COMENTÁRIO DA LITURGIA DO XXXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM
«Senhor nosso Deus, concedei-nos a graça de encontrar sempre a alegria no vosso serviço, porque é uma felicidade duradoira e profunda ser fiel ao autor de todos os bens».A colecta deste Domingo faz referência à alegria de quem, com ajuda do Senhor, professa a fé cristã. “ Nenhum cabelo da vossa cabeça se perderá».
Jesus não veio destruir directamento o judaísmo. Por isso, confessou, com os fariseus e os apocalípticos, que os mortos de Israel (Abraão, Isaac, Jacob…) encontraram em Deus a profundidade da sua vida (20, 27-40). Porém, quando Israel se fecha nas suas fronteiras e não admite a purificação que Jesus lhe transmitiu, o seu templo converteu-se numa simples realidade do mundo. Pertence às funções da terra que não tem outra lei senão perecer e que, por conseguinte, se dirige para a sua ruína (21,5-6). Com toda a sua beleza e com a sua antiga profundidade de sinal de Deus na terra, o tempo de Sião contém em si os traços da morte. Quando? Jesus fala precisamente no tempo; dali supera o que é só realidade que passa e dirige-nos para a autêntica verdade definitiva. Por isso, os discípulos perguntam: Quando? Em vez de responder directamente, Jesus dirige os nossos olhos para o destino universal do cosmos e da história – arraigar-se na verdade de Cristo. E quem faz esse arraigamento está seguro; é esse o sentido da colecta de hoje e que será para toda a semana. Infelizmente mesmo conscientes de estarmos apoiados em Cristo, escutamos vozes que nos dizem «sou eu» e «o tempo está próximo». Sentimos a dureza da guerra, do ódio na família, da calúnia o que torna a vida aparentemente sem sentido. Tudo isto pode indicar o facto de se estar a travar a batalha decisiva, a agonia dos tempos que se acabam. Jesus diz-nos, porém, «não vos alarmeis»; por muito possível que pareça o rumo das coisas da terra, nunca pode converter-se em destruição ou ruína decisiva. Decisivo, só é Cristo (21,8-9).
Insegurança cósmica, inquietações políticas, agitações sociais, podem levar os discípulos ao desespero, mas a melhor via para eles é manterem-se firmes. A sua firmeza está baseada na assistência de Jesus Cristo; por isso, podem conservá-la no meio das perseguições da história e de condições que parecem plenamente adversas (21,10-19). Esta firmeza da Igreja (dos discípulos) no meio da insegurança de um mundo que vacila, no interior de uma sociedade que se revolta contra todos os valores do justo e do são, é testemunho e consequência da verdade de Jesus Cristo. Acomete-nos a tentação de prescindir da exigência de Jesus e de nos convertermos simplesmente aos valores deste mundo (violência, compromisso com o poder, riqueza, propaganda). No meio da dúvida, porém, o Evangelho promete-nos que só em Jesus Cristo encontraremos a firmeza sólida (e a vitória) da vida. Quando tudo parece que se uniu para indicar a vacuidade da vida do cristão, Jesus acrescenta uma palara: “Nenhum cabelo da vossa cabeça se perderá”(21,18). Nada de Jesus está perdido com a Páscoa; nada do cristão pode perder-se no caminho da cruz e do seu fracasso, pois a vida da Páscoa devolve-lhe tudo, vitorioso e transformado.
Recorda-se que estamos na fase das grandes conclusões: no Domingo passado, a conclusão da vida do homem, e hoje, a conclusão da história e do cosmo. A parusia deve ser interpretada à luz da esperança. “Está para chegar o dia do Senhor, ardente como uma fornalha”, afirma o profeta Malaquias na I Leitura. A beleza e a magestade do templo exalta a mente dos discípulos, mas dias virão – afirma Jesus- em que não sobrará pedra sobre pedra. Quando será isso? “ O tempo está próximo”, afirma Jesus. A interpretação da resposta de Jesus deve ser feita em chave da esperança, porque a história dos homens, para o cristianismo e para os baptizados, tem um sentido – o encontro com Cristo cabeça. Enquanto se estiver na expectativa do fim, o cristão deve ser perseverante na oração e na prática do bem, empenhando-se no trabalho, melhorando a condição da humanidade com dedicação cristã, procurando ganhar o próprio sustento como fruto da doação pessoal (2 Tes 3,7-12); no final ter-se-á como prémio, os novos céus e a nova terra. Haverá um juízo, mas o acto de julgamento de cada um dos filhos de Deus será feito por Cristo, que na sua primeira vinda a todos salvou pela Sua imolação na cruz. O julgamento final é uma revelação do amor de Deus pelos homens, porque, em última análise, está ligado ao presente de cada filho e filha de Deus. Se negarmos amar e nos deixarmos amar hoje, o juízo será eterno. Mas quem crê já está julgado e o juízo de Deus é uma revelação de “amor”. Portanto, eis o estímulo do nosso empenho no presente: «Senhor nosso Deus, concedei-nos a graça de encontrar sempre a alegria no vosso serviço, porque é uma felicidade duradoira e profunda ser fiel ao autor de todos os bens».