O Tempo da Páscoa está continuamente a recordar-nos o zelo apostólico dos nossos primeiros irmãos na fé. Receberam de Jesus o mandato de anunciar a Boa Nova a todas as pessoas e cumprem-nos com sacrifício da própria vida.
Fortaleza nas dificuldades
«Naqueles dias, Paulo e Barnabé seguiram de Perga até Antioquia da Pisídia. A um sábado, entraram na sinagoga e sentaram-se. Terminada a reunião da sinagoga, muitos judeus e prosélitos piedosos seguiram Paulo e Barnabé, que nas suas conversas com eles os exortavam a perseverar na graça de Deus. No sábado seguinte, reuniu-se quase toda a cidade para ouvir a palavra do Senhor.»
Depois da sua conversão às portas de Damasco, Paulo começou uma intensa atividade apostólica, viajando de terra em terra para levar a todos o convite de Deus para a Salvação Eterna. Dizem os estudiosos que terá viajado tanto, de barco e a pé, que a distância percorrida era suficiente para dar a volta à terra: 50.000 quilómetros. Comporta-se como louco pelo amor de Jesus Cristo.
Procurava anunciar o Evangelho, em primeiro lugar, aos judeus da diáspora que invariavelmente se reuniam ao sábado, juntamente com simpatizantes do judaísmo, para ouvir proclamar a Palavra de Deus e cantar salmos, e Paulo procurava-os aí.
Paulo e Barnabé são a presença do Bom Pastor e convidam cada um de nós a sê-lo também, pela vida e pela palavra. Somos instados a perguntar diariamente: onde e a quem poderei anunciar a Boa Nova da Salvação? A falta de êxito aparente não nos deve desanimar no zelo apostólico, como não esmoreceu o ardor apostólico de Paulo e dos que com ele evangelizavam. Tudo começou bem, com um grande número de simpatizantes com a nova Doutrina, mas este facto suscitou a inveja e o ciúme dos seus irmãos judeus.
Êxitos e fracassos, humanamente falando, não importam. Jesus Cristo mandou-nos semear. O importante é colocar no que fazemos a reta intenção e todo o nosso esforço humano.
Benefícios da perseguição
«Ao verem a multidão, os judeus encheram-se de inveja e responderam com blasfémias. Corajosamente, Paulo e Barnabé declararam: “Era a vós que devia ser anunciada primeiro a palavra de Deus. Uma vez, porém, que a rejeitais e não vos julgais dignos da vida eterna, voltamo-nos para os gentios, pois assim nos mandou o Senhor: ‘Fiz de ti a luz das nações, para levares a salvação até aos confins da terra’”.»
Os Atos dos Apóstolos revelam-nos a causa de muitas perseguições à Igreja e muitos conflitos que surgem dentro dela: o ciúme e a inveja.
«Ao verem a multidão, os judeus encheram-se de inveja e responderam com blasfémias.»
É evidente que, por detrás de cada uma delas, está o Maligno, mas ele sabe explorar habilidosamente a fraqueza dos homens e uma delas é o ciúme e a inveja. Por esta mesma razão foi perseguido Jesus Cristo. Além disso, o seguimento fiel da doutrina de Jesus exige de nós uma mudança de vida, o abandono de um certo estado de vida incompatível com o Evangelho e, por tendência natural resistimos ao que nos pede sacrifício e humildade.
Também entre as almas boas podem surgir estes conflitos interiores que fazem sofrer o próprio e os seus semelhantes. São pessoas infelizes e que tentam impedir que os outros o sejam.
«É corrente, às vezes até entre almas boas, criar conflitos íntimos, que chegam a produzir sérias preocupações, mas que carecem de qualquer base objetiva. A sua origem está na falta de conhecimento próprio, que conduz à soberba: o desejo de se tornarem o centro da atenção e da estima de todos, a preocupação de não ficarem mal, de não se resignarem a fazer o bem e desaparecerem, a ânsia da segurança pessoal… E assim, muitas almas que poderiam gozar de uma paz extraordinária, que poderiam saborear um imenso júbilo, por orgulho e presunção tornam-se desgraçadas e infecundas!» (S. Josemaria, Cristo que passa, n.º 18).
