Autor: Pe. Altino José Cardoso.
País: Moçambique.
*Tema: A humildade é o primeiro pilar para a salvação do homem.*
Caros irmãos em Cristo! Estamos no XXII Domingo do tempo comum. O tema que proponho para este domingo, conforme o conteúdo das leituras é : A humildade é o primeiro pilar da salvação do homem. Talvez , para alguns irmãos, o tema possa causar certa estranheza, porque parece estar a querer colocar a humildade acima do amor. Mas, não é bem assim. O que pretendo, é fazer saber ou lembrar que, o amor e outras virtudes, precisam de um ambiente favorável, no coração do homem, para que possam germinar, desenvolver-se e produzir frutos; este ambiente chama-se humildade. Isto significa que, a humildade, não é somente uma virtude, ela é também a condição de possibilidade de manifestação das demais virtudes, pequenas e grandes.
Vejamos que, para o homem conseguir amar a Deus, acima de tudo e de todos e amar ao próximo como a si mesmo, deve, em primeiro lugar, ser humilde. O diabo descobriu este segredo e fez uso dele para desencaminhar o homem, fazendo-o entrar em desacordo com Deus. Este, compreendera que, bastava, somente, semear no coração do homem a semente do orgulho, para que, todas as virtudes que o homem recebera de Deus entrassem em colapso, resultando assim, numa relação conflituosa entre o homem e o seu Deus, em primeiro lugar, e depois com o seu semelhante, com as coisas criadas e, finalmente, consigo mesmo. Assim, o diabo sob forma de uma serpente, estava a induzir o homem ao grave erro que, ele próprio, havia cometido e que resultara na sua transformação: de Lúcifer , portador da luz, para Satanás, o espírito mau. Portanto, a fórmula que Satanás usou para desencadear o processo de satanização do homem, começou com a fragilização, passando pela queda e desembocando na morte da humildade.
De facto, quando a humildade fica fraca, no coração do homem, quando ela cai e morre, todas as virtudes ficam fracas, caem e morrem respectivamente; e, a pessoa, passa a comportar-se como verdadeiro demónio. Por conseguinte, quando, no coração do mesmo homem, a humildade ganha vitalidade, robustez e força, as demais virtudes ganham vitalidade, robustez e força; e, a pessoa passa a levar uma vida, progressivamente, santa. Por outra, quando o orgulho nasce no homem, é alimentado e cresce com força, as virtudes começam a esmorecer, uma por uma, ou então, perdem o seu sentido. A prova disso está em Gn 3,3-4. A serpente disse a Eva :” Não, não morrerás. Mas Deus bem sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão e vós sereis como deuses, versados no bem e no mal.” Está claro que, o que leva o homem a abraçar o orgulho, é que este, apresenta-se-lhe como vida superior; a morte vem disfarçada de vida.
É, por tudo isto que, na primeira leitura, tirada de Eclo 3, 19-21.30-31, a sabedoria de Deus procura prevenir o homem contra o veneno do orgulho, de modo a que este, nunca dê espaço, dentro do seu coração, à semente do orgulho em todas as suas obras. Assim diz o Senhor: ” Filho do homem, em todas as tuas obras proceda com humildade.” E, por que é que devemos proceder assim em todas as nossas obras? Porque basta deixarmos entrar o orgulho em alguma dessas nossas obras, por muito pequeno e invisível que pareça, este, com o tempo, irá crescer, ficar forte e passar a envenenar todas as nossas obras. Porque o orgulho assemelha-se aos seres vivos: ele nasce, é alimentado e cresce, multiplicam-se e, eis aqui alguma diferença, dificilmente morre.
A medida preventiva de Deus ao homem contra o orgulho, vai mais longe, ao afirmar: “Quando mais importante fores, mais deves humilhar-te.” De facto, quando a importância da pessoa cresce, tanto no âmbito temporal como no eclesiástico, o risco de começar a cultivar orgulho dentro de si, é maior. Aliás, basta lembrar que, o orgulho consiste em começar a sentir-se mais importante que os outros, e, em níveis extremos, chegar a pensar que seja igual a Deus. E por que é que isto acontece? Porque a infinita grandeza de Deus não cabe na mente e no coração do orgulhoso. É por esta razão que o orgulhoso não dá glória a Deus. Ele sente-se outro deus. O texto confirma isso ao dizer: ” Porque é grande o poder do Senhor e os humildes cantam a sua glória.” E acrescenta: ” a desgraça do soberbo não tem cura, porque a árvore da maldade criou nele raízes.” Mas o Senhor já disse que, todos os homens juntos na balança são mais leves que o fumo.” Será que adianta continuar a querer fazer-se igual a Deus?
