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MENSAGEM DE PENTECOSTES DO PRESIDENTE DO SCEAM

Philippe Cardeal Ouédraogo, Presidente do SCEAM 

“Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mc 6, 37)

Passaram-se cinquenta dias desde que celebramos o Domingo de Páscoa e estamos agora a ser renovados pelos dons de Pentecostes. A promessa que Jesus fez aos Apóstolos na Última Ceia de que lhes enviaria o Espírito Santo (cf. Jo 15,26), foi cumprida no Pentecostes, quando o Espírito Santo desceu sobre os discípulos reunidos no Cenáculo. Essa efusão, que suscitou total transformação interior nos primeiros discípulos e os equipou para se tornarem testemunhas de Jesus, não permaneceu única e limitada ao momento, mas um acontecimento que se renovou e se renova ainda.

O Pentecostes deste ano é celebrado no meio de muitos desafios. O ano 2022 é marcado por uma fome em escala sem precedentes em todo o mundo, devido aos efeitos da pandemia da COVID-19, às alterações climáticas, às guerras prolongadas e em particular à guerra na Ucrânia. De acordo com as conclusões do Relatório Global sobre Crises Alimentares (GRFC) 2022, em 2021 cerca de 193 milhões de pessoas encontravam-se em grave insegurança alimentar e necessitavam de assistência urgente em 53 países/territórios, prevendo-se que as perspectivas da insegurança alimentar aguda global em 2022 se deteriorem ainda mais em comparação com 2021. E a maioria destes países assolados pela fome encontram-se em Africa. De facto, de acordo com a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO), os níveis de extrema insegurança alimentar em África “quase quadruplicaram entre 2019 e 2022”, com mais de 281 milhões de pessoas expostas à fome em 2021.

Portanto, ao celebrarmos o Pentecostes, a festa da renovação eclesial e do compromisso com a causa de Jesus Cristo, recordemos que ele próprio teve piedade do povo e alimentouo (Mc 6,3444); deu a sua vida pelas suas ovelhas (Jo 10) e alimentanos diariamente com a Sagrada Eucaristia. Seguindo os seus passos, os primeiros cristãos partilharam os seus bens entre si de tal forma que ninguém tinha necessidade (Actos 2, 4247)

Pentecostes identificanos com Jesus, o Caminho, abrindonos ao seu mistério de salvação para que possamos ser seus filhos e irmãos uns dos outros; identificanos com Jesus, a verdade, ensinandonos a renunciar às nossas mentiras e ambições pessoais; e identificanos com Jesus, a Vida, permitindonos abraçar o seu plano de amor e darnos para que outros tenham vida nele(Documento da Aparecida, 137)

Portanto, nós, os discípulos de Jesus de hoje, somos convidados a quebrar a lógica do açambarcamento egoísta de bens e a aprender a partilhar com os outros. De facto, os bens são um presente de Deus para todas as pessoas e pertencem a todos. O Concilio Vaticano Il notou claramente que Deus destinou a terra e tudo o que ela contém para uso de todos os homens e povos, de modo que os bens criados devem vir igualmente para as mãos de todos, segundo a justa, apoiados pela caridade

(GS 69). Isto exige o respeito pela justiça social e a prática da solidariedade, que impede a monopolização dos meios financeiros pelos mais ricos, e promove a inclusão de todos os homens e mulheres na sociedade, bem como a sua dignidade fundamental.

Ao partilhar o nosso pão com aqueles que têm fome, testemunhamos a vontade de Deus de satisfazer a fomedo mundo e permitimos que Deus satisfaça os necessitados através dos nossos gestos de partilha e generosidade. A generosidade, a partilha e a solidariedade não empobrecem, mas são geradores de vida, e vida em abundância. É por isso que a nossa missão como discípulos de Jesus hoje é lutar contra a fome humana e fazer tudo ao nosso alcance para devolver a vida e a esperança a todos aqueles que vivem na miséria, no sofrimento e no desespero

Apelamos aos Governos e Organizações Humanitárias para que façam todos os possíveis para garantir que ninguém morra por falta de alimentos básicos. Também encorajamos o desenvolvimento de políticas e programas eficazes que valorizem a produção alimentar local e combatam o desperdício de alimentos; protejam as terras agrícolas e assegurem o seu acesso à população camponesa. Porque a solução para a fome não será alcançada apenas através da ajuda alimentar. A ajuda alimentar deve ser vista como uma solução temporária e com o objectivo de permitir a sobrevivência de uma dada população numa situação de crise

O Pentecostes é também a festa da paz. Foi juntamente com o sopro do Espírito Santo que Jesus disse: A paz esteja convosco(Jo 20, 21). Por isso rezamos pela paz no mundo e especialmente no nosso continente. Que o Espírito de Pentecostes nos faça compreender a todos (governantes, governados e os autores da guerra) que a construção da paz social num país nunca está terminada, mas é uma tarefa que não proporciona uma trégua e exige o empenho de todos4. Que todos possamos ser instrumentos da paz e trabalhar pela paz

Renovados pelo Espírito de Jesus neste Pentecostes, vamos em missão, continuando o projecto de Deus realizado em Jesus: o projecto de libertação, que elimina a opressão e estabelece um mundo de homens e mulheres livres, salvos do egoísmo e capazes de amar e partilhar

Que Nossa Senhora, Rainha de África, interceda por nós e que o Senhor nos conceda dias de abundância e de paz

Acra, 5 de Junho de 2022