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Curados para seguir Cristo

DOMINGO XXIV DO TEMPO COMUM
Leituras do dia: Is 50,5-9a; Tg 2, 14-18; Mc 8,27-35

Caros irmãos e irmãs!
As leituras deste domingo nos revelam que o egoísmo e a indiferença destroem a vida. Ao invés, o caminho da realização plena passa pela gratuidade e pela obediência a Deus.

A primeira leitura começa com a afirmação «o Senhor Deus abriu-me os ouvidos e eu não resisti nem recuei um passo». Esta declaração remete-nos à cura do surdo-mudo de que o evangelho do domingo passado nos falava. Entretanto, refere-se a uma figura enigmática que o próprio Deus apresenta como «o meu servo» em Isaías 42,1; uma personagem chamada por Deus para colaborar no Seu projeto salvífico. Os primeiros Cristãos relacionaram esta personagem com a figura de Jesus, que foi obediente ao Pai e que no cumprimento da sua missão foi vítima de rejeição, de violência e de condenação. Apesar de tudo isso, Jesus permaneceu fiel até à morte porque a sua missão e o seu sacrifício não eram em vão.

Depois de curar um surdo-mudo na região da Decápole, no domingo passado, neste domingo Jesus encontra-se a caminho de Cesareia de Filipe, um outro território pagão. Atualmente situa-se no planalto de Golan no norte de Israel, perto da cidade de Banias (ou Panias), cerca de 40 km ao nordeste do Mar da Galileia.

Nos evangelhos (sobretudo nos sinópticos), Jesus é apresentado como um caminhante, que percorre aldeias e cidades, ensinando as multidões e operando milagres. Porém, a sua caminhada não é apenas uma digressão sem rumo, pois é orientada para Jerusalém, o lugar do seu último milagre. Enquanto Jesus caminha a multidão o segue, dentro da qual estão também os seus discípulos. Alguns o seguem por curiosidade, outros o seguem para serem curados das suas enfermidades, outros ainda por interesses pessoais (por exemplo os filhos de Zebedeu – Mc 10:32-52) que não têm nada a ver com a razão pela qual Jesus está a caminho.

No Novo Testamento, o verbo «seguir» (ἀκολουθέω), no seu sentido perene indica a sequela de Jesus. Recorre exclusivamente nos quatro evangelhos e uma vez no Apocalipse. Em algumas vezes, trata-se de um «seguir» externo, de movimento, como de uma multidão de pessoas que vem atrás de Jesus (cf. Mc 3,7; Mt 8,10). Noutras vezes é também aplicado para o discipulado (Mt 8,19). Neste último caso, ἀκολουθέω significa aderir, num sentido que denota estabelecimento de uma relação genuína de discípulo-mestre. Significa participar na vida nova que Jesus oferece; o que implica participar no seu destino. Não significa, portanto, uma tendência exterior de imitação, mas sim, comunhão de vida e de interesse com o Messias.

«No caminho fez-lhes esta pergunta: “Quem dizem os homens que eu sou […] E vós quem dizeis que eu sou”»? De facto, Jesus nuca faz uma pergunta procurando saber algo que não saiba! As perguntas de Jesus são sempre uma catequese, pois servem para acordar a inteligência dos seus interlocutores para compreenderem a natureza da sua messianidade. Com este jogo de perguntas e respostas que o evangelho deste domingo nos apresenta, o narrador convida aos ouvintes a entrarem na discussão e a empenharem-se no diálogo com Jesus, um diálogo que cura, pois visa esclarecer a novidade que o Messias traz ao mundo. Tal novidade se traduz no amor, que é o motor que move os seus passos rumo ao sacrifício da cruz, símbolo de uma vida recebida e doada. Não se trata, portanto, de enunciar de cor a opinião dos outros e a nossa sobre Jesus, mas sim de aprofundar a relação discípulo-mestre para poder aderir o destino e a vida nova que ele oferece.

Não aconteça que aqueles que seguem Jesus o façam sem conhecer o destino da sua caminhada: «Se alguém quiser seguir-me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me». O seguimento de Jesus é feito de renúncias, e a cruz que o discípulo é convidado a carregar não serve senão para a sua própria crucifixão (símbolo de uma vida recebida e doada). Neste caso, a renúncia de que Jesus se refere não é como de alguém que deixa de beber cerveja ou de comer carne vermelha por causa da sua própria saúde, mas sim uma renúncia que liberta do egoísmo e abre as portas para podermos ir ao encontro ou receber os outros, para que por sua vez, estes possam viver. Tal é o ensinamento de São Tiago na segunda leitura: o seguimento de Jesus não se realiza com belas palavras ou teorias abstratas, mas com gestos concretos de amor, de partilha e de serviço, de solidariedade com o próximo em imitação a Jesus que viveu e morreu para os outros.