Caros irmãos em Cristo. Estamos no XXVII Domingo do tempo comum, Ano B. A reflexão deste domingo cujo tema é extraído, literalmente, da Sagrada Escritura, Gn 2,18, traz um caráter apologético; uma apologia exigente e urgente cuja finalidade não é a de desafiar o homem de hoje mas a de fazer valer, mediante a fé, a verdade que nos chega do próprio Criador: “Não é bom que o homem esteja só.”
Por muito tempo, os debates que recaiam sobre este tema, estavam, só circunscritos na questão da unidade, estabilidade e indissolubilidade do matrimónio e, no concernente à poligamia. Mas, nos tempos que correm, a afirmação de Deus encontra desafios acrescidos que, renascem com notória agressividade e procuram ganhar espaço nos corações dos seres humanos: trata-se do fenómeno homossexualidade e da união entre seres humanos com seres que não são da sua espécie, os irracionais. O avanço destes últimos desafios condena a raça humana à sua própria extinção porque vão- pela sua natureza e materialização- contra o princípio Divino da procriação e manutenção da espécie humana.
A afirmação de Deus que corresponde ao tema em abordagem, não está isolada; ela é suportada e complementada por outras afirmações e exercícios feitos, tanto por Deus como por Adão seu visado. No Novo Testamento, Jesus, por uma necessidade imperiosa, teve que debruçar-Se sobre este mesmo tema, purificando-o dos aspectos que o ensombravam, frutos do seu tempo. Para isso, teve que recuar às origens da criação por forma a reclarificar a intenção do Criador sobre esta matéria. A Igreja, iluminada , guiada e instruída pelo Espírito Santo, procurou, em toda a sua história até hoje, ser fiel ao seu Criador e Mestre.
Em seguida- seguro de estar na sombra do Espírito- vou mergulhar em concreto no tema e em tudo o que lhe dá suporte e complemento.
Logo na primeira linha da primeira leitura, Gn 2,18-24, o Senhor disse: “Não é bom que o homem esteja só.” Vejamos que, Deus não está a dizer que não é muito bom. Porque se Ele tivesse dito assim haveria espaço para se encaixar o bom. Mas o que significa não estar só? Não estar só pode significar três coisas: não ser o único, não estar isolado e ter capacidade de multiplicar-se. Não há nestes, nenhum significado que seja periférico. Depois que Deus disse que não era bom o homem estar só, completou a Sua afirmação com outra dizendo: “Vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele.” Ficou aqui claro que a tal auxiliar semelhante não resultaria da escolha do homem, porque Ele disse: “Vou dar-lhe“; Trata-se de um determinismo. Pelo que, não é o homem que deve entender escolher , entre os seres vivos, a espécie dessa auxiliar semelhante. Aliás, antes de criar a mulher, Deus já havia dado essa possibilidade ao homem, fazendo passar diante dele todos os animais mas, Adão não encontrou nenhuma auxiliar semelhante a ele.
E, o que significa auxiliar semelhante? Significa, obviamente, não totalmente igual e nem essencialmente diferente. Se tivesse que ser igual, então, seria outro homem. E se Adão fosse uma mulher, seria outra mulher. Ora, o facto de não serem iguais não afasta a igualdade fundamental. Os semelhantes não são iguais, porém, gozam dos mesmos direitos e deveres. Por outra, a estrutura física do homem não é completamente igual com a da mulher, contudo, Adão, um homem, disse a Eva: “Esta é realmente osso dos meus ossos e carne da minha carne.” Portanto, entre os iguais não há complementaridade conjugal, somente com os semelhantes. Até atrevo-me a dizer que o homem e a mulher são duas metades inteiras que precisam de se unir para formar um inteiro inteiro. É verdade que, entre os animais irracionais o homem identificou e contínua a identificar excelentes auxiliares para diversas necessidades, contudo, nem por isso chegam a ser auxiliares semelhantes a ele.
