29 de setembro de 2024 – XXVI Domingo do Tempo Comum – Ano B
Mc 9, 38-43.45.47-48
Do evangelho deste domingo podemos retirar quatro grandes ensinamentos de Jesus: 1) Deus pode agir por meio de pessoas de boa vontade que não pertencem à nossa Igreja (versículos 38-40); 2) Quem for generoso com os enviados do Senhor, receberá de Deus a recompensa (versículo 41); 3) Escandalizar os crentes é um pecado grave (versículo 42); 4) O mal corta-se pela raíz (versículos 43-48). Todos os quatro ensinamentos devem ser vistos no prisma da Boa Nova que Jesus trouxe para a salvação da humanidade.
1. No primeiro ensinamento, Jesus repudia a atitude dos discipulos que ao verem um homem a expulsar demônios em Seu nome, procuraram impedir-lho. Para Jesus esta atitude é inaceitável, pois Deus age também por meio de pessoas que não pertencem ao círculo dos discípulos. Os discípulos pensavam que podiam monopolizar os poderes divinos, serem eles os únicos a expulsar os demônios e a curar os enfermos. Jesus reprova com veemência esta atitude e exorta os seus discipulos a deixarem que as outras pessoas se sirvam dos poderes divinos para fazer o bem aos necessitados e para colaborar na edificação do Reino de Deus. Esta mensagem de Jesus é muito atual, pois assiste-se hoje à tendência de os cristãos se acharem os únicos administradores da graça da salvação esquecendo-se de que Deus pode servir-se de pessoas de outras religiões e crenças para perpetuar a sua obra salvadora no mundo e para implantar o seu Reino de justiça, paz e verdade. Os cristãos não são os únicos servos de Deus neste mundo, existem muitos outros servos de Deus fora da Igreja, que não se cansam de fazer o bem e lutar pela justiça. No evangelho de hoje Jesus desafia-nos a abraçar esta lógica de Deus e, à imitação de Pedro no livro dos Atos dos Apóstolos, aceitar que Deus não faz distinção de pessoas: Em verdade, reconheço que Deus não faz distinção de pessoas, mas em toda nação lhe é agradável aquele que o temer e fizer o que é justo (Atos 10,34-35).
2. Em segundo lugar, Jeus afirma que quem é generoso com os Seus enviados, não deixará de receber a sua recompensa. Os enviados do Senhor são os evangelizadores, missionários consagrados e leigos que se dedicam a anunciar o evangelho. O povo de Deus é chamado a colaborar com largueza para que aqueles quem se dedicam ao anúncio do evangelho tenham o necessário para realizar a missão que Deus lhes confiou. Esta atitude era uma prática muito comum nas comunidades cristãs do Novo Testamento. Muita gente colaborava com casas, géneros alimentícios e dinheiro com os apóstolos. O apóstolo Paulo tinha alguns amigos e amigas que colaboravam com a sua obra de evangelização, tais como, por exemplo, Maria, Trifena, Trifosa e Pérscide (Romanos 16,12), Evódia e Sintique (Filipenses 4,2), o casal Áquila e Prescila (Atos 16,19), o casal Andrônico e Júnia (Romanos 16,7), entre outros. É, portanto, necessário que todo o cristão se convença de que a obra de evangelização precisa de recursos materiais. Por sua parte, os evangelizadores têm a obrigação moral e espiritual de usar os bens que recebem (dinheiro, doações, viaturas, terrenos, etc.) apenas para o anúncio do evangelho e o serviço aos mais necessitados.
3. Em terceiro lugar, Jesus exorta os seus discipulos a não escandalizarem os crentes. Naquele tempo o escândalo era equiparado às pedras de tropeço, pois perante o escândalo os crentes ficavam confundidos e desorientados, e alguns até perdiam a fé e abandonavam a comunidade cristã. Jesus desafia os discípulos a adotar uma vida coerente, sem hipocrisia, pois quem escandaliza os crentes terá de responder perante o tribunal de Deus, por ter dispersado as ovelhas do Senhor e por ter semeado confusão no seio dos crentes. Os escândalos que somos chamados a evitar são, por exemplo, os abusos sexuais contra menores, todo o tipo de comportamento que não condiz com a mensagem que anunciamos, a corrupção na sociedade, o desvio dos fundos da igreja, o tribalismo, as lutas pelo poder na Igreja, as fofocas. Relativamente a este tema, o Papa Francisco afirma que estes comportamentos escandalizam os crentes e lhes fazem perder a fé, e a Igreja deve ter vergonha disso, arrepender-se e fazer todo o possível para que estas coisas não continuem a acontecer (consultar a homilia do Papa Francisco na Santa Missa celebrada na capela da casa Santa Marta, na segunda-feira, 13 de novembro de 2017).
4. Por fim, Jesus ensina que é preciso cortar o mal pela raíz fazendo opções resolutas contra ele. Só assim é que os discípulos conseguiam fazer que o diabo não os manipulasse. Decisões resolutas devem ser tomadas perante o mal e nunca deve haver negociação com o demônio. O cristão não pode acostumar-se a viver em pecado. Assim como não deixamos que uma doença se alastre em todo o nosso corpo, do mesmo modo, não devemos permitir que o mal do pecado se alatre por todo o corpo de Cristo que é a Igreja. As metáforas que Jesus usa no evangelho de hoje: cortar a mão, cortar o pé, arrancar o olho, significam a capacidade de fazer opções radicais contra o pecado, a capacidade de cortar o pecado pela raíz para que ele não continue a produzir frutos venenos: guerras, infidelidades matrimoniais, roubos, criminalidade, drogas, alcoolismo, inveja, rancor, entre outros. Jesus convida-nos assim a sermos mais enérgicos na luta contra o pecado e tudo aquilo que não deixa a paz, o bem e a justiça crescerem. Para expulsarmos o pecado das nossas vidas não é suficiente rezar, fazer peregrinações, receber a comunhão e celebrar os outros sacramentos. É necessário, com a força da fé, tomar a firme e resoluta decisão de sair do pecado.
Desejos a todos e todas um Bom domingo. Deus derrame a sua bênçoa sobre vós!