O primeiro cuidado que devemos ter, se esta provação se passar connosco, é evitar que o Inimigo se aproveite dela, por uma das duas formas: irritando-nos contra os que se opõe. São dignos de compaixão e havemos de rezar por eles.
Evitemos a tristeza, pela falta visível de êxito. Não demos ao Inimigo a «consolação» de ficarmos tristes e irritados. Paulo e Barnabé, longe de se irritarem e desanimarem, procuram outro campo onde fazer a sementeira da boa nova. Se assim não fizessem os bons pastores de toda a história da Igreja, o Evangelho teria ficado na cidade de Jerusalém. Quando uma janela se fecha, logo se abre uma porta.
A verdade e a alegria
«Ao ouvirem estas palavras, os gentios encheram-se de alegria e glorificavam a palavra do Senhor. Todos os que estavam destinados à vida eterna abraçaram a fé e a palavra do Senhor divulgava-se por toda a região. Mas os judeus, instigando algumas senhoras piedosas mais distintas e os homens principais da cidade, desencadearam uma perseguição contra Paulo e Barnabé e expulsaram-nos do seu território.»
O propósito de os evangelizar gentios – os que não eram judeus – encheu-os de alegria. O anúncio do Evangelho iria trazer grandes exigências às suas vidas e uma mudança de hábitos em muitos aspetos, mas o Espírito Santo encheu-os de alegria.
Uma tentação dos dias de hoje é ocultar parte das exigências da doutrina e moral cristãs, com receio de as contristar ao pedir-lhes o sacrifício de mudança de vida. É uma tentação perigosa que falsifica toda a ação apostólica. Embora seja preciso apresentar as exigências da moral com delicadeza, ajudando as pessoas a compreender e a confiar em Deus, não atraiçoemos a pureza e integridade do Evangelho.
Da noite para o dia, multiplicaram-se – também nos meios cristãos – as uniões de facto, as uniões de pessoas já casadas numa segunda união, o suborno, etc.
E às vezes temos receio de dizer claramente às pessoas que estão fora do caminho, a pretexto de as não tornar infelizes. Esta atitude acaba por ser cruel, porque as abandonamos na sua situação infeliz, quando podiam regressar ao caminho da salvação. Que felicidade procuramos, afinal, para elas?
Houve entre os gentios um movimento generalizado de conversões ao cristianismo.
«Todos os que estavam destinados à vida eterna abraçaram a fé e a palavra do Senhor divulgava-se por toda a região.»
É indispensável, para sermos instrumentos dóceis do Bom Pastor, contarmos com a ação do Espírito Santo nas almas. Quem verdadeiramente as leva à conversão e as santifica é Ele e não nós. Quando não apresentamos a verdade íntegra, como queremos que Ele colabore com a mentira e a cobardia?
Jesus, nosso Bom Pastor
A intimidade com Jesus Cristo
«Naquele tempo, disse Jesus: “As minhas ovelhas escutam a minha voz. Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me”.»
Jesus apresenta-Se aos homens, para os salvar, sob diversas figuras que nos ajudam a compreender a Sua missão salvadora: é o Caminho, a Verdade, a Vida e a Luz do mundo. Mas a Sua imagem preferida é a do Bom Pastor. Esta foi a imagem de Jesus mais preferida pelos primeiros cristãos, a ponto de a representarem nas catacumbas e nos templos.
Fala-nos de uma intimidade progressiva entre o pastor e as ovelhas, à medida que se vão conhecendo e caminhando juntos na vida, enfrentando os mesmos perigos e alegrias.
Este é o caminho que nos propõe, chegar à intimidade com o Bom Pastor, por meio de um andar com Ele. Há uma cumplicidade de vida entre o pastor e o seu rebanho de ovelhas. O pastor vela pela segurança das ovelhas, conduzindo-as a um redil seguro, impede a entrada nele de estranhos, de mercenários e afasta o lobo devorador; cura as ovelhas feridas e conduz aos ombros as que não podem caminhar por si mesmas.
