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‘O MEU AUXÍLIO VEM DO SENHOR, QUE FEZ O CÉU E A TERRA’

Partilha da Palavra de Deus do XXIX Domingo do Tempo Comum
ANO C
Título: “O MEU AUXÍLIO VEM DO SENHOR, QUE FEZ O CÉU E A TERRA” [Sl 120(121,2)] 16/10/2022
I Leitura: Ex 17,8-13
A primeira leitura deste Domingo apresenta algumas dificuldades do Povo de Deus no seu longo percurso, físico e espiritual, a caminho da terra prometida.
Depois das reclamações por falta de água para matar a sede em versículos anteriores, de forma inesperada, o povo em marcha é atacado por aquele que se tornou no inimigo histórico de Israel, nada mais nada menos que Amalec. Em Gn 36,12.16, Amalec é apresentado como neto de Esaú, filho de Isaac e irmão rival de Jacob. Amalec é antepassado dos amalecitas, portanto um povo muito antigo (1Sm 15,20; 2Sm 1,1-10; Nm 24,20). No tempo dos juízes, Amalec se associa aos invasores de Madiã. David ainda o combateu. Depois viria a ser mencionado em 1Cr 4,43 e Sl 83,8. (Segundo a passagem de 1Cr 4,43, foi no tempo do rei Ezequias que os amalecitas foram definitivamente debelados).
Este ataque é considerado o primeiro desde a saída do Egipto, uma vez que o povo tinha saído do Egipto bem organizado (cfr. Ex 13,18) e no Mar Vermelho tinha sido Deus a combater pelo seu povo (14,14), daí se percebe o impacto do acontecido e a preocupação de encontrar uma solução rápida e eficiente para o problema, em duas frentes: enquanto Moisés indica Josué para frente da batalha, convida Aarão e Hur para subir à colina, tradicionalmente lugar sagrado, empunhado “a vara de Deus” (Cfr. Ex 4,20).
Quanto ao significado de mãos levantadas, dado o contexto, podemos ver nisso um gesto de oração mas um gesto inspirado por Deus, como Js 8,18-26, onde Josué estende a lança contra a cidade de Haia até à sua queda. Na passagem das mãos pesadas de Moisés para mãos firmes (v. 12), além do evidente sentido físico este versículo descreve a passagem de uma situação de fragilidade para uma situação de “firmeza na fé”, graças a oração e confiança em Deus.
Em Dt 25,17-19 este episódio é recordado como poderosa intervenção de Deus. De facto, o trecho pretende mostrar que mau grado o comportamento rebelde do povo em episódios anteriores, Deus protege o seu povo em oração.

II leitura: 2Tm 3,14-4,2
Depois de descrever, adversidades nos últimos momentos do seu ministério, Paulo louva a fidelidade e a firmeza da fé de Timóteo, louvor este que se estende àqueles que o instruíram na fé e nas sagradas escrituras. Tendo em conta 2Tm 1,5 pode se depreender que em 3,14, Paulo louva a avó e mãe de Timóteo, respectivamente, Loide e Eunice, bem como próprio apostolo Paulo.
Já em 2Tm 3,16, Paulo fala da Inspiração da Sagrada Escritura (1Pd 1,20-21) e seu inesgotável manancial, sendo “útil para instruir, para refutar, para corrigir, para educar na justiça”.

Evangelho: Lc 18,1-8
O texto inicia fazendo uma explicação da parábola que Jesus vai contar: ela pretende insistir na necessidade de orar sempre, sem desfalecer (Lc 18,1).
Além das semelhanças do Evangelho de hoje com Lc 11,5-8, (ambas as parábolas aparecem apenas em Lc e ambas têm o tema da oração sem desfalecer), este trecho é introduzido com expressões típicas de uma linguagem paulina “Orar sempre” (1Ts 1,11; Fil 1,4; Rm 1,10, Col 1,3) sem desfalecer (2Ts 3,13; 2Cor 4,1.16; Gl 6,9).
O v.7: “Os há-de fazer esperar?” ou “mesmo que os faça esperar” parece uma adaptação voluntária de Eclo 35,18-19, onde se diz que Deus não tarda para justificar precisamente o atraso da parusia, daí a necessidade da paciência na espera da resposta, mesmo que o Senhor demore (Sl 44,23; Zc 1,12).
Nos últimos dois vv. (6-8) passa-se da dimensão terrena de um juíz que apesar de ser iníquo atende a viúva insistente e importuna para dimensão escatológica. Só dessa maneira se percebe o enquadramento do v.8 neste trecho, o qual pode ser interpretado desta maneira: “Quando o Senhor vier como justo juíz encontrará a fé sobre a terra?” (veja também 2Ts 2,3; Mt 24,10-12).
Portanto, o tema da oração perseverante, enraizada na fé e na escritura, é o tema central da Palavra de Deus neste XXIX Domingo do Tempo comum.

Padre Daniel A. Raul (Diocese do Guruè, Moçambique)