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FÉ COMO ESCUTA A JESUS CRISTO

II Domingo da Quaresma-Ano C
Fé como escuta à Jesus Cristo

Celestino Victor Mussomar
Teólogo, Leigo, Moçambique
Diocese de Lichinga
As leituras que a liturgia nos propõe neste 2° Domingo da Quaresma, Ano C convidam-nos a fé, ou seja, a um itinerário catecumenal diário e a conversão a Deus que é amor como transfiguração para uma vida nova em Deus. O trecho do Evangelho segundo S. Lucas 9, 28b-36 fala-nos da fé em Jesus Cristo, dentro de um clima de transfiguração e oração de Jesus Cristo, onde se ouviu uma voz que dizia «Este é o meu filho, o meu Eleito: escutai-O». O verbo central que o evangelho nos apresenta é “escutar”, que nas culturas semíticas tem o sentido de moldar o coração. Portanto, escutar é moldar o coração segundo a vontade de Jesus. Nas culturas africanas também tem o mesmo significado de escutar como sinónimo de moldar o coração para responder aos ditames da vida. Deste modo, quem escuta, em ambas experiências culturais, é aquele que ama os outros. A maldade seria, então, não ter um bom coração, ou seja, não escutar.
Podemos dizer que escutar a Jesus Cristo é moldar o coração, é ter fé Nele. O tempo da Quaresma é o período que a Igreja, de modo peculiar, chama-nos a transfigurar o coração para que possa resplandecer com Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. Ter fé em Jesus Cristo é escutar a Jesus Cristo o Verbo encarnado. É Ele a nossa esperança que nos redime. É uma entrega total, onde a caridade na verdade manifesta a fé como uma liberdade na verdade.
É nesta forma que podemos dizer que a lógica do Evangelho é uma logica de fé, esperança e caridade na verdade, como diz o Papa Bento XVI. É metanóia contínua à Jesus Cristo, ou seja, um itinerário diário de conversão a Jesus Cristo. É necessário fazer todos os dias o encontro com a pessoa de Jesus Cristo, como sempre afirma o Papa Bento XVI e o Papa Francisco na Evangelium Gaudium n° 3, na mesma senda reafirma e convida a «todo o cristão, em qualquer lugar e situação que se encontre, a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de O procurar dia a dia sem cessar.».
O cristianismo a prior não é uma ética, mas sim um «hoje» de metanóia plasmada do encontro com Jesus Cristo que transfigura o Homem dando-o o sentido da vida em Cristo. O Cristão, uma vez transfigurado, como consequência, deve agir de forma performativa na sua vida, ou seja, com coerência de vida.
A primeira leitura tirada do livro de Génesis 15,5-12.17-18 indica-nos a Abraão como o paradigma de fé. Desta forma podemos dizer que a fé é doação da própria vida, é confiar em Deus e, por isso, com salmista podemos dizer: «O Senhor é minha Luz e salvação: a quem hei-de temer?» [Salmo 26 (27)].
O trecho da Segunda leitura tirada da epístola do Apóstolo São Paulo aos Filipenses 3, 17-4,1 convida-nos a permanecer firmes no Senhor. Escutar a Jesus ou ter fé Nele é permanecer no seu amor, seja nos momentos de alegria, seja nos de tristeza. É procurar a face do Senhor diariamente e sem cessar em espirito e Verdade. Porque é a verdade, que é Jesus, que nos liberta. É nesta óptica que a segunda leitura convida-nos a uma conversão à Jesus Cristo renunciando o orgulho, o triunfalismo, o espirito de domínio e as megalomanias.
Deste modo, ser cristão é um caminho do catecumenado diário que nos convida a uma conversão contínua do coração.