíssem um grupo particular, mas não para lhes dar privilégios em detrimento da missão comum de todo o Seu discípulo. Na mesma senda, durante os debates, quer em grupos quer em plenária, foi enfatizado de forma reiterada a necessidade de uma pastoral de conjunto, que claramente não se confunde com a uniformidade.
- Baseados no Instrumento de Trabalho e inspirados pelos expositores, foi também ficando evidente a urgência de ser uma Igreja que como a Virgem Maria se sente serva de Deus, mas também dos outros. Com efeito, serva que tendo escutado religiosamente a Palavra, acolhe–a, deixa–a encarnar–se no seu seio e apressadamente se põe em saída ao encontro e ao serviço da humanidade, em especial, dos pobres e marginalizados. Outros aspetos foram ficando igualmente mais claros, mesmo como perspetivas de linhas de ação, prioridades e meios com vista a revitalizar a pastoral do anúncio e testemunho. Mas com que recursos contar? Diversos meios foram identificados, contudo foi entre outros apontada a necessidade da redescoberta da Palavra de Deus, como a chave para a revitalização da nossa Igreja, capacitando–a a desempenhar com renovado alento a sua missão de evangelização e de promoção humana no mundo de hoje, que tem sede de Deus e da Sua palavra de fé, esperança e caridade. Impõe–se hoje a urgência de promover a Pastoral bíblica não como uma pastoral entre outras, mas como o eixo transversal dinamizador das outras pastorais. Por outras palavras, é preciso velar que as actividades de todos os sectores, comunidades e movimentos, se tenha no coração o encontro pessoal e comunitário com Cristo. Deste modo, a Pastoral bíblica será vista como uma das mediações privilegiadas para a pastoral de conjunto.
- Animados pelo dom do Espírito Santo, renovamos o nosso agradecimento a Deus pela experiência que nos permitiu viver nas diversas fases desta Assembleia. Agradecemos também a todos os que participaram e nos acompanharam com as suas orações. Proximamente, serão oferecidas a todo o povo de Deus os frutos desta Assembleia e as orientações para a sua recepção e implementação.
- Que Nossa Senhora da Imaculada Conceição, Padroeira de Moçambique, nos acompanhe, inspire e interceda por nós em todo o trabalho de reavivar o anúncio e o testemunho da Palavra de Deus hoje.
Os Participantes da Assembleia
+Inácio Saure, IMC; Arcebispo de Nampula e Presidente da CEM