Décimo Domingo do tempo Comum
Ciclo B
Comentário sobre Gn 3,9-15; Sal 129; 2Cor 4,13-5,1; Mc 3,20-35
Terminado o tempo pascal, depois da celebração das solenidades do Senhor (Trindade e Corpus Domini) que nos ajudaram a redescobrir o mistério trinitário de Deus, regressamos, com este domingo, ao Tempo Comum, caracterizado pela cor verde das vestimentas, que nos acompanharão até a solenidade de Cristo Rei (novembro). Neste décimo domingo do ciclo B, o tema geral das leituras pode ser considerado a partir da pergunta que Deus faz ao homem. «Onde estas…?».
As quatro leituras de hoje oferecem-nos duas reflexões, uma é a do pecado (primeira leitura e evangelho), a outra a da misericórdia de Deus (salmo e segunda leitura).
Na passagem do Gênesis encontramos a história do pecado original que poderíamos definir também como a fragilidade de entrar no plano de Deus. Os personagens da história que tentam descarregar a sua culpa nos outros e no próprio Deus: “a mulher que me deste como companheira. próximo…”, porque diante do pecado nos sentimos nus, indefesos, expostos ao julgamento. O de Adão e Eva é infelizmente o pecado que nos acompanha constantemente na nossa vida: orgulho, da auto-suficiência, de nos sentirmos superiores a todos aqueles que nos rodeiam, incluindo Deus. Apesar da linguagem mítica e simbólica, há uma profundidade psicológica surpreendente, uma visão do ser humano que nem mesmo os maiores psicólogos conseguiram delinear. O “primeiro” casal da história recebeu de Deus grandes dons que certamente teriam satisfeito o seu desejo de beleza, de relacionamento mútuo pleno, de imersão na natureza incontaminada. O Tentador conhece bem a alma humana, seu delírio inextinguível de omnipotência. Dentro de nós nos sentimos omnipotentes, inexpugnáveis, sabemos tudo, como tantos deuses. será como Deus… prometeu o divisor aos nossos ancestrais míticos. Como se disséssemos: “Tu serás Deus” …
São Paulo, na sua carta aos Coríntios, aproveitando a sua experiência de convertido, recorda-nos que Jesus nos dá força nas fragilidades e nos momentos difíceis. S. Paulo fala do desânimo que sentimos na difícil relação entre teoria e prática e indica o caminho que é não se deixar enganar pelas escolhas do pecado, mas superar as coisas “visíveis” que nos causam tribulações, e almejar sempre o coisas invisíveis, isto é, a fé em Cristo, o misericordioso, que deu a vida por nós. Contudo, devemos reconhecer que é difícil discernir o que é bom e o que é mau, porque a tentação da aparência, da externalidade, corre o risco de estar sempre presente em nós.
No Santo Evangelho Marcos apresenta-nos Jesus em dificuldade, acusado de estar possuído por Belzebu; esta acusação chega-lhe dos escribas e, pior ainda, dos seus familiares, que o procuram porque acham que Ele está louco. Mas Jesus responde sem rodeios que quem faz a vontade do Pai é sua mãe e seu irmão. Esta história, porém, pode deixar-nos um pouco perplexos, mas é a própria Maria, a mulher que disse “aqui estou” no anúncio do anjo, aquela que fez plenamente a vontade de Deus. Nem sempre é fácil compreender o que Jesus diz. nos propõe e, às vezes, somos levados a dizer que o Ele nos pede é uma loucura, principalmente se cair nas modas de vida. Jesus também nos fala do pecado contra o Espírito Santo que nunca poderá obter o perdão: mas que pecado é esse? É negar a vontade salvífica divina, rejeitar a misericórdia com que Deus em Cristo chega ao homem, erradicando o seu pecado e libertando-o do mal. É a rejeição, sem reservas, da salvação que o Espírito Santo infunde.
Jesus oferece-nos a adesão livre e consciente ao seu projecto de humanidade para derrotar, com Ele, o reino de Satanás, o mal do mundo. Sabemos que este compromisso, capaz de ir contra o instinto, contra a corrente, é difícil neste nosso mundo. O cristão não é um optimista ingénuo, é antes um homem de esperança. Esperança que não é uma espera passiva, não é o sonho de mudanças aleatórias improváveis, mas a certeza de que o bem já está presente, é a capacidade de descobri-lo na realidade vivida, a disponibilidade para apoiá-lo e criar as melhores condições para que ele aconteça. surgir. Muitos cristãos estão bem integrados no mundo que os rodeia. O conformismo é uma atitude fácil e aparentemente vencedora, enquanto a coragem de manter-se fora das modas, dos hábitos, dos compromissos morais, dos negócios inescrupulosos e das medidas do bom senso parece estar perdendo; o conformismo envolve cada vez menos riscos de escolhas radicais feitas em consciência. Vale lembrar que aqueles que condenaram Jesus não foram grandes pecadores, mas homens religiosos, cheios de bom senso, pessoas que iam sempre ao templo, que davam esmola, burocratas e funcionários diligentes, guardiões diligentes e míopes da ortodoxia, que não toleravam que Jesus se colocasse fora de seus esquemas mentais, de suas tradições consolidadas. o modelo da tentação apresenta-se até sob a forma de um paradoxo. Um paradoxo muitas vezes não distante da realidade, ainda hoje. O inconformismo de Jesus surpreende os seus contemporâneos, especialmente aqueles que viviam na sua aldeia. Eles o viram “submisso” a José e Maria; obediente à Lei e activo, até mesmo assíduo, na frequência ao Templo. Agora eles o encontram desafiando os escribas e fariseus, contestando sua autoridade e muitas vezes ridicularizando-os; pregar a primazia da consciência sobre a lei e do homem sobre o sábado; reunir ao seu redor uma multidão imensa que levasse a sério as suas palavras. Muito menos foi suficiente para escandalizar os seus contemporâneos.
Pedimos ao Senhor que nos ajude a superar a condição de pecado inerente à nossa humanidade, para sermos sempre suas testemunhas na família, na sociedade, no trabalho, capazes de assumir as nossas responsabilidades e afastar de nós a tentação de culpar os outros.
Mas a mesma coerência e coragem devem ser exigidas da família. Deve ser o lugar onde a criança é educada em autonomia e responsabilidade. Ser autónomo e responsável significa ser capaz de realizar um projecto de vida: uma família que impede a criança de fazer as suas próprias escolhas não lhe presta nenhum bom serviço. Sempre o considerou um menor, incapaz de pensar por si mesmo e de se tornar verdadeiramente adulto. A ajuda que cada família pode dar aos seus filhos é ajudá-los a amar a justiça, mesmo que isso signifique ir contra a corrente e correr riscos. Jesus, mesmo em suas dores de parto, superou essa contradição. Um belo lembrete para os pais, formadores, superiores, educadores e responsáveis de actividades, empresas, comunidades.
Reflexão para a semana: Quais são as minhas tentações durante o dia…?
Desejo a todos e todas e a cada um abençoado final de semana
Ir. Pe. Alberto Sissimo, psdp