Continuamos a caminhada comunitária neste tempo pascal, Tempo de recolha dos frutos do ressuscitado que neste Domingo se apresenta como o “Pastor que guia o seu rebanho em todas as circunstâncias” e como luz; ambas imagens atestam a sua condição de enviado do Pai.
Neste Domingo as nossas reflexões têm como base os textos dos Actos 13,14-52, “Paulo rejeitado pelos judeus de Antioquia, começa a pregar aos pagãos”. Foi um passo decisivo na vida da Igreja; Apoc. 7,9-17, “ fala da multidão dos eleitos”; Jo 10,27-30, “As minhas ovelhas escutam a minha voz. Eu conheço-as, e elas conhecem-me. Dou-lhes a vida eterna”.
A tradição cristã afeiçoou-se à imagem do «Bom Pastor». É certo que nos ambientes actuais das nossas cidades, nas quais se concentram a maior parte das comunidades cristãs, as ovelhas quase que já não aparecem, e que a palavra “rebanho” evoca sobretudo a massificação. Mesmo assim, não nos custa perceber a ideia e sentir a força do apelo feito pelo texto evangélico de hoje. Deus quer ter com cada um de nós uma relação pessoal. Para isso nos enviou o Seu Filho quee nos conhece e nos chama pelo nome, como o pastor e cada uma das ovelhas. O texto de João nos sugere que o rebanho não é um lugar de sujeição, mas espaço da amizade: amizade entre as ovelhas e o Pastor e amizade entre as ovelhas entre si; a ida para esse espaço tem de ser fruto de um chamamento, por isso Cristo conhece profundamente os chamados e esses, por sua vez, conhecem-No. Por isso esse dia também é referenciado como o da jornada de oração pelas vocações, ou simplesmente «dia mundial das vocações»: a vida é «novidade» e «destino», é espaço no qual cada um se sente capaz de abrir caminhos para a doação da própria vida pelos outros. É necessário que se conheça quem chama, para se fazer o confronto entre o querer de quem chama e as capacidades, inclinações, tendências de quem é chamado.
Se se tiver em contas as verdades apresentadas pelo evangelista João, certamente sendo Pai, Deus há-de alegrar-se com as escolhas boas dos seus filhos: « a glória do Pai é que vós deis muito fruto» (Jo. 15,8). Certamente que , com a Sua Graça, Deus nos consolida de maneira a que sejamos verdadeiramente livres (Jo.8,32). Entre as muitas opções que são possíveis na vida, a Igreja pede que ousemos reflectir na hipótese dos caminhos consagrados mais imediatamente a Deus, como o sacerdócio ou a vida religiosa. Mas não há pretensão de se pensar que estes são os «bons caminhos» e sugerir que eles definem uma aristocracia na fé. Os bons caminhos só se definem pelo amor.
Todas as escolhas colocadas ao serviço dos outros se configuram como vocação, o importante é não ter medo de Deus e procurar buscar alegria e a própria realização na renúncia dos nossos egoísmos e dedicar-nos àquilo que se configura como «causa do Senhor e do seu Reito».
Que cada um dos baptizados se sinta um Pastor diligente para os seus irmãos presentes na comunidade e que com ele fazem a história do nosso tempo.