O outro suporte é: “Da costela do homem, Deus formou a mulher.” Qual é a mensagem que o Senhor pretende nos transmitir? Simples: É para que saibamos que o homem e a mulher pertencem à mesma natureza, a natureza humana. Por isso que, todo o esforço que a ciência fez e faz para criar seres híbridos, (metade homem metade animal) , à partir do homem ou da mulher, não resultam em nada. A procriação dos seres humanos só é possível entre seres humanos, seja qual for o método a se usar.
Examinemos agora o que Adão disse quando viu Eva. Disse ele: “Esta sim é realmente osso dos meus ossos e carne da minha carne.” Vejamos que, Adão não disse esta tem mas esta é; trata-se de uma questão de SER. Pelo que, é neste ponto aonde encontramos a unidade de natureza entre homem e mulher; por conseguinte, é sobre esta matéria aonde brota o mistério da unidade matrimonial entre os cônjuges enquanto reconstituição, por Deus, diante do altar, da unidade primordial que Ele estabeleceu entre Adão e Eva. Este facto não passou despercebido aos olhos da serpente; ela compreendeu que enganar Eva era o mesmo que enganar Adão, embora a ordem sobre as regras do jardim tivessem sido dadas antes da criação dela.
Há mais um excente suporque quando Deus disse: “Por isso o homem deixará pai e mãe para se unir a sua esposa e os dois serão uma só carne.” Nesta afirmação estão presentes dois mistérios: O primeiro é o que referi anteriormente quando disse que a unidade matrimonial entre os cônjuges era uma reconstituição, por Deus da unidade primordial entre Adão e Eva. O segundo, aparece quando a unidade primordial reconstituída por Deus no altar entre os cônjuges, encontra a sua expressão concreta e palpável nos filhos que são gerados pelo casal, frutos da união íntima entre os dois. Pelo que, um filho, é também uma só carne, consequência directa desta união reconstituída por Deus. Assim sendo, toda e qualquer forma de união que, logo à partida, pela sua natureza, afasta a possibilidade de gerar filhos, também afasta a possibilidade de haver uma reconstituição da unidade primordial feita por Deus entre Adão e Eva. Sobre esta matéria não há milagres, isto é, não há possibilidade de procriação milagrosa entre dois humanos iguais e muito menos entre um ser humano e um de outra espécie. Só se pode falar de milagre em caso de problemas ou dificuldades entre os cônjuges. Gerar filhos não é uma opção, é um imperativo existencial.
A resposta de Jesus sobre o tema do matrimónio. Jesus, em definitivo, procurou deixar em “pratos limpos” voltando ao que Deus fizera na criação. Disse Jesus aos que Lho tinham interpelado: “No princípio da criação, Deus fê-los homem e mulher. Por isso o homem deixará pai e mãe para se unir à sua esposa e os dois serão uma só carne.” E, concluiu : “Não separe o homem o que Deus uniu.” Nesta nota conclusiva de Jesus, há um significado muito profundo. Em primeiro lugar temos a relação entre Criador e criatura. O que o criador viu que era bom não pode ser negado pela criatura. Pelo que, não separar o que Deus uniu, não se refere somente à proibição do divórcio mas à sujeição, por parte do homem, do princípio da unidade primordial entre homem e mulher estabelecidos por Deus na criação e reconstituídos em cada acto matrimonial. Portanto, todas as formas de união que entram em contradição com a criação são tentativas de separar o que Deus uniu e, como tal passíveis de pena severa. Se o fenômeno da homossexualidade e da união com animais estivessem a acontecer no tempo de Jesus como acontecem hoje, acredito que a resposta de Jesus não se limitaria ao divórcio. É verdade que, este fenómeno que hoje está a querer ganhar terreno nas nossas sociedade , já era conhecido nas cidades de Gomorra e Sodoma; por isso foi um dos fortes motivos para Deus reduzir à cinzas aquelas duas cidades. Não sei se é isso o que queremos.