Na segunda leitura tirada de Hb 12,18-19.22-23, Paulo dirige-se ao Hebreus fazendo-lhes saber que todos aqueles que acreditam em Cristo, obviamente, renunciando o seu orgulho e abraçando a humildade, alcançam a salvação. E, o caminho da salvação é este que nós temos aqui nesta segunda leitura e que, consiste em aproximar-se do monte Sião, da cidade de Deus vivo, da Jerusalém celeste, da reunião festiva, aproximar-se de Deus, Juiz do universo, do espírito dos justos que atingiram a perfeição e de Jesus mediadora nova aliança. Só os humildes é que podem aproximar-se destas realidades. Os orgulhosos ficam privados desta graça. Aliás, S. Bernardo de Claraval disse o seguinte: O reino dos Céus é dos humildes. E, para clarificar a seriedade do assunto, S. Tomás de Aquino disse: A pessoa até pode fazer milagres mas se não for humilde de nada vale. Enquanto isso, S. Francisco de Sales, nos diz que a humildade é o fundamento do edifício da santidade, ela, é a base de tudo.
No Evangelho, Jesus tomou a imagem do banquete e do como é que devem comportar-se os convidados dentro dele. Com esta imagem, Jesus pretende falar do grande banquete, que é a sua Igreja, dando maior realce a atitude de humildade que deve caracterizar os seus convidados.
Na verdade, a Igreja de Cristo é a assembleia dos que ouviram e aceitaram o convite de Deus para o banquete nupcial do seu Filho. Disse Jesus em Jo 6, 44-48: ” Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o atrair e eu o ressuscitarei no último dia.” Importa referir que, este grande banquete nupcial foi, cuidadosamente, preparado durante três anos, teve a sua inauguração na Última Ceia, onde Jesus estabeleceu uma aliança nupcial eterna com o seu povo e, foi consumado na Cruz. E, sabendo Jesus que, o seu banquete tinha uma dimensão universal, ordenou que este, fosse continuado, pelos seus discípulos, ao longo dos tempos até à sua segunda vinda. Pelo que, o banquete, aínda, está em curso, a sala não está cheia e os lugares foram preparados para todos, homens e mulheres. Assim, a Igreja, banquete nupcial de Cristo, continua a receber convidados. Porém, a primeira condição exigida pelo dono, para a participação a este banquete, é a humildade. Deste modo, nenhum convidados deve pretender ocupar lugar algum, sem que tenha sido orientado pelo dono da festa. A entrada de pessoas revestidas de orgulho a este banquete, pode gerar conflitos, porque os orgulhosos sempre desejam os primeiros lugares nas festas. Foi isto o que Jesus procurou corrigir, quando a mãe dos filhos de zebedeu pediu-Lhe que ordenasse que os seus filhos ocupassem os primeiros lugares no seu reino, um à sua esquerda e outro à sua direita. Mas nós sabemos que, apesar desta correcção, a tentação dos primeiros lugares, dentro da Igreja,continua a ser um grande desafio nos corações de muitos discípulos .
A Virgem Maria, aquela que recebeu o primeiríssimo lugar, de entre os filhos dos homens, teve esta graça devido às sua grande humildade. Quem assim afirma é Bernardo de Claraval: ” No coração da Virgem Maria, não existia uma faísca de orgulho.
Finalmente, tendo presente que o mais humilde de todos humildes é o próprio Deus, vou apontar, dentro da Sagrada Escritura, alguns exemplos que ilustram que a humildade do homem, é um tesouro aos olhos de Deus:
* Em 2 Rs 5, 13-15, O General Naamã alcançou a cura miraculosa, porque aceitou a humanidade.
* Em 1 Rs 21,29, O rei Acab, depois que consentiu a morte de Nabot, foi perdoado por Deus, porque se humilhou.
* Em 2Sm 11, Deus perdoou o rei David, pela morte de Urias, porque ele se humilhou.
* Os habitantes de Nível foram perdoados por Deus, depois da missão de Jonas, por terem manifestado humildade. Jn 3,10
*A Virgem Maria foi preferida por Deus, para a Mãe do seu Filho,não só pela sua virgindade, mas acima de tudo, pela sua humildade.
Algumas questões para reflexão:
1- Estou convencido que, a humildade, é indispensável para a minha salvação?
2- Será que, procuro ser humilde, em todas as minhas obras?
3- Sinto-me bem e realizado quando assumo atitudes de humildade, sabendo que sou muito importante diante dos outros?