Por sua vez. as ovelhas conhecem a voz do seu pastor, entre as muitas que ouvem à sua volta, seguem-no, alimentam-no e resguardam-no do frio com a sua lã.
Isto mesmo e infinitamente mais é Jesus Cristo para cada um de nós. À imagem do que acontece às ovelhas em relação ao pastor, que segurança poderíamos ter, longe de Jesus Cristo?
Por Jesus Cristo, à intimidade com o Pai
«Eu dou-lhes a vida eterna e nunca hão-de perecer e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que Mas deu, é maior do que todos e ninguém pode arrebatar nada da mão do Pai. Eu e o Pai somos um só.»
Há em nós duas vidas, uma e outra recebidas de Deus: a vida natural começada no seio da nossa mãe; e a vida sobrenatural que nos deu a nossa Mãe, a Igreja, no momento do Batismo. Esta vida recebida no Batismo foi-nos dada em Jesus Cristo, pela união com o Seu corpo Místico de que Ele é a Cabeça. Jesus promete que a Quem foi dada esta vida não há-de perecer – morrer – porque Ele nos garante a perpetuidade, se a quisermos abraçar. Mesmo se a perdermos, pelo pecado, Ele deixou na Sua Igreja os meios para a recuperarmos. Ilumina-a com a Sua doutrina, possibilita-lhe respirar o ar puro das alturas da divindade, pela oração, e alimenta-nos com o Seu Corpo e Sangue. Ele é a garantia do nosso viver porque n’Ele está a vida. Por Ele, participamos da vida da Santíssima Trindade: na Ciência, nesta vida pela Fé e na eternidade, contemplando a Deus face a face; e pelo Amor, pela Caridade que, fundada em Deus, a todos abraça.
Se quisermos manter-nos unidos a Ele e seguir as Suas indicações que nos vai dando na Igreja e pelo Espírito Santo que nos ia, ninguém nos poderá arrebatar da Sua mão, nem roubar-nos a alegria de filhos de Deus. Com infinita paciência, conduz-nos ao redil, ao Céu, onde estaremos seguros, livres de todo o perigo. Neste mundo, o redil é a Igreja, na qual Ele evita que entrem os pastores mercenários. Ninguém pode arrebatar-nos da mão de Jesus Cristo, levando-nos ao pecado, a não ser que se entregue ao Inimigo pelo pecado.
O redil do Bom Pastor
«Eu, João, vi uma multidão imensa, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam de pé, diante do trono e na presença do Cordeiro, vestidos com túnicas brancas e de palmas na mão. Um dos Anciãos tomou a palavra para me dizer: “Estes são os que vieram da grande tribulação, os que lavaram as túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro”.»
Jesus desceu da intimidade da Trindade Santíssima à nossa fragilidade humana, para nos tomar nos braços e nos reconduzir ao Pai. O verdadeiro redil pelo qual aspiramos é o Céu, por toda a eternidade. A visão do redil do Bom Pastor – do Paraíso – afasta todos os pessimismos:
«uma multidão imensa, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas.»
Como nos ensinou Jesus, a cada um de nós não melhora, nem piora a situação pessoal o facto de serem muitos ou poucos os que se salvam.
A nossa preocupação fundamental, como nos ensina o Bom Pastor é entrar pela porta estreita do redil. No entanto, essa visão que o Apocalipse nos dá do Céu enche-nos de otimismo e de esperança. Sabemos bem que não é pelas forças pessoais que vamos lá chegar, mas temos a certeza de que encontraremos a ajuda necessária para entrar as portas do Paraíso.
Depois desta vida de tribulações, espera-nos uma festa que não terá limites de tempo, porque o tempo já não existe na eternidade e sem limites para o nosso coração.
A visão do Apocalipse enche-nos de alegria e consolação, vendo, antecipadamente, o que vai ser a nossa vida, pela misericórdia divina na eternidade:
«Estavam de pé, diante do trono e na presença do Cordeiro, vestidos com túnicas brancas e de palmas na mão.»
Que o Espírito Santo nos encha de Esperança na felicidade que um dia vamos abraçar para sempre.
Imploremos de Maria, nossa Mãe, a graça de seguirmos neste mundo um caminho seguro.