Joy of the Gospel

NO DOM, O NOVO: NASCEU PARA NÓS!

Natal’ 2022

E Aquele que nossos corações desejavam, chega. De novo é Natal! Uma vez mais, aconchegamo-nos à volta dum Menino que nasce: Jesus de Nazaré, filho de Maria e de José. Filho de Deus. O Fruto mais bendito da nossa humanidade! Céu e terra se beijam. Divino e humano se abraçam. E soa um brado de alegria: «… um Filho nos foi dado!» (Is 9,5). O Novo, por quem suspirámos, aparece como Dom. ‘Doado’ é o outro nome de Jesus.

Deus vem habitar um corpo humano, fazer morada em nós. A fragilidade humana se torna berço divino. A nossa carne faz-se sagrada, Deus a assume para si. E a faz nova, bela! «O Divino se faz carne, e vem morar entre nós» (Jo 1,14). A Ternura e a Compaixão chegam a nós no abraço duma Criança. «Manifestou-se a Graça divina, que a todos traz a salvação!» (Tt 2,11). Hoje, nossas feridas são saradas. Nossas esperanças transfiguradas, divinizadas: «Hoje, para vós, nasceu um Salvador, Cristo Senhor!» (Lc 2,11), diz o anjo aos pastores. Os pastores eram desprezados pela sua rudeza; e o contacto com as fezes dos animais tornavam-nos “impuros”, excluídos da relação com Deus. A eles, os descartados, os sem nome nem vez, Deus convida em a fazer, em primeiro lugar, a experiência da sua Presença que salva, liberta, dá dignidade.

Tudo isso acontece na periferia de Belém. A história recomeça da periferia, dos pequeninos; não de Jerusalém, centro do poder político e religioso. Deus nasce num corral, não num palácio. Numa simples manjedoura, não num berço doirado. Deus aparece aos pastores, ignorantes e ‘impuros’; não aos sacerdotes, no majestoso templo da capital. Jesus nasce de um humilde casal da Galileia; não de uma importante família da Judeia. Deus se faz um de nós, partindo dos últimos. Para que nenhum de nós seja deixado para último.

Natal é um canto de confiança de Deus no ser humano. No Menino que nasce, nasce o rebento da Nova Humanidade.
Cada Natal é grávido de uma nova Natividade. Deus quer nascer entre nós. E mais. Em nós! Recriar a Humanidade! Neste Natal, Deus pede para habitar em ti, em mim. Para acolhê-lo, é preciso «nascer de novo» (Jo 3,7), «voltar a ser criança» (Mt 18,3), entrar no jogo divino: Ele se faz pequeno, para que eu seja grande! E eu me faço pequeno, para que os outros sejam grandes!

Celebrar Natal é rescaldar o coração, torná-lo manjedoura calorosa, acolhedora. — E sentir: Deus em mim, eu em Deus! Celebrar Natal é transfigurar a visão, torná-la olhar límpido, luminoso. — E ver: Deus está em cada ser humano!

Celebrar Natal é ser arautos de Esperança. Anunciemos, por palavras e por gestos, que há um Amor Maior, feito Criança, que nos resgata de nossos medos e egoísmos, e nos convida a alargar a tenda do nosso coração (Is 5,2). Aquele que «nasce para nós» é o mesmo que vive e morre por nós, por todos. E nos ensina que o sentido pleno da vida está no “ser para os outros”. ‘Doado’ é o outro nome de Jesus. ‘Doados’ é o outro nome dos discípulos de Jesus. No ‘Dom’ está a semente da Nova Humanidade, que deve desabrochar em cada um de nós. Hoje. Agora.

Ao longo do ano que termina ressoaram demasiadas vozes de desânimo: da crise, da fome, das guerras, da política suja… Agora é hora de apregoar palavras alentadoras, dizeres de esperança: «Quão formosos sobre os montes são os pés do mensageiro que anuncia a paz, que apregoa boas notícias!…» (Is 52,7).

Celebrar Natal é comprometer-se na luta pela Paz (uma tarefa nunca terminada, na história humana). Deixemos que através de nós ressoe, sem desfalecer, este antigo augúrio profético: «Todo calçado de guerra, toda veste ensanguentada serão queimados, lançados às chamas» (Is 9,4). O Divino que nasce para nós na frágil Criança de Belém, transfigura o nosso olhar. Agora, já não há adversários ou inimigos. Há apenas seres humanos, frágeis como eu, mas grandes, pois carregam uma semente de Divino. Como eu. Fazer Natal é deixar que o Amor queime em nós os restos de ressentimento, amargura, desconfianças, indiferença…É deixar que o Amor nos ensine a recompor relações, a ser artesãos de fraternidade. Pacientemente. Utopicamente.

Então, dentro de nós, brotará a Paz — que nos fará caminhar ligeiros, ao encontro de cada pessoa. Dentro de nós, descobriremos o Amor — que fará nossos lábios benditos, bem-dizendo a cada um(a). Dentro de nós, habitará a Esperança — que fará nosso sonho forte, lutando por um mundo novo.

É Natal! «… porque um Menino nasceu para nós!» (Is 9,5). No ar, há um canto de júbilo. No terreiro, uma dança de festa. Não o sentem?…