Reflexão Quaresmal ( III Domingo) Ano A
Com a celebração do presente Domingo, estamos no 19º dia do nosso itinerário quaresmal, tempo de confirmação da Páscoa que se tornou vinculante em cada um dos cristãos no dia do seu Baptismo. Naquele dia, tal como diz S. Paulo, e a liturgia o vai proclamar solenemnte na Missa da Vigília Pascal – “fomos sepultados com Cristo na morte, para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos para a glória do Pai, assim também nós possamos ter uma vida nova”. Eis porquê a Quaresma que prepara a Páscoa é também um tempo baptismal, por excelência, sobretudo a partir deste III Domingo, no qual o tema da água viva, se refere a um elemento fundamental da liturgia baptismal ( a água). A Samaritana à qual Jesus pede água pode representar cada um dos sedentos da humanidade em todos os tempos porquanto, tal como exprime o prefácio da hodierna eucaristia, é à essa que é dado o dom da fé. É a Samaritana que na sua fé pede ao Mestre água viva, a água que se torna para ela fonte de vida eterna.
A passagem de Jo 4, 5-42 coloca-se no contexto dos diálogos sucessivos dos capítulos 3 e 4 do Evangelista. Nos dois capítulos estão presentes três personagens que de forma diferente acedem paulatinamente a Jesus; são os casos de Nicodemos (3,1-21), Judeu de Jerusalém e mestre em Israel; a Samaritana (4,1-42), expoente do judaísmo sismático; o funcionário real de Caná da Galileia (4,43-54), provavelmente um pagão. A narração do capítulo 4 está constituída substancialmente por dois diálogos que se exprimem no retorno de Jesus à Galileia e atravessa a Samaria, chegando ao poço de Jacob ( 4,1-3.4-6) e o diálogo com a Samaritana ( 4, 7-26): Jesus promete água viva ( 4,7-15) e, de seguida, é visto como um profeta ( 4, 16-19) e revela-se, não só como tal, mas, de facto, como o Messias ( 4,20-26). Apresenta-se em toda a passagem deste Evangelho o tema da fé em Jesus que se revela e a impreensão dos homens que não acreditam. É Ele que aparece na vida da humanidade como dom do Pai, O verdadeiro alimento cuja meta é fazer a vontade do Pai (4,31-34), e orienta os discípulos a semearem a Palavra.
O diálogo de Jesus com a Samaritana pode ser uma ocasião de reflexão que pode involver muitas dimensões da nossa vida: num único gesto manifesta-se a superação de certos comportamentos que têm por finalidade a criação de fraturas e contraposições entre os homens. Jesus fala com uma mulher, e isso torna-se um escândalo para alguns – como possível que Ele fale com alguém, que, para além de ser mulher é também de uma raça bastarda (samaritanos), de sangue misto de deportados e de invasores. Com um único gesto o Messias mostra o quanto tenha chegado justamente para destruir essa mentalidade, abater as barreiras do espezinhamento de uns pelos outros e a estabelecer a paz universal. Com Jesus as barreiras seculares já não tèm sentido de existir pois a salvação está aberta a todos; por isso mesmo Santo Padre fala tanto da necessidade das comunidades cristãs abrirem-se mais às periferias existenciais. Uma Igreja que procura intrincheirar-se em si mesma, que não tenha a coragem de pressionar os seus membros a aderirem a projectros sérios que dignifiquem a nossa caminhada de baptizados, enquanto dons para humanidade, em geral, e a cada pessoa humana, em particular. Por isso mesmo, São Paulo , na Carta aos Romanos ( Rom 1,1-2.5-8) ajuda os Cristãos da cidade de Roma a lembrarem o quanto o amor de Deus, doou o Espírito Santo como verdadeiro Dom em favor dos irmãos, para que esses, por sua vez, vivam o “ espírito novo” que não ignora os dramas e as barreiras vividos pelos homens e mulheres do nosso tempo, mas acolhê-los para poder vencê-los à luz das experiências colhidas ao longo dos anos.
Afascinados pela Sua humanidade, somos chamados a nos tornarmos, como a Samaritana, seus anunciadores no meio dos homens e das mulheres do nosso